quinta-feira, março 09, 2006

MAS AFINAL O QUE É QUE É O CHOQUE TECNOLÓGICO?

Ok, num dia em que os temas são ou a tomada de posse do novo PR, ou a vitória do Benfica sobre o Liverpool, esta pergunta vem no seguimento de uma troca de e-mails que tive, há uns dias atrás, com o meu amigo Crack a propósito da questão das novas tecnologias. E para concluir o tema mesmo antes de o começar, ambos concordámos que ninguém sabe o que é o choque tecnológico, mas lá que soa muito bem e fica muito engraçado sempre que usam a expressão nos telejornais, lá isso soa e lá isso fica (quando o termo é utilizado até parece que se trata de algo muito importante).

Se perguntarmos ao governo do que trata este choque, aquelas criatura vão encher-se de ar quente e vão proferir qualquer coisa idiota, à laia do “Vamos modernizar as empresas”. Eu olho para aquilo e digo: “Sim senhor. Então choque tecnológico é modernizar as empresas”. Exactamente amiguinhos, o choque tecnológico é modernizar as empresas, até porque a maior parte delas ainda funciona a ábacos e o pessoal precisa é de computadores de última geração para mandar e-mails, fazer apresentações de powerpoint e, pelo caminho, torná-las mais competitivas. Sim, porque caso não saibam se um computador pode tornar uma empresa competitiva, imaginem o que podem fazer 10 ou mesmo 100 computadores.

Pergunta: Porque é que vou tornar a minha empresa mais competitiva se o maior entrave à competitividade das empresas é o Estado? Estado esse que para além de arcaico e obsoleto só tem políticas fiscais de substância mole e cor acastanhada?

Portanto, choque tecnológico é modernizar as empresas... e é também criar empresas num dia. Fantástico! Isto é mesmo verdade. É possível criar umaempresa num dia... desde que se chegue às 08:00 da manhã e se saia às 17:30 da tarde (o fecho de expediente é às 16:00, mas com um choradinho consegue-se mais 01:30 h.). Não só é possível criar uma empresa num dia, como também só se consegue criar uma empresa por dia. Sim, porque depois só lá está uma pessoa a atender, com um computador à frente, mas por quem o choque tecnológico de certeza que não passou, nem deverá passar num futuro próximo. Além do mais, antes disso, talvez fosse mais inteligente passar por um choque de língua portuguesa e há falta de choques, um crash course também era capaz de servir.

Pergunta: Para quê criar uma empresa num dia, quando depois não se pode fechar uma empresa num dia também? Aliás, mas quem é que é o otário que quer criar uma empresa em Portugal?

Sim senhor... o choque tecnológico é modernizar as empresas e podê-las criar num dia, etc é muito bonito. Mas o choque tecnológico parece também ser algo transversal, isto é, não afecta só as empresas. Este choque também passa pelas escolas e assim, seguindo a mesma lógica das empresas, então o choque nas escolas será apetrechá-las com computadores para que todos possam enviar e-mails uns aos outros e para que possam fazer muitas apresentações de powerpoint.

Nota: Eu não sei se sabem, mas em Portugal entende-se que utilizar as TIC é trocar mensagens por e-mail, fazer apresentações em powerpoint, gravar CD Roms e para os mais tenazes, construir uma homepage em html utilizando o frontpage (estes são os que têm a mania que são génios e aqueles dos quadros interactivos nem entram na estatística porque já rebentaram a escala... esta foi gira).

Mas adiante, apetrechar as escolas com computadores é sempre uma ideia interessante, até porque todas querem ter um. O problema não é tanto colocá-los nas escolas mas sim, mantê-los porque isto, não será bem a mesma coisa que ter um computador em casa. Depois disso, ainda há que saber utilizá-lo de forma eficaz e para que este cumpra o objectivo para que foi comprado. Esta é, sem dúvida, uma das partes mais dificeis porque na maioria dos casos, o computador é utilizado como se tratasse de uma máquina de escrever. Ora bem, então se assim é, o que realmente precisam é de uma máquina de escrever e não de um computador. Quanto aos e-mails, assim como assim, mandem mensagens por sms. Mas isto não pode ser, porque se depois não têm um computador passam a ser denominados por “infoexcluídos”. E têm razão, são mesmo.

Ainda assim, nada disto explica o que é o choque tecnológico de que toda a gente fala. O principio é, na realidade, muito simples. O facto de se ter as coisas, não significa que se utilizem, nem tão pouco significa que se saiba utilizá-las ou utilizá-las com razoabilidade. Deste modo, o choque tecnológico de que todos falam parece-se um bocado com um túnel de vento.

4 comentários:

crack disse...

Só o meu amigo Anthrax, para retirar este "sumo" de uma conversinha incipiente! Já cá volto!

Anthrax disse...

Qual "sumo" amigo Crack?

Onde não há "fruta", não pode haver "sumo". E isto não tem ponta por onde se lhe pegue.

Miguel Pinto disse...

hummm... Choque?... ponta por onde se lhe pegue?... Faz sentido: quem é que se atreve a pegar na ponta na eminência de levar um choque? Arre… Observando esta estória do choque de um outro ângulo, um choque é uma coisa séria e pressupõe a reanimação de um moribundo... e o problema [como sugere o anthrax] é convencer o moribundo [estive quase tentado a dirigir o meu olhar para a educação e quase que me esquecia das empresas e da máquina administrativa] que o choque seria inevitável. Pois é! Assim não dá: É que ninguém leva um choque por vontade própria pensou com os seus botões o “nosso primeiro”. E não pensou mais: anunciou o choque [só para assustar o pretenso moribundo que é um farsante], convenceu a opinião pública de que há por aí um semivivo a precisar de ser reanimado e… Já está.
Tem sido esta a estória do choque tecnológico: Uma grande treta [como a estória que vos contei] que só serve para queimar o tempo de quem tem pouco tempo a perder.

Anthrax disse...

Grande Miguel! :)

Adorei o seu comentário, é que é isso mesmo. Está brilhante, a sério. Meus sinceros parabéns.