quarta-feira, março 23, 2005

A IMPORTÂNCIA DO ALFABETO NO TRABALHO DE EQUIPA

Andam por aí umas criaturas iluminadas e abastecidas a central de carvão (algo que para além de altamente tóxico é também arcaico), que têm uma ideia muito curiosa sobre o que é trabalhar em equipa.

Para estes seres – “Touched by the hand of God” – trabalhar em equipa é utilizar as tácticas de futebol da personagem “Esteves” (personagem do ‘Tal Canal’ interpretada pelo nosso Herman José), que se desenvolvem na óptica do “1, 2, 3, tudo ao molho e fé em Deus”. É esperar que o Divino intervenha na Cidade Terrestre (para os menos entendidos façam o favor de ler a obra de Santo Agostinho “A Cidade de Deus”, e atenção ainda não está disponível a versão resumida), e lhes proporcione a Fortuna (enquanto termo entendido na totalidade das suas diversas acepções).

Ora, Myer Briggs – um dos grandes entendidos na matéria de Modelos de Personalidade, segundo alguns dizem – adverte que para formar e gerir equipas há que ter em atenção, para além das suas competências, as suas diferentes personalidades. É o saber gerir estes dois campos (o das competências e o das personalidades), que vai determinar se uma equipa é bem ou mal sucedida.

Por exemplo:

Aqui na instituição onde desempenho a minha actividade profissional, a palavra de ordem é: “Todos têm que trabalhar em equipa.” Eu acrescentaria; “quer queiram, quer não”. Estamos no Universo onde a vossa personalidade, não interessa um chavo e os vossos afectos, ainda interessam menos.

Dentro da equipa, não existe definição de papeis, todos fazem tudo e todos não fazem nada. A organização é deixada ao sabor de cada um, aplicando o principio – também descrito logo nas primeiras páginas do Livro “A Grande Ruptura” (se não estou em erro), de Francis Fukuyama – de que a sociedade tende para se auto-organizar. Quem diz a sociedade, em termos gerais, diz grupos sociais, comunidades etc, até chegarmos aos pequenos grupos tipo equipas. E sabem de uma coisa? Parece-me que é verdade. Mesmo os grupos mais pequenos, face ao caos, tendem a organizarem-se por si próprios. Auto-regulam-se, tal como alguns dizem em relação aos mercados.

Porém, a questão levanta-se quando na equação se coloca uma outra variável. Ou seja, quando aquele que gere as equipas verifica que os resultados esperados não são alcançados e responsabiliza directamente um elemento da equipa por um falhanço do próprio, não assumindo que se furtou a um trabalho que em primeiro lugar deveria ter sido seu.

Quem tem por funções gerir pessoas, sabe que à partida terá problemas. Não só porque tem de saber gerir competências (esse é o menor dos seus trabalhos), mas acima de tudo porque tem de saber, obrigatoriamente, gerir diferentes personalidades e afectos. Não se pode querer gerir eficazmente competências, sem saber gerir o resto. Estamos a falar de pessoas e como tal, uma pessoa não é composta por 100% de competências. Da mesma maneira que, não é composta por 100% de Q.I e 0% de Q.E. Este é um principio básico e ninguém deveria precisar de ler “O Erro de Descartes” para o saber.

Gerir o que quer que seja, mais do que todo o suporte teórico de origem académica, pressupõe o uso efectivo do senso comum.

Quando se analisam currículos, não é por acaso (ou não deveria ser, pelo menos), que existe um espaço para a pessoa identificar os seus gostos ou hobbies. Este constitui um indicador precioso quando se trata de analisar personalidades. E personalidades analisam-se quando se pretende formar equipas equilibradas e orientadas para o sucesso.

Os melhores exemplos de equipas que funcionam bem, como um corpo e de forma eficaz, vêm do ramo militar. Todos os elementos de um pelotão, sabem o que fazem, têm as suas funções perfeitamente definidas e estão completamente orientados para alcançar um objectivo específico. Seja numa empresa ou seja numa instituição militar, continuamos a falar de pessoas, mas a única diferença que existe entre as duas é que, no caso dos militares existe uma disciplina rigorosa que condiciona o comportamento de cada um e no caso da maior parte das empresas isso não acontece. Por este motivo, quele que gere equipas em contexto não-militar, tem de saber gerir pessoas com tudo aquilo que elas têm e podem oferecer, caso contrário é um mau gestor. E é um mau gestor por vários motivos, mas desde já porque:

- Se gere equipas que funcionam mal e mesmo assim alcança resultados satisfatórios então, das duas uma; ou não soube estabelecer objectivos e/ou sabendo estabelecer objectivos, viciou os resultados. Logo há alguma coisa que está mal.

Mas voltando a Myer Briggs, este desenvolveu uma série de modelos sobre a análise de personalidades e disponibilizou artigos (a.k.a instruções), que explicam as diversas combinações que decorrem da aplicação dos mesmos, usando para o efeito algumas letras do alfabeto.

E sabem que mais... eu acho que o homem tem razão.

2 comentários:

crack disse...

Meu caro, se bem consigo compreender o contexto, o desnorte que por aí vai tem muito a ver, com amadorismo continuado nas práticas, total falta de sensibilidade para as relações humanas e, agora, com medo, muito medo. Mistura explosiva, está-se a ver.
Há que ter calma, surfar a onda e esperar que a acalmia se instale; depois, voltará tudo ao princípio, mas é vida, lá dizia o outro.

Anthrax disse...

Amadorismo, não será esse o eterno problema dos Portugueses?

Mas sabe o que é que é pior? É que independentemente das tempestades, o consenso (e comprovado por uma auditoria recente), é que somos uma, das duas estruturas públicas com um funcionamento exemplar.

Temo, só de pensar como será o funcionamento das outras.