É verdade, ao contrário do que muito poderão ter pensado não estive afogado em trabalho, não tive falta de tempo, não tive uma síncope, não tive nada. Apenas estive de férias durante duas semanas. Não foi muito tempo, é certo, mas pude descansar, pude ler á vontade e pude pensar à vontade sem estar constantemente a ser interrompido. Desta maneira, cheguei a várias conclusões interessantes (do ponto de vista pessoal entenda-se) que agora passo a explicar.
Bom, tal como qualquer bom português, aproveitei os feriados para tirar umas fériazitas de 15 dias (essa história de mini-férias irrita-me por ser demasiadamente pindérico e demasiadamente proletário). Assim, enfiei os meus tarecos nas mochilas e mudei-me para Vila Viçosa, esperando disfrutar aquele belo sol alentejano.
Durante a primeira semana (aquela dos feriados), choveu, trovejou e ventou. Mas a coisa não ficou por aí, às páginas tantas aparece o Vírus com a mulher, os seus pimpolhitos e o cão. E agora pensam vocês, lá foi o Anthrax passar férias ao inferno. Mas não (embora tivesse havido alturas em que talvez parecesse), foi bastante engraçado e serviu para recordar as canções infantis que aprendi na escola primária. Também serviu para me recordar de um princípio básico; "Putos e piscinas são altamente incompatíveis" e tem de se estar sempre de olho neles, porque para além de não fazerem barulho quando lá caem dentro, numa fracção de segundos as coisas podem mesmo transformar-se numa tragédia. É claro que não foi o nosso caso porque ali estávamos nós, tipo gavião a pairar sobre a capoeira, mas - sublinho - estes acidentes acontecem, pelo que se deve estar sempre com muita atenção.
Após as aventuras da primeira semana, passámos à segunda (já sem vírus e sem miúdos, mas com sol e com cão). Esta foi a altura de ficar de papo para o ar a apanhar soleil a ver se ficava com um ar mais saudável. Pois, foi só até descobrir que desenvolvi uma certa alergia ao sol, razão pela qual passei o resto do tempo a coçar-me e cheio de borbulhas. Pensam que desisti? Nunca! Estava ali para apanhar sol e apanhei, só que agora tenho de ir a um dermatologista, ou então... ponho Fenistil e espero que as borbulhas passem. E esta, foi então a minha primeira descoberta.
A segunda descoberta penso que foi verdadeiramente terrível e já vão ver porquê. Bom, sempre fui contra a regionalização. Sinceramente, nunca me pareceu que Portugal tivesse dimensão suficiente para ser políticamente regionalizado. Sempre achei que os municípios constituiam uma estrutura política adequada à nossa dimensão e que criar uma estrutura política intermédia seria contraproducente no sentido em que estaríamos a criar mais burocracia, mais cargos desnecessários e em que o factor C seria o requisito fundamental das políticas de recrutamento, já para não falar em que as probabilidades de corrupção seriam manifestamente superiores às que existem actualmente. Além disso, não se choquem as florzinhas, mas o interior do país não está, propriamente e de um modo geral, populado de mentes tenazes e brilhantes.
E então o que mudou?
Bem, na segunda-feira passada fui a Badajoz (pelo que vos posso garantir que não somos os únicos que colocamos bandeiras nas janelas, os nossos hermanos também aderiram à moda). Aquela cidade aumenta de ano para ano a uma velocidade verdadeiramente inacreditável e aquela não é uma região propriamente rica e sem problemas. Quando comparada com a cidade de Elvas, Elvas é apenas um mosquitinho na traseira do elefante a quem já fecharam a maternidade e a quem vão retirar o quartel.
Estas políticas de canhonheira estão a matar o interior deste país.
No caso das maternidades, até pode ser que algumas das ditas não cumpram os requisitos estipulados pelos "especialistas"...
Nota: curto bué esta palavra "es-pe-ci-a-lis-ta", é muito especial e na maior parte das vezes torna um indíviduo normal num Supra-Sumo da batata só porque sabe aplicar um modelo pré-concebido e em tamanho único - que muitas vezes nem sequer é concebido pelo próprio - a tudo o que lhe aparece pela frente. Isto até nem seria dramático se não fosse tão imbecil, porque afinal toda a gente sabe o que é aconteceu às irmãs malvadas da cinderela quando experimentaram o sapatinho de cristal que não lhes pertencia e para quem não conhece o conto pode sempre recorrer à experiência de entrar na loja de roupa mais próxima e experimentar uma peça de roupa 3 números abaixo do seu para ver o que é que acontece. O problema do tamanho único é que não serve a toda a gente nem deve ser utilizado como modelo geral.
... mas uma unidade de saúde que é impedida de assegurar algo tão natural na vida parece-me um bocado complicado e não me venham cá com histórias da qualidade disto ou daquilo porque isso, na minha modesta óptica, é procurar chifres em cabeças de cavalos ou como os «amaricanos» diriam: Bullshit.
Honestamente, para fazer frente a isto, não vejo outra saída que não seja a regionalização. Cheguei à conclusão que é a única forma de impedir a devastação do interior. Os aspectos negativos que mencionei anteriormente continuam a existir, mas ou se aceitam e se lida com eles ou matamos definitivamente o interior. Como eu acho que o território Português não se limita à faixa litoral e como eu acho que os governos destes últimos anos só têm feito asneira no desenvolvimento do interior do país, pois tenho de me bandear para o lado da regionalização.
Para mim, ter de chegar a esta conclusão foi terrível mas enfim, há coisas bem piores e como para trás «mija a burra», a ideia é andar para a frente.
Gostei destas férias. Em Outubro há mais.
8 comentários:
o anthrax anda sempre na boa vida..austria, alentejo,férias..e depois ainda nos esfrega isso na cara!!shame on u, shame on u!!
É verdade... e livrei-me de ir a Vienna outra vez (ora não ia cancelar as férias para ir outra vez para a Austria para uma reunião).
Entretanto, já estava com saudades de insultar a nova Directora aqui do burgo e por isso não perdi a oportunidade assim que ela surgiu.
Não há dúvida que vem cheio de energia e de ideias.
Gostei da sua abordagem ao problema da regionalização. Não tarda e ainda acabo por aderir à ideia. Começo a estar farto da cidade SETUBRAGA.
Caro professor, vir cheio de energia também tem os seus inconvenientes :)))
Foi a algum custo que, ontem, não dei um "entoxe" nos srs. bófias municipais (nas suas próprias instalações), por me terem rebocado o carro (outra vez). Tive de me segurar e revêr mentalmente as razões pelas quais não se deve agredir agentes da autoridade. Tirando isso, infelizmente, eles tinham razão.
Mas adiante, quanto à questão da regionalização cheguei mesmo à conclusão que este modelo autárquico está esgotado, já não serve as populações e a Administração Central é incompetente para julgar as necessidades específicas de cada uma das regiões do país.
Tem de lhes ser dada a possibilidade de serem eles a promover o seu próprio desenvolvimento, a procurar o seu próprio caminho e a encontrarem as suas próprias receitas. Tal como as coisas estão, a administração central é, não só um empecilho no caminho deles como tem um efeito demasiadamente preverso. E se eles pagam um preço muito alto por isso (porque estão a morrer), nós aqui também (porque temos de os carregar às costas).
Pois, camarada Anthrax, tb já me dei a reflectir sobre isso, será que estou errado quanto à regionalização? Mas a resposta a que chego sempre é que não. Eu estou certo, regionalização não é resposta. Esta está noutro ponto.
Na realidade, não é porque se separa o país em zonas que vamos estar mais próximos dos cidadãos. Se assim é, não deviam os minicípios cumprir muito mais eficientemente essa função?
Não, o nosso problema não é a divisão geográfica do país, é a representatividade dessa geografia. A maternidade fecha porque a população dessa região não vale um pénis na democracia portuguesa! São poucos, são velhos, bem podem morrer ou vir morar para Lisboa. Eles podem reagir como? Com manifestações? Façam panfletos em papel macio e que não larguem tinta que assim podem mandar umas resmas para o ministério em Lisboa. Ou conseguem ter um marmelo que seja grande em Lisboa, ou um louco desbocado tipo AJJ ou, então, morram.
E se a câmara do deputados fosse EXCLUSIVAMENTE constituída pelos presidentes da câmara? Ponte de Lima sabe o que isso significa. O PS e o PSD também, por isso é que andam a engonhar há mais de dez anos com soluções ridículas de sistemas mistos que só naquelas cabecinhas limitadas é que faz sentido.
Claro que podemos regionalizar e esperar que nasça alguma coisa daí. Podem esperar sentados, mas podem esperar porque a nossa democracia é um franchising de trafulhice com sede em Lisboa e 308 franchisados que se chamam "concelhias". É feita de Lisboa para o país e não do país para Lisboa. Os "eleitos" são-no porque satisfazem Lisboa, não quem os cria.
A regionalização vai ser mais do mesmo. O nosso problema chama-se "Princípio da Proporcionalidade" que faz de Lisboa o que interessa e perpetua a ditadura dos partidos. A questão das maternidades é um perfeito absurdo porque se o ministro fosse coerente chegaria à conclusão que a solução mais eficiente seria construir UMA única maternidade em Lisboa. E é mesmo a melhor solução neste país que temos.
Queremos ter regiões prósperas? Mande-se os deputados às urtigas e ponha-se os presidentes da câmara no parlamento. Não queremos? Então faça-se a regionalização que o imbecil do beato Gugu queria fazer.
Anthrax, amigo:
1º - isto de se alentejanar sem avisar aqui no tasco cibernético não vale; todos os dias a ver o império do sol nascente a voltar deixa um crack muito down; portantos, raspanete e aviso SÉRIO: não volte a repetir a graça!(até porque isto sem si não tem graça nenhuma, essa é a verdade)
2º - quanto à regionalização, não é que não compreenda o seu ponto de vista, mas a minha costela alentejana atreve-se a perguntar: e se enfiássemos os nossos velhinhos oito séculos de nacionalidade no baú das recordações e pedíssemos um asilo regional à nossa vizinha Espanha? pois se até já vamos nascer a Badajoz... Pense nisso, tá?
Caros amigos,
Como viram, acabei de levar uma "testinha" do Crack como quem diz: "Plaft! E que isso não se repita!", toma lá que já comeste.
No que respeita à regionalização, honestamente, não é um tema nada simplex e nem pode ser levado de uma forma leviana e muito menos debatido com amadorismo. Eu tenho a perfeita consciência disso.
Também não é, atirar 8 séculos de história para o lixo. Mas, para haver evolução tem de haver uma mudança que não pode passar pela manutenção de um compromisso de paz podre. Tem de haver um caminho, previamente pensado, cuidadosamente planeado, com objectivos muito claros e controlados ao pormenor.
Mas como eu disse, não é um assunto que possa ser tratado com amadorismo e por muito boas ideias que se tenha, nem eu serei a pessoa mais indicada para discutir estas coisas, nem estou a ver quem possa ser.
Caro Anthrax,
Quero felicitá-lo pelo seu blogue, que só hoje conheci.
Escrevo-lhe da Beira Interior, onde o Blogue Beira Medieval relata o que por aqui se passa.
A questão da Interioridade e da Inclusão tem sido frequentemente debatida, numa perspectiva de aproveitamento de oportunidades na região.
Por outro lado, existe uma rubrica às terças feiras, designada por Inovação & Inclusão onde pretendemos sensibilizar os visitantes para as oportunidades do interior para o sector quaternário: Comunicação e Informação.
Apareça!
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