quarta-feira, dezembro 15, 2004

TÁCTICAS DE GUERRILHA E MANOBRAS DE SUBVERSÃO

Ok uma vez ultrapassado aquele belo momento nostálgico, hoje vou falar-vos sobre tácticas de guerrilha e manobras de subversão. Porquê? Perguntam-me os menos esclarecidos. Porque ontem nas notícias estive a ver os protestos daqueles senhores de Canas de Senhorim que, há décadas pretendem ver a sua terreola elevada a Concelho e arranjam – sempre – umas formas muito bacocas de protestar. Assim aquilo que vou aqui defender é a ideia de que mesmo com poucos meios é possível protestar de uma forma inteligente, utilizando aquilo que o ser humano tem de mais precioso e que se chama cérebro... miolos... massa cinzenta.

No mês passado frequentei um curso de Técnicas de Comunicação em Público (um excelente curso, diga-se, todos deviam fazer um), e um dos tópicos abordados (e que achei fabuloso), era algo que se denomina por aceleração de tendências. A ideia subjacente a esta técnica (se a considerarmos enquanto tal), é o não-confronto e a sua aplicabilidade cobre, praticamente, qualquer situação senão vejamos; No outro dia fui aos correios enviar uma carta registada, para além da excelente organização que caracteriza qualquer serviço público, qual não é o meu espanto quando me apercebo de que a senhora que estava à minha frente e que pediu uma factura, teve de pagar um X adicional pela mesma. Fiquei para morrer!... Confesso que não achei nada normal, até porque é ilegal, mas o mais curioso é que a senhora pagou e não piou. Ora, como é que esta situação se poderia resolver sem insultar a senhora dos correios e ao mesmo tempo provocar um motim na dependência? Simples. Recorríamos à aceleração de tendências. Ou seja pagávamos o X adicional pela factura e logo a seguir pedíamos uma factura da factura. Consequentemente, teríamos de pagar mais outro X adicional pela factura da factura, logo mais uma vez pedíamos uma factura da factura da factura. Já estão a ver onde é que isto ia descambar não é verdade? Aposto que ao fim de 10 minutos, a senhora do balcão dos correios já estaria farta de passar tanta factura e as pessoas que estivessem à espera já estariam a bufar por todos os lados. Se quiséssemos levar as coisas a um extremo, só precisávamos de dois elementos essenciais. Levar a cabo a operação ao fim do dia (altura em que a maioria das pessoas já está cansada e com pressa de chegar a casa), e de um segundo indivíduo que começasse a reclamar em voz alta. Conclusão: Amotinávamos uma estação dos correios.

Mas isto tudo a propósito de Canas de Senhorim e dos seus protestos bacocos. Como sabem (e se não sabem ficam a saber), eu sou um grande defensor da lei e da ordem, mas não suporto ver GNR’s (ou qualquer outra força policial ), a bater em velhotes e afins. E quando vejo uma coisa daquelas nas notícias, não sei porquê, fico incomodado porque a imagem que transmitem é que as forças policiais estavam lá não para impedir o confronto e permitir a livre circulação dos camiões (como deveria ser o papel deles), mas sim provocar o confronto e só depois permitir a livre circulação dos veículos. Ora isto não pode ser, quanto mais não seja por uma questão de proporcionalidade de meios. Logo há que reequilibrar a coisa independente da legitimidade ou não dos protestos.

Numa óptica de confronto, as tácticas pacifistas à laia de Gandhi não funcionam se a ideia for impedir os camiões de passarem (mas funcionam lindamente se a ideia for fazer da população uns pobres coitados açoitados valentemente pela polícia). O que funciona muito bem são coisas como:

- Espigões na estrada;
- Buracos na estrada;
- Óleo na estrada;
- Etc.

Diriam os mais inocentes ‘Ah mas isso é muito perigoso’, ao qual eu responderia ‘Todas as profissões têm os seus riscos’, também ninguém diria que entre tantas profissões altamente perigosas a apanha de lagosta não-sei-aonde é a mais perigosa delas todas.

No entanto, numa óptica de não-confronto há outros tipos de protesto que não matam mas moem à brava (que requerem um pouco de investimento mas que dividido por todos sempre é melhor do que gastar dinheiro nas contas do hospital após uma carga policial), como por exemplo:

- Deixar de pagar impostos (Por esta altura já devem ter percebido que boicotar eleições não leva a lado nenhum, por isso atacar-lhes directamente o bolso é sempre uma boa opção);

- Enviar muitos faxes ao nosso alvo em folhas totalmente pretas (ou seja obrigá-los a gastar dinheiro);

- Dar-lhes cabo das comunicações (desde vandalizar fios de telefone ao envio de vírus informáticos o difícil é escolher);

- Inundar o nosso alvo com uma quantidade absurda de cartas (mas não é tipo uma de cada vez, é tipo tudo a chegar ao mesmo tempo);

- Soltar muitos animais na via (ocupa a bófia dando-lhes outra coisa para fazer e se eles tratarem mal os bichinhos ainda ficam com as Associações de protecção dos animais à perna);

- Se quiserem sentar-se no meio da via, certifiquem-se de que são simpáticos mas de que dão muito trabalho aos senhores agentes da autoridade. Os tipos do Greenpeace são especialistas nisto, têm uma espécie de cadeados, à escala, não sei se em ferro ou em aço que se ligam todos uns aos outros e que primeiro que os consigam tirar de lá aquilo dá uma trabalheira desgraçada;

- Pintar as paredes da residência oficial do nosso alvo predilecto com estrume fresquinho (os borrões secos podem ser removidos facilmente com uma pá, enquanto que os outros para além de cheirarem muito pior, dão muito mais trabalho para limpar). Também se pode despejar a substância na estrada, mas convenhamos que não tem tanta graça.

Enfim, há tanta coisa que se pode fazer com um pouco de criatividade e um pouco de organização.

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