sexta-feira, julho 15, 2005

ESCOLAS NAVEGADORAS EM TERRA DE NINGUÉM - in Jornal Público de 11/07/2005

por Bárbara Wong

Anterior equipa do Ministério da Educação previa apetrechar 150 escolas até ao fim do ano. Mas hoje nenhuma estrutura assume responsabilidades directas sobre o projecto.
Que é feito do projecto Escolas Navegadoras, que previa a criação, até final deste ano, de uma rede de 150 estabelecimentos de ensino em que os alunos teriam computadores portáteis nas salas de aula e os quadros de lousa substituídos por outros interactivos? No final do ano lectivo, o PÚBLICO quis saber em que ponto se encontra o projecto. E se, no terreno, encontrou as primeiras escolas equipadas e a funcionar em pleno, a nível da tutela deparou-se com mais dúvidas que certezas.
O Ministério da Educação remete a responsabilidade para a Ciência e Ensino Superior. Este, por seu lado, atribui competências à Unidade de Missão, Inovação e Conhecimento (UMIC), cujo responsável não quis falar com o PÚBLICO. E do programa POS Conhecimento, a cujos apoios a UMIC tinha antes afirmado que iria concorrer, apenas afirmam que não há "nenhuma candidatura aprovada" .
O projecto-piloto começou a funcionar em três escolas - a básica de 1.º ciclo de Avelar e a dos 2.º e 3.º ciclos de Ansião (pertencentes ao mesmo agrupamento escolar) e também na Secundária de Arouca - , e o Governo de Santana Lopes previa que chegasse, até ao fim do ano, a centena e meia de estabelecimentos de ensino. Em Fevereiro, quando o projecto foi apresentado, a então ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra - no seu último acto oficial -, informou que era necessário abrir concurso público para dar seguimento à iniciativa e que este se realizaria depois das eleições.
Na altura, o dinheiro não parecia ser problema. Diogo Vasconcelos, da UMIC, a agência para a sociedade do conhecimento, declarou que estava previsto "financiar o projecto com mais 15 milhões de euros", através do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento (POS Conhecimento). Mas, cerca de cinco meses depois das eleições, pouco se sabe deste projecto. Segundo Roberto Carneiro, mentor das Escolas Navegadoras, cabe ao Ministério da Educação "a decisão sobre a oportunidade e calendário de alargamento da experiência a outras escolas". Mas o ministério diz que o projecto está no POS Conhecimento, sob a tutela do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. "Nada foi feito [na legislatura anterior] para concretizar esse programa", explica Ramos André, do Ministério da Educação.
"Nenhuma candidatura aprovada" Do gabinete de Mariano Gago, a informação é que as Escolas Navegadoras são um "projecto-piloto" da UMIC, de 2004. O PÚBLICO tentou contactar durante várias semanas o responsável da UMIC, Diogo Vasconcelos, sem sucesso. Entretanto, no POS Conhecimento "não há nenhuma candidatura apoiada", aponta Ana Mendonça, deste programa.
A Porto Editora, que colabora no projecto, está na "expectativa de saber onde pode actuar", revela Paulo Gonçalves, responsável do gabinete de comunicação da empresa. Para já, a editora forneceu conteúdos pedagógicos à escola de Arouca, onde a experiência está a ser "extremamente positiva", considera o assessor da empresa. Quanto ao estabelecimento de ensino de Avelar, a Porto Editora continua "sem saber" quais são as necessidades dessa escola.
O projecto Escolas Navegadoras tem como objectivo criar um "novo conceito" de acesso e partilha de conhecimentos. Na prática, cada aluno teria um computador portátil, com acesso à Internet sem fios; e os professores recebem formação para dar aulas recorrendo ao computador e a um quadro interactivo (que substitui o tradicional quadro de lousa).
Em termos pedagógicos, defende-se uma alteração no modo de ensinar, promovendo a aprendizagem cooperativa, de maneira a adaptar a escola à sociedade, através do uso das novas tecnologias.
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Ora aqui está um bom exemplo de como gente capaz, competente e com iníciativa é cilindrada por decisores políticos medíocres, vulgarmente conhecidos por "empatas" (no sentido daqueles que empatam).
No último Seminário que organizei - o tal sobre as TIC na Educação, no qual o número máximo de participantes (nacionais e europeus) era suposto ser 70, mas na realidade foram cerca de 100 (sem contar com os figurantes extra que acompanharam os seminaristas - tive o prazer de conhecer o Prof. José Paulo Santos (responsável por este projecto na Escola Secundária de Arouca).
Ao contrário do que possam pensar, estes Quadros Interactivos, não são dispendiosos. Mas os obstáculos que as estruturas levantam para a aquisição dos mesmos e para a implementação destes projectos, são uma verdadeira dor de cabeça e um teste à paciência do mais santo dos santos. Pessoas capazes, como o Prof. José Paulo, são normalmente vencidas pelo cansaço (aliás, porque não existe outra forma de vencer estas pessoas).
Ninguém dá valor a esta gente que se importa e que quer fazer alguma coisa. Estes são aqueles que quando se resolvem 'enfiar' nestes projectos, o fazem por pura 'carolice' (ou então um mórbido desejo de auto-punição), porque nunca ninguém lhes vai reconhecer o bom trabalho que desenvolveram e/ou desenvolvem. A estas pessoas, ninguém lhes paga o tempo pessoal que investem nestes projectos.
Enfim, fica registado.

3 comentários:

Miguel Pinto disse...

Muito bem. Subscrevo o texto na íntegra.
Mas, será que é possível [já que conheces-te o Prof. João Paulo] adiantar mais qualquer coisa, por exemplo:
1. Como é que este projecto foi recebido nas escolas piloto (alunos, professores, órgãos de gestão, comunidade educativa)?
2. Qual a lógica de funcionamento do projecto?
3. Quais os efeitos nas práticas pedagógicas?
4. A alteração no modo de ensinar sugere uma aprendizagem cooperativa: o perfil do professor é ou não relevante para a viabilidade do projecto?

Anthrax disse...

Poder, até podia, mas acho que a melhor pessoa para falar sobre este projecto é mesmo o Prof. José Paulo.

Sei que a experiência que têm tido em termos de resultados, tem sido bastante positiva. De qualquer forma, vou chamá-lo para aqui para responder às perguntas.

Virus disse...

Isso das novas tecnologias nas escolas não está com nada...o que vale é ser quadro da GALP. Não se faz nenhum...ganha-se muito...e sobretudo fica-se com uma antiguidade por contrato superior áquela que se tem de anos de trabalho, o que até dá jeito para a reforma! Acabei de tomar uma decisão definitiva relativamente à GALP...não volto a pôr uma gota de combustível deles no meu carro...antes dar o dinheiro aos espanhóis da REPSOL que à GALP...e esta hein Sr.Presidente???...