Nota prévia: Vocês não fazem ideia do tempo que passei à procura disto. Mas encontrei! De qualquer forma, não vou transcrever o artigo todo, limitar-me-ei às passagens mais engraçadas. Para os curiosos, podem encontrar a versão integral deste artigo, escrito pelo Prof. António Pedro Vicente da UNL, no livro; "New lights on the Peninsular war", International congress on the Iberian Peninsula, Selected Papers 1780-1840, Ed. The British Historical Society of Portugal, 1991, pp. 81-86.
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«(...) O estudo de Dulong, embora breve, retrata com algum pormenor a sua opinião sobre os mais variados aspectos relativos ao próprio país, à Lisboa, as características da personalidade dos portugueses, à economia, ao exército, ao governo, enfim aos costumes da sociedade portuguesa. Quase sempre crítico, muitas vezes injusto, as suas observações nem por isso deixam de ter o maior interesse. Assim considera que Portugal não é um país conhecido; os espanhóis e os próprios portugueses não o conhecem do ponto de vista topográficopois não existe um bom mapa de Portugal. Os que existem estão repletos de erros. Considera dificil e perigoso percorrer a província para aí levantar os planos necessários à elaboração de uma carta exacta do reino. Portugal é, ainda, para este nobre francês um dos países mais bárbaros e ignorantes da Europa. Não deixa, no entanto, de afirmar a decisão dos portugueses na defesa da sua independência, que considera como inatacável e invencível.
Afirma que o governo onde impera a desordem e anarquia, é influenciado por uma potência estrangeira e por ela dirigido. Dulong não concebe como a Espanha reconheceu a independência a uma parte essencial da sua península. O Marquês de Pombal, homem de génio, é por ele considerado o melhor governante que jamais teve o Reino. Para este oficial os portugueses são ignorantes, fanáticos, unidos por um sentimento de exaltação extraordinário. Os habitantes do Norte e, particularmente os de Trás-os-Montes, passam por ser os mais bravos do Reino e são ao mesmo tempo os menos civilizados. Na última campanha - refere-se à 1ª invasão francesa - cortavam o pescoço, da maneira mais brutal, indistintamente, aos desgraçados soldados doentes ou feridos que encontravam. Afirma, também, que os portuguese detestam os espanhóis, mas possuidores de barreiras naturais bateram-se sempre com sucesso em relação aos seus vizinhos. Considera os lusitanos em geral mais civilizados e mais bravos que os espanhóis mas, também, mais perigosos e dissimulados. Jamais se convencem - escreve - que o vencido está à mercê do vencedor segundo as leis da guerra e, por isso, deve alimentá-lo. Dulong julga muito estranho que tanto o aldeão como o citadinoe ainda os ricos entrem em desespero e furor sendo até capazes de assassínio por se lhes exigir, sem prévio pagamento um pouco de pão, de toucinho ou de vinho. (...)
Para o Conde de Rosnay, os portugueses ajoelham-se perante o vencedor para lhes implorar a generosidade e lhes conservar a vida. Um dia passado só saúdam o salvador e, ao 3º dia, já o tratam com desprezo e ironia insultante. No entanto, se novamente é maltratado retoma a sua atitude de subserviência. Quando estão sob influência do medo oferecem tudo o que têm. Uma vez passada essa situação rejeitam um copo de água e fecham a porta, mesmo aos que os protegem ou socorrem.
Observa a propósito que não sendo os habitantes generosos não podem crer na generosidade dos outros. Apesar de capazes das mais baixas humilhações são orgulhosos e exigentes. (...) Os portugueses são ainda mais presunçosos que os espanhóis. Gabam-se de ser os mais valentes, de ter a língua mais bela e de que o seu país é o paraíso terrestre. Afirmam que a sua nação é a mais civilizada e a melhor em todas as ciências, a sua corte a mais brilhante do mundo e os seus soldados de terra e mar os primeiros. (...)
Na esteira de outros franceses, Dulong considera que os ingleses governam Portugal, persuadindo os seus habitantes de que só o comércio lhes assegura a prosperidade e mesmo a sua existência. Os mesmos ingleses, "donos de Portugal", conseguiram com a sua política, fazer com que os portugueses abandonassem a cultura dos cereais e a substituissem pela vinha, comprando os seus vinhos a alto preço. Este oficial considera que os ingleses têm por hábito em todos os seus procedimentos arrecadar para eles própriostodas as vantagens e transformaram assim, uma nação que outrora se fez admirar, em fraca e ignorante, e por essa razão, sua tributária. Acrescenta aina nos seus considerandos sobre a economia do país, que o Alentejo produzia no passado, mais cereais do que era necessário para o consumo do país, mas os governantes cedendo à Inglaterra, entravaram esse tipo de agricultura para fazer florescer o comércio que trazia mais ouro para os seus cofres. Como resultado do tráfico dos ingleses e da imperícia da administração, Portugal importava mais de metade dos cereais necessários ao consumo. (...) »
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E agora, vamos fazer um exercício de liberdade criativa e vamos pensar no que é que, efectivamente, mudou desde 1810? ... Mudou alguma coisa nestes 195 anos ou só mudaram as moscas?
Deixo-vos com vosso exercício de meditação.
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«(...) O estudo de Dulong, embora breve, retrata com algum pormenor a sua opinião sobre os mais variados aspectos relativos ao próprio país, à Lisboa, as características da personalidade dos portugueses, à economia, ao exército, ao governo, enfim aos costumes da sociedade portuguesa. Quase sempre crítico, muitas vezes injusto, as suas observações nem por isso deixam de ter o maior interesse. Assim considera que Portugal não é um país conhecido; os espanhóis e os próprios portugueses não o conhecem do ponto de vista topográficopois não existe um bom mapa de Portugal. Os que existem estão repletos de erros. Considera dificil e perigoso percorrer a província para aí levantar os planos necessários à elaboração de uma carta exacta do reino. Portugal é, ainda, para este nobre francês um dos países mais bárbaros e ignorantes da Europa. Não deixa, no entanto, de afirmar a decisão dos portugueses na defesa da sua independência, que considera como inatacável e invencível.
Afirma que o governo onde impera a desordem e anarquia, é influenciado por uma potência estrangeira e por ela dirigido. Dulong não concebe como a Espanha reconheceu a independência a uma parte essencial da sua península. O Marquês de Pombal, homem de génio, é por ele considerado o melhor governante que jamais teve o Reino. Para este oficial os portugueses são ignorantes, fanáticos, unidos por um sentimento de exaltação extraordinário. Os habitantes do Norte e, particularmente os de Trás-os-Montes, passam por ser os mais bravos do Reino e são ao mesmo tempo os menos civilizados. Na última campanha - refere-se à 1ª invasão francesa - cortavam o pescoço, da maneira mais brutal, indistintamente, aos desgraçados soldados doentes ou feridos que encontravam. Afirma, também, que os portuguese detestam os espanhóis, mas possuidores de barreiras naturais bateram-se sempre com sucesso em relação aos seus vizinhos. Considera os lusitanos em geral mais civilizados e mais bravos que os espanhóis mas, também, mais perigosos e dissimulados. Jamais se convencem - escreve - que o vencido está à mercê do vencedor segundo as leis da guerra e, por isso, deve alimentá-lo. Dulong julga muito estranho que tanto o aldeão como o citadinoe ainda os ricos entrem em desespero e furor sendo até capazes de assassínio por se lhes exigir, sem prévio pagamento um pouco de pão, de toucinho ou de vinho. (...)
Para o Conde de Rosnay, os portugueses ajoelham-se perante o vencedor para lhes implorar a generosidade e lhes conservar a vida. Um dia passado só saúdam o salvador e, ao 3º dia, já o tratam com desprezo e ironia insultante. No entanto, se novamente é maltratado retoma a sua atitude de subserviência. Quando estão sob influência do medo oferecem tudo o que têm. Uma vez passada essa situação rejeitam um copo de água e fecham a porta, mesmo aos que os protegem ou socorrem.
Observa a propósito que não sendo os habitantes generosos não podem crer na generosidade dos outros. Apesar de capazes das mais baixas humilhações são orgulhosos e exigentes. (...) Os portugueses são ainda mais presunçosos que os espanhóis. Gabam-se de ser os mais valentes, de ter a língua mais bela e de que o seu país é o paraíso terrestre. Afirmam que a sua nação é a mais civilizada e a melhor em todas as ciências, a sua corte a mais brilhante do mundo e os seus soldados de terra e mar os primeiros. (...)
Na esteira de outros franceses, Dulong considera que os ingleses governam Portugal, persuadindo os seus habitantes de que só o comércio lhes assegura a prosperidade e mesmo a sua existência. Os mesmos ingleses, "donos de Portugal", conseguiram com a sua política, fazer com que os portugueses abandonassem a cultura dos cereais e a substituissem pela vinha, comprando os seus vinhos a alto preço. Este oficial considera que os ingleses têm por hábito em todos os seus procedimentos arrecadar para eles própriostodas as vantagens e transformaram assim, uma nação que outrora se fez admirar, em fraca e ignorante, e por essa razão, sua tributária. Acrescenta aina nos seus considerandos sobre a economia do país, que o Alentejo produzia no passado, mais cereais do que era necessário para o consumo do país, mas os governantes cedendo à Inglaterra, entravaram esse tipo de agricultura para fazer florescer o comércio que trazia mais ouro para os seus cofres. Como resultado do tráfico dos ingleses e da imperícia da administração, Portugal importava mais de metade dos cereais necessários ao consumo. (...) »
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E agora, vamos fazer um exercício de liberdade criativa e vamos pensar no que é que, efectivamente, mudou desde 1810? ... Mudou alguma coisa nestes 195 anos ou só mudaram as moscas?
Deixo-vos com vosso exercício de meditação.
5 comentários:
Tenho que ler esta obra. Aguçou-me o apetite com esta nota. Quando estive a lê-la lembrei-me de repente das descrições de viajantes estrangeiros. e, a propósito de um deles, presumo que era francês, mas não me recordo de momento do seu nome, afirmava que os portugueses eram sóbrios, não bebiam praticamente bebidas alcoólicas (aliás era uma prática saudável cultivada na corte e que os cidadãos copiavam). Quando os beberrões dos britânicos "invadiram" Portugal acabaram por transmitir os seus maus hábitos, além de estimularem a produção vinícola. O mesmo autor afirmava que um britânico comia carne de açougue e bebia álcool por três a quatro portugueses.
Os hábitos alimentares e comportamentais foram, sem dúvida, influenciados pelos corsários ingleses. Quem diria que um dos grandes flagelos que atinge muitos portugueses – o alcoolismo – tem, entre outros factores, um forte componente britânico?
ABERTURA DO TELEJORNAL - 4 DE JANEIRO 2006
" Foram encontradas mortas 4 galinhas e 1 galo a 50 mts da estrada nacional N.6, ao km 116.
As causas deste terrível acontecimento ainda se encontram por apurar, mas várias unidades da polícia já foram enviadas para o local, por forma a afastar a população civil do local desta grotesca cena enquanto se aguarda para esta noite a chegada de vários elementos da polícia cíentifica que irão recolher os dados possíveis com o objectivo de detectar qual o motivo desta chacina.
O cidadão Sr.António que encontrou os pobres animais perto da estrada foi levado de quarentena para análises laboratoriais e inquérito sobre a forma como encontrou os cadáveres dos malogrados galináceos e qual o seu grau de proximidade com os mesmos!
Contamos com imagens em directo do local assim que nos fôr possível estabelecer uma ligação em directo, via satélite, com o nosso correspondente no local...
Entretanto, no Irão a terra voltou a tremer, atingindo o sismo o grau 9,5 na escala de richter, causando mais de 275.000 mortos e arrasando completamente a cidade de Teerão... um momento... parece que o nosso repórter já está em linha... sim está sim... vamos então em directo para a EN N.6, ao km 116, saber exactamente o que se está a passar..."
Isto parece-me a mim que vai ser o Telejornal tipo dentro de algumas semanas... Só espero estar redondamente enganado...
CARO ANTHRAX COMO É QUE SE METE ISTO AÍ EM 1ST PAGE NO BLOG?
Fácil Virus.
Fazes o log in, directamente na página http://www.blogger.com/start Depois vai aparecer-te o ecran com os blogs e depois é só clicar no sinal + que diz "new post".
Caro Prof. MC, bom vê-lo por aqui :) Por acaso ainda ontem me falaram nesse livro dos viajantes e estrangeiros. Claro que fiquei de passar uma vista de olhos pelo livro e publicar aqui as passagens mais engraçadas.
E é verdade, no próximo dia 31 de Outubro, pelas 21:30 vamos inaugurar uma livraria nova no centro histórico de Oeiras, chamada "Folhas com História". É uma livraria que se dedica única e exclusivamente ao tema da História e da Ciência Política. Por isso, se tiver disponibilidade e interesse, teremos todo o gosto em recebê-lo.
Caro Anthrax
Há um livro da Minerva (Coimbra - 1992 - ISBN 972-9316-37-6) de Carlos Veloso sobre "A Alimentação em Portugal no Século XVIII nos relatos dos viajantes estrangeiros" que é delicioso.Aí pode ler coisas muito interessantes.
Dia 31 vou estar em Santa Comba Dão para a tomada de posse da Assembleia Municipal. Obrigado pelo convite. Espero visitar um dia.
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