Diz o DN: "Portugal debate na ONU incidente com Austrália".
Em política diplomática, o que aconteceu ontem aos GNR's em Timor foi apenas um incidente.
Em termos gerais, o que aconteceu ontem aos GNR's em Timor foi, na realidade, um insulto a um país cuja unica coisa que, verdadeiramente, pode fazer é debater (além disso, o pessoal curte mesmo é debates).
Ora no post de ontem (que pouco tinha a ver com esta questão), tive oportunidade de me manifestar acerca da rapidez com que os nossos GNR's de estimação foram "deployed" em Timor, mas não tive oportunidade de explicar porquê. Assim, vou fazer isso agora.
A questão de Timor sempre foi uma questão deveras interessante ao nível da gestão da situação. 1º porque permitimos uma declaração unilateral de independência e abandonámos o território sabendo de antemão as pretensões da Indonésia (mas ei! a Liberdade tem destas coisas). 2º porque somos tão pacíficos, tão pacíficos, que somos incapazes de defender os nossos interesses de outra forma que não ir choramingar e pedinchar às Nações Unidas (note-se que pedinchar e choramingar é uma arte bem característica do povo português e daí que somos uns artistas).
Bom, mas adelante rocinante que muitos moínhos existem no horizonte!
Depois de décadas de lutas heróicas e independentistas, este jovem País consegue, finalmente, constituir-se como Estado soberano e independente (bom para eles! Parabéns!). Os portugueses, por bondade, generosidade, simpatia ou mesmo por complexo de abandono, associaram-se a esta vitória da democracia sobre o jugo tirano e brutal da Indonésia. Acedem prestar auxílio a este jovem Estado, mesmo sabendo que nem capacidade têm para se defender quando levam umas porradas dos pescadores espanhóis, sempre afoitos e aguerridos (querem eles aumentar a zona marítima... isto vai ser giro).
Sempre debaixo da égide das Nações Unidas (não vá o Diabo tecê-las e depois o pessoal fica agarrado), mandámos para lá uns srs. bófias (até porque pouco mais podíamos mandar) e ficamos todos alegres ainda sob o efeito da bebedeira da vitória da democracia. Quando chegou a altura (afinal o dinheiro não dá para tudo), mais uma vez demos de frosques, como o Robin dos bosques, e amiguinhos... continuem a mandar postais que o cenário é paradísiaco e o pessoal curte.
A coisa correu bem durante algum tempo, mas como é normal na juventude, meia volta há necessidade de andar às turras, faz parte do crescimento. Assim, à 1ª turra, chamam os amigos do costume, i.e. Portugal, mas quem é que lhes aparece? O vizinho Austrália (que de parvos têm muito pouco, apesar de não ser essa a 1ª qualidade que salta à vista). Estes amigos - que também são muito amigos de si próprios - enviam logo um contingente de 1200 soldados, mais blindados e afins. Portugal que, apesar da distância, está sempre cheio de boas intenções, envia meia dúzia de GNR's (que chegam antes do equipamento quando deviam chegar depois) e ficamos, outra vez, muito contentes porque respondemos a um pedido de auxílio (embora com 15 dias de atraso).
Bom, eu prefiro nem entrar pela discussão de se saber se os serviços de informação cumpriram o seu papel ou não, porque normalmente estes serviços cumprem sempre o seu papel. O que é normal falhar é a parte da gestão e decisão política, em tempo útil, da situação.
A política internacional é como um jogo de xadrez em que é suposto antecipar e estar-se preparado para enfrentar determinado tipo de eventos como, por exemplo, este e neste caso Portugal, não só falhou como colocou os nossos GNR's numa situação bastante delicada e humilhante (para eles e para o país).
A gerir situações internacionais desta maneira, é melhor arrumarmos as botinhas porque além de andarmos a fazer figura de parvos, não vamos ganhar o respeito de ninguém e da próxima vez que nos sentarmos à mesa com os australianos, quem tem a "upper hand" são eles e essa mensagem, digam o que disserem, ficou bastante clara.
Sem comentários:
Enviar um comentário