terça-feira, outubro 18, 2005

COMO TRABALHAM AS EDITORAS EM PORTUGAL

O negócio dos livros vai mal.
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Mas, em média, são publicados 46 novos livros por semana.
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A feira do Livro, a grande iniciativa, a feira de todas as feiras, não vende.
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Mas as editoras vendem directamente ao público, sem passar pelas distribuídoras e o preço é igual ao das livrarias.
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As pessoas não lêem.
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Mas quem andar de transportes públicos, vê as pessoas a lêr.

Então o que é que há de errado neste cenário?

Sinceramente, não sei. Mas sei que o discurso, marcadamente autista, por parte das Editoras é orientado para o culto do miserabilismo e totalmente inadequado à realidade.

Abstendo-me de entrar em detalhes, trabalhar com as Editoras portuguesas é um verdadeiro pesadêlo. Ou melhor, eu até posso generalizar um bocadinho e dizer com toda a segurança que, trabalhar com empresas portuguesas é pior que enfrentar o Freddy Kruger (Pesadelo em Helm street), o Jason Vorhees (Sexta-feira 13) e o assassino psicótico (do Texas chainsaw massacre), todos juntos. Porquê? Ora pois muito bem, porque para além de terem uma política de vendas que remonta, certamente, ao paleolítico superior, são também levadas a cabo por verdadeiros elos perdidos (a.k.a missing links... e andam os cientistas doidos à procura deles. Não andam é à procura no sítio certo, se procurarem nos departamentos comerciais das Editoras, encontram vários espécimes em diversos estágios de evolução... ou involução, consoante a perspectiva).

Isto é, as Editoras portuguesas - ao contrário das suas congéneres estrangeiras - não estão minimamente interessadas em vender. Ou melhor dizendo, não estão interessadas em vender aquilo que as pessoas querem comprar, mas estão interessadas em vender aquilo que elas acham que deve ser vendido (o que nem sempre corresponde ao que as pessoas querem comprar).

Por exemplo, as editoras estrangeiras, estão sempre interessadas em vender independentemente das quantidades e dos títulos, seja a grandes ou pequenos é tudo tratado da mesma forma. Para eles, um cliente é um cliente, independemente da sua dimensão, e vendem-lhes aquilo que eles querem comprar. São extremamente profissionais e expeditos.

Já no que respeita aos portugueses, o caso é diferente. Não só, os vendedores se comportam como se estivessem a fazer um favor ao cliente, como parece que não estão interessados em vender. Isto faz-me lembrar o episódio que presenciei ontem no IKEA.

Queríamos saber como funcionava o serviço que estes moços disponibilizam para as empresas, por isso enviaram-nos para o balcão de "Apoio ao Cliente" (aconteça o que acontecer, nunca vão a este serviço). Tirámos uma senha e ficámos muito contentes porque só haviam 3 pessoas à nossa frente (um engano, deixem-me dizer-vos). Estivemos 30 minutos à espera para ser atendidos e quando o fomos, para além da mocinha (de seu nome Natália), virar as costas enquanto falávamos com ela, conseguiu a proeza de nos dar as informações todas erradas. Moral da história, não usem o serviço de apoio ao cliente do IKEA, mas se tiver de ser, certifiquem-se que não é a Natália que vos atende. Mas a aventura não fica por aqui.

Em frente ao balcão do Apoio ao Cliente, há um pequeno balcão da Hertz (aqueles que alugam viaturas). Fomos lá perguntar como é que era para alugar uma (felizmente, não era preciso tirar uma senha). Atendeu-nos um moço, sentadito na sua cadeirinha, com o cotovelo apoiado na mesa e a cabeça apoiada na mão, com o ar mais enfadado da vida dele. Às tantas, no meio da conversa aborrecida, pergunta-lhe a minha amiga "Então e diga-me uma coisa, você não gosta de trabalhar aqui no IKEA pois não?", ao que o moço respondeu que até gostava (embora sempre na mesma posição). Ao que retorquimos em conjunto "É que não parece nada.".

E o que é que isto tem a ver com as Editoras? Tudo. O padrão de comportamento dos responsáveis pelas vendas é, exactamente, o mesmo. São eles que nos estão a fazer um favor e nunca o contrário. É a mesma coisa que entrar numa loja e ver os empregados sentados atrás do balcão, a comer ou a ler um livro. Com um ar enfandado, sem dizer nem bom dia nem boa tarde.

A desculpa do ganhar bem ou mal, não pega. Se não gostam de ali estar, então não estejam. Se precisam do dinheiro (muito ou pouco), então sejam profissionais. É claro que ganhar pouco não é, propriamente, a melhor motivação do mundo e eu quando comecei a trabalhar, também era explorado. Mas até hoje, foi - de longe - o sitio mais espectacular onde trabalhei (é claro que a maior parte das pessoas com quem trabalhava, não eram portuguesas). É claro que a esta altura já devem estar a pensar que não gosto de trabalhar com portugueses. E têm toda a razão. Detesto.

Em termos de trabalho, os portugueses vendem-se rapidamente às "paixões", são inconsistentes, incoerentes, invejosos e mesquinhos. São espertos, mas e daí também os cães. Falta-lhes a sustentabilidade. Não foi por acaso que publiquei, na entrada anterior, a notícia sobre o projecto "Interact". Este projecto é um exemplo, de algo que está a ser desenvolvido e que apesar de se estar a candidatar a fundos europeus, tem pernas para andar mesmo que não seja subvencionado pela C.E. Porquê? Porque foi construído assim. Porque não tem pés de barro e porque a pessoa que coordena o projecto, está perfeitamente consciente do trabalho desenvolve. Estas pessoas, são uma raridade e devem ser totalmente apoiadas, porque são estas que estão em risco de extinção em todos os sectores da sociedade.

No que respeita às Editoras portuguesas, a única coisa que posso dizer é: Não querem vender livros, ó amiguinhos! Não há problema. Há mais quem queira. Viva o Mercado livre! Viva a Globalização!

Tchau e um queijo!

12 comentários:

Miguel Pinto disse...

“Este projecto é um exemplo, de algo que está a ser desenvolvido e que apesar de se estar a candidatar a fundos europeus, tem pernas para andar mesmo que não seja subvencionado pela C.E. Porquê? Porque foi construído assim. Porque não tem pés de barro e porque a pessoa que coordena o projecto, está perfeitamente consciente do trabalho desenvolve. Estas pessoas, são uma raridade e devem ser totalmente apoiadas,[…]”

hummm… apoiadas por quem?

Anthrax disse...

Olá, olá Miguel, tá bonzinho?

Bem, este projecto em particular funciona numa parceria transnacional (até porque para se candidatarem a estes fundo comunitário específico, não poderiam funcionar de outra forma). Para além da instituição portuguesa - que a coordenadora e mentora do projecto - estão envolvidas instituições do Reino Unido, França, Espanha e penso que a Suíça também irá participar.

Também neste caso particular, o Prof. José Paulo Santos (que coordena o projecto), conseguiu uma coisa que a maior parte das pessoas (a.k.a professores), tem alguma dificuldade em conseguir e que foi a autorização para ser, única e exclusivamente, gestor de projectos do Centro de Formação de Professores de Entre Paiva e Caima. Isto por si só, é bastante bom, porque significa que ele teve o apoio do conselho executivo da Escola Secundária de Vale de Cambra, como também teve o apoio da DREN.

Mas isto não se fica por aqui. O trabalho e o empenho que este professor tem vindo a desenvolver, já suscitou a curiosidade e o interesse, quer de grandes empresas, quer das autarquias.

Por isso Miguel, desculpe-me que lhe diga, mas na minha opinião, a pergunta que colocou está errada. Porque quando pergunta "apoiadas por quem?", eu entendi (e atenção que posso estar errado), que está a partir do principio que "todos" deviam ser apoiados independentemente do mérito que tenham. E com isso eu não concordo. Este professor tem provado e tem demonstrado que é capaz de fazer as coisas acontecerem. Não anda a roçar o traseiro pelas paredes, à espera que lhe caia uma oportunidade do céu, nem anda à espera de fundos nacionais ou comunitários para levar adiante os projectos em que acredita. Ele cria as suas próprias oportunidades e vai atrás delas.

Isto quer se goste, quer não, não é para qualquer pessoa e muito menos para qualquer professor.

Miguel Pinto disse...

Olá Anthrax
É um prazer comentar por aqui!
Ao contrário do que pensou a minha pergunta está certa. Serviu para reforçar a sua ideia e enfatizar a iniciativa do colega José Paulo. Mais, a pergunta suscitou uma derivação para a questão dos apoios e demonstrou que todos os apoios têm rosto. Ufa.
Vamos lá clarificar esse princípio: "todos" deviam ser apoiados independentemente do mérito que tenham. Está a referir-se ao apoio às inovações [repare como o conceito é polissémico] e, no seu entender, nem todos os inovadores devem ser apoiados. Eu pergunto como é que o mérito dos “novatos” [e aqui não se trata de uma questão meramente etária] pode ser apreciado num quadro de recursos exíguo e sabendo que a prioridade dos apoios recai, sistematicamente, nos inovadores experientes?
Dirá: fosse este o problema. Que bom seria se as iniciativas inovadoras fizessem fila de espera…

Anthrax disse...

Olá Miguel,

Ok, nesse sentido percebo a pergunta. No entanto, creio que devo clarificar aqui uma coisa. O conceito de "Inovação" não passa pela reinvenção da roda e quem pensa assim, pensa errado. Mais do que inventar algo que não exista em mais lado nenhum do mundo, muitas vezes, inovar passa simplesmente por fazer diferente.

No que respeita ao como pode o mérito dos "novatos" ser apreciado. Bom, por experiência própria, isso pode ser efeito (caso contrário nunca teria chegado ao Prof. José Paulo Santos), mas também é verdade que os apoios (e aqui suponho que está a falar em termos financeiros), recaiem sobre os mais experientes. Há uma explicação para isso.

Por exemplo, no caso das TIC (que é a area que conheço melhor), os apoios são completamente dominados pelas Instituições de Ensino Superior e pelo Sector Privado. Os estabelecimentos de ensino secundário, estão no fim da lista. Porquê?

Bem, no caso das Novas Tecnologias, as nossas escolas (ao contrário do que muitas vezes querem fazer crer), não estão na idade da pedra, mas também não estão dispostas a dar o salto em frente. Isto é, as TIC hoje em dia já não são, fazer páginas de internet, mandar e-mails para os colegas e fazer apresentações em Power point. Isso já era, os temas em discussão são outros. E estes programas de apoio reflectem, exactamente, isso.

Para além disso, as escolas carecem de uma competência de validação cientifica que não acontece nem com os "Technology Providers", nem com as Universidades e a nível da gestão do próprio projecto (seja ele qual for), as escolas são extremamente fracas. São muito poucos, os estabelecimentos que são, efectivamente, competentes ao nível da gestão de projectos. Estou a dizer isto, não porque gosto de chamar "incompetentes" aos professores, mas sim porque os resultados são mesmo muito, muito maus.

Nós aqui lidamos com um pau de dois bicos. Por um lado temos por obrigação dar prioridade aos "novatos", por outro lado não podemos aprovar (nem a CE pode aprovar), todos aqueles cujo o objectivo é construir um website quando isso já foi ultrapassado em 2000 (se bem que a moda do ano passado, entre os Portugueses, era mais campus virtuais... é claro que foram chumbados porque campus virtuais já existem há algum tempo e não havia nada de novo no conceito).

Como o Miguel muito bem diz, os recurso são exíguos. Pois são, mas como dizem os americanos «Necessity is the mother of invention» e se não houvessem obstáculos, como é que poderiam testar as vossas competências? É assim, os organismos que atribuem subvenções não têm de advinhar que o "A" ou o "B" são bons e tiveram uma excelente ideia.

O "A" ou o "B" é que têm de demonstrar e de provar que o projecto deles é melhor que o do "C" ou do "D" e por isso deve ser aprovado. E aqui não pode haver margem para dúvidas, porque se há, pode significar a diferença entre ser-se aprovado ou ser-se rejeitado. As instituições portuguesas (mais concretamente os estabelecimentos de ensino), ainda não estão preparadas para enfrentar este tipo de "filosofia" e isto não é uma questão de dinheiro. Isto é, unica e exclusivamente, uma questão de atitude que vai desde os professores até aos representantes legais das instituições.

É claro que isto é um cenário dramático porque a grande maioria dos casos enquadra-se na descrição acima referida, mas atenção, há excepções. E eu gosto mesmo é de falar nas excepções, porque são essas que são bem sucedidas e podem ajudar outros a serem bem sucedidos. Por isso é que eu estou sempre a falar deste professor em particular e do seu projecto.

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

O amigo tem razão quanto às Editoras Portuguesas. Vou mais longe ainda. Uma pulga atrás de minha orelha me diz que em sua maioria, estas empresas são de fachada ou seja: servem de comprovativo de como conseguem dinheiro, perante o fisco. Sr. ministro das finanças, será que não está na hora de uma investigação?

Camilo disse...

CINCO ANOS depois...
Este comentário está ACTUALIZADÍSSIMO:
Eu acrescento:
As editoras portugueses, além de não quererem vender!!! só apoiam os amigos... que apenas vendem meia dúzia de livros aos familiares... quando da apresentação.
Mas elas -as tais Editoras-portuguesas, acham que assim é que está certo.
Entretanto, vão derretendo o dinheiro da sociedade.
E, condenados à falência ...
BREVEMENTE... TERÃO "NOTÍCIAS" MINHAS...
Camilo

Unknown disse...

Ola li comentarios e estou indecisa em fazer parceria com editoras portuguesas ou estrangeiras que me aconselham

Unknown disse...

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Unknown disse...

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Arthur Santos disse...

Caro amigo
Li o texto e recebi o queijo, muito obrigado)

No que rspeita às Editoras em Portugal, o cenário ainda é muito pior do que aquele que denunciou.

Há agora o fenómeno das pequenas Editoras. Há muita gente a escrever (felizmente... ou não!). Ora bem essas Editoras (se assim lhe posso chamar) cobram ao autor uma média de 900€ por 100 livros. Não fazem publicidade, não fazem distribuição, a maior parte das vezes nem fazem revisão do texto, nem lançamento da obra e nunca mais querem saber do autor.

Claro. já ganharam à cabeça, trabalhar para quê?

Pior ainda publicam toda a classe de lixo literário sem sequer proceder a uma leitura prévia. Conheço histórias de livros enviados de propósito com capítulos baralhados a não fazerem nenhum sentido e o "director literário" a responder dias depois (algumas vezes no próprio dia)que a obra é genial e que vai ser publicada.

Portanto o que fazer?
Conheço muitos autores (eu próprio) que vão por outro caminho: EDIÇÃO DE AUTOR. Fica por 1/4 do preço e o resultado é rigorosamenbte igual ao publicado numa dessas "editoras" e... com menos chatices.

Cumprimentos e dois queijos!