Confesso que já há algum tempo que me apetece escrever acerca desta iniciativa, até porque conheço algumas das personagens envolvidas no movimento, mas de facto estou mesmo é a aproveitar a boleia proporcionada pelo blogue do 'Eu Sei'.
Creio que foi lá para meados de Fevereiro, que recebi um e-mail a dar conhecimento desta iniciativa, e então o dito começava assim:
«Estou farto de ouvir dizer mal do meu país.» - Eu também, pensei.
«Os intermináveis telejornais exploram escândalos, desastres, desgraças e misérias. Os jornais acrescentam polémicas, crítica fácil e comentários negativos.» - É... de facto o jornalismo em Portugal anda pelas ruas da amargura. Não sabem escrever, não sabem falar, não sabem pensar, não sabem utilizar um raciocínio lógico, enfim, não sabem.
No entanto, peço a vossa atenção para o simples facto de que não estamos a falar de uns 'badamecos' quaisquer. Estamos a falar de indivíduos com um grau académico, pelo menos, ao nível da licenciatura. E daqui poderemos saltar para a responsabilidade das instituições que lhes fornecem o grau académico e para a responsabilidade das instituições que os contratam. Por isso, e apesar das deficiências que os jornalistas possam apresentar, a verdade é que eles só fazem aquilo que lhes é permitido fazer e que é hierarquicamente decidido por alguém responsável.
Mas continuando continuava o e-mail; «Da política à cultura, da economia ao desporto. Praticamente nada escapa. Nem ninguém. É como um vírus perigoso e contagioso. Os amigos, os parentes, os clientes, os concorrentes e os fornecedores estão contaminados. Os meus, os seus e os nossos. Os encontros começam pelo irritante “vamos andando” ou pior ainda “cá estamos”. Depois segue-se o queixume e o bota abaixo. A maledicência está instalada.» - É assim quando lemos relatórios onde constam indicadores, que demonstram que Portugal é o país da União com nível cultural mais baixo, onde a taxa de abandono escolar segue de vento em popa e que 80% da população tem o 9º ano de escolaridade, estão à espera do quê? É um virus perigoso? Certamente que sim, mas há uma vacina para isso.
«Desta forma não nos podemos queixar da crise de auto-estima. Todos falam dela. Está nos discursos oficiais, nas crónicas e nos comentários. Ninguém sabe exactamente o que é, mas a auto-estima tornou-se mãe de todas as razões. Temos então um inimigo. Se assim é, a primeira coisa a fazer é estudá-lo.» - Pois, é verdade... Nós temos uma verdadeira adoração por estudos. Passamos o tempo a estudar os problemas sob diversos ângulos e quando chega à parte de implementação, uns são acometidos de doença súbita, outros acham que isso é trabalho de escravo e esquecem-se que um projecto (seja ele qual for), não acaba na sua concepção.
«Temos que o conhecer para o combater. De onde vem? Em que contextos ou ciclos históricos já o encontrámos? Sociologicamente como se explica? Onde está instalada esta crise? Quem é mais afectado?» - E mais uma voltinha no carrocel... Mas afinal estão a gozar com quem? Na sequência do raciocínio que tenho estado a seguir, o que é que isto interessa a um tipo que tem o 9º ano e não percebe "um boi" destas perguntas?
Afinal a quem é que se dirige esta iniciativa?
É que os 80% referidos anteriormente, estão-se nas tintas para os contextos históricos e sociológicos. Esses 80% estão preocupados com questões muito mais mundanas, como seja o facto de saberem se vão ser despedidos ou não, se conseguem pagar a casita no final do mês etc, do que académicas. Calhando´- e já que há tantas empresas positivas associadas à iniciativa - que tal começarem por fazer um tour pelos Centros de Emprego (que nos dias que correm têm tido um sucesso brutal), e oferecerem postos de trabalho? Mas atenção, porque como há que fomentar uma atitude positiva, não vale adoptar a filosofia do 'é pouquinho mas é melhor que nada' no que diz respeito aos salários, até porque essa teoria para além de completamente inadequada à realidade, é de uma pelintrice pegada.
«Temos óptimos exemplos para dar e sucessos para partilhar. Temos excelentes gestores, brilhantes profissionais, grandes investigadores, invejáveis criadores, óptimos professores, espectaculares atletas. Temos boas iniciativas, importantes competências, dedicadas organizações, boas escolas e exemplares empresas.» - CLARO QUE TEMOS!! A maior parte deles está no estrangeiro, mas isso agora não interessa nada...
Mas gosto da parte que refere aos 'espectaculares atletas', espero que se estejam a referir aqueles que participam nos jogos Para-olimpícos e que normalmente são aqueles que - de facto - ganham sempre alguma medalha e não têm nem um terço do apoio que os atletas ditos 'normais' têm... Vendo bem as coisas, ora aqui está mais um campo em que as empresas positivas podem fazer valer a sua atitude 'POSITIVA'.
Também gosto da parte das 'organizações dedicadas'... é o que nós temos mais é organizações dedicadas, a quê exactamente é que eu não sei, mas o espectro é tão variado que se torna dificil escolher.
«Daqui desafio em primeiro lugar os líderes de opinião, os empresários e gestores, os homens da cultura e das artes, os jornalistas, os magistrados e os professores. Todos.
Todos podem intervir e participar.» - Ok, já estou a ver a quem se dirige...
«Vamos começar a dizer bem de nós próprios...» - Eu digo bem de mim próprio, digo é mal dos outros sempre que considero ser necessário.
«Não venham fazer ataques vulgares, não inventem estratégias ocultas, não criem mais teorias da conspiração. Contribuam antes com ideias, com factos e com acção. É Portugal que agradece.»
- Regra número 1 - quando se combate alguma coisa, nunca há ataques vulgares. Há ataques. Cabe a quem combate defender-se.
- Regra número 2 - quando se combate alguma coisa, as 'teorias da conspiração' são apenas mais uma arma, cabe a quem combate, desmontá-las e impedi-las de alcançar o objectivo.
Quanto a contribuir com ideias, já dei duas... três, se considerarmos aquela dos salários. Agora a parte do ser 'Portugal que agradece', já nos estamos a esticar um bocadinho, não?
E vou acabar por aqui... até porque tenho de ir trabalhar.
2 comentários:
Eu sei... Olha 'tás a ver, ora aí está mais uma actividade para as empresas positivas. Já que se associaram ao movimento, podem patrocinar material promocional e spots na televisão.
No entanto, é um facto que esta iniciativa corre o risco de se tornar num 'playground' para intelectuais e intelectuais 'wannabe's' com muito tempo livre nas mãos, o que até seria uma pena.
Mas olha gostei daquela coisa das mãos nos bolsos. Creio que reconheço o padrão de algum lado.
Caríssimo Anthrax
Excluído o facto de que mantém um peculiar estilo, que ainda me arranca uma boa gargalhada, como o (meu) tempo não tem dado para leituras «acessórias» (infelizmente)há que confessar que essa de um movimento positivo em Portugal me passou ao lado.
Será porque ando noutra, porque a informação foi pouca e irrelevante, ou só porque de atitudes positivas (em momentos de crise)não estamos mesmo nada à espera no porteguesinho da silva?
Pouco interessa, se a causa é própria; não direi o mesmo, se a informação pecou por «greve de zelo», porque temos de aprender a ser positivos, a olhar para o bom que temos (e temos, difícil é descobri-lo, com tanto ruído dos media da desgraça) a valorizá-lo e a sobre isso criar um espírito empreendedor, que nos tire de vez deste mau hábito de esperar que nos sirvam de bandeja, para depois dizermos mal daquilo que outros fizeram por nós.
É triste, mas somos um país da inveja mal dissimulada, dos que nada fazem para não serem criticados, dos que se perfilam para a fotografia e para a medalha, mas trabalho, que é bom, isso é para o vizinho do lado; e, depois, bota abaixo, que há que eliminar a concorrência.
Amigo Anthrax, a falta de tempo dá nisto - ficarmo-nos pela rama; mas que este tema tem pernas para andar, isso tem; bem sei que agora entra numa fase de grande stress laboral (Hi,Hi,Hi), mas explore mais os vários caminhos do nosso possível contentamento colectivo; não temos nada a perder com isso; e pense, mas sem cinismos, tá?
PS - agradeço este seu desafio ao «arrancar-me» segundos para uma «actividade terapêutica» de que estava verdadeiramente a precisar; eu e os que me aturam!começava a levar-me demasiadamente a sério... e, afinal, há que pensar positivo - a brincar sou bem mais suportável!
Enviar um comentário