quinta-feira, abril 13, 2006

DECISÕES INÉDITAS

Ontem fiquei perplexo com a decisão do Supremo Tribunal sobre os maus tratos infligidos a pessoas portadoras de deficiência.
A sério... eu nem queria acreditar no que estava a ouvir.
Por principio, sei que Tribunal é = aplicação das leis, mas é diferente de justiça. No entanto, neste caso em particular Tribunal é = a aberração total porque considera aceitável, infligir castigos corporais a quem, à partida, tem uma consciência limitada dos seus actos e/ou comportamentos. Isto, sustentando a sua argumentação no aspecto de que toda a gente sabe que por motivos de educação, à vezes é necessário distribuir tabefes.
Pois bem, sabem que mais? Estou perfeitamente de acordo. A distribuição de tabefes funciona nos dois sentidos e pode ser aplicada a toda a gente em geral. Por conseguinte - e por razões exclusivamente terapêutico-pedagógicas - é aceitável que um pai, zeloso pela boa educação da sua prol, também distribua tabefes por outros agentes educativos uma vez que toda a gente sabe que a educação começa em casa.

4 comentários:

Miguel Pinto disse...

Eu não fiquei surpreendido. Esta estória levou-me ao meu segundo ano na profissão: Um encarregado de educação puxando os seus galões de juiz “exigia” que me fosse instaurado um processo disciplinar SÓ porque tive o atrevimento de classificar negativamente o desempenho do seu rebento. Recordo que no pedido de revisão da classificação o meu nome aparecia escrito a negrito vermelho e bem sublinhado. Afinal, os tempos não mudaram… É que as crenças e os preconceitos acompanham as pessoas pela profissão adentro. E isto é válido para todas as profissões!

Anthrax disse...

Caro Miguel,

Pois tem toda a razão. Mas eu fiquei surpreendido e acho que o juíz que fez essa deliberação devia ser despedido.

Quanto à sua história (sim, história, recuso-me a escrever "estória"), sabe que há pessoas que teimam em não aceitar a possibilidade de que os seus rebentos possam ser burros (embora o uso da palavra seja anti-pedagógico).

crack disse...

Amigo Anthrax, o problema é que, nos tempos que correm,a educação não começa, nem acaba, em casa. Direi mais, nem por lá passa. Portanto, antes de chegar aos agentes educativos, uns pares de tabefes nos pais ajudavam a resolver muita coisa, acredite.

Virus disse...

Num país onde o próprio Estado não apoia de forma alguma as crianças portadoras de deficiências, ou qualquer outro tipo de dificuldades, não me espanta nada.

Senão vejamos, existe nos Olivais (em Lisboa) uma dependência do Hospital Dona Estefânia dedicada ao apoio e acompanhamento de crianças que necessitam de apoio especial (por vários motivos), chamada UPI-Unidade de Primeira Infância.

O trabalho desenvolvido nesta unidade é feito em moldes algo bizarros, ou seja, de manhã é feito por profissionais pagos pelo Estado e a partir de uma certa hora (de tarde) é desenvolvido pelos mesmos profissionais nas ditas instalações, através de uma associação de apoio à criança mas é pago pelos pais que podem pagar, e em alguns casos que não podem pagar também!

Recentemente a Direcção do Hospital DªEstefânia mandou suspender as actividades desta associação e a entrada de novas crianças uma vez que estes serviços prestados pelos médicos e pelos auxiliares fazem parte da obrigação do Estado, sobretudo tendo lugar em instalações do Estado, logo é um serviço que deve ser gratuito para as famílias...CERTO!!!

Não...ERRADO!... De seguida a Direcção do Hospital Dª Estefânia quando questionada pela equipa que presta este serviço sobre os novos moldes de funcionamento e financiamento das actividades da UPI por forma a garantir que todas as pessoas continuassem a ter o apoio necessário para as crianças a resposta foi... NÃO HÁ DINHEIRO... LOGO SUSPENDEM-SE AS ACTIVIDADES...

Resumindo:
Os pais que querem ver os seus filhos apoiados no seu desenvolvimento, seja a pagar ou gratuitamente, não podem vê-lo porque o Hospital Dª Estefânia não dá dinheiro para manter a UPI em funcionamento, mas se os pais até quiserem pagar para que isso aconteça também não o podem fazer porque é um serviço gratuito que tem de ser prestado pelo Estado...só que o Estado não dá dinheiro para que o serviço funcione!

Se o Fernando Pessa estivesse por cá certamente diria "E ESTA HEIN?..."

Perante isto não me admira nada que o Tribunal tenha decidido o que decidiu...só serve é para aumentar a minha vergonha e tristeza de ser português... e dar graças a Deus porque os meus filhos são franceses (se bem que por lá as coisas também não andam lá muito bem)!