Quanto vale a vida?
Num momento em que as hostes se agitam a propósito da eutanásia, aproveito para vos relembrar de um pequeno detalhe:
- nas situações comuns do dia-a-dia, no que respeita ao valor da vida, costumamos fazer certos tipos de excepções à nossa própria espécie. Por exemplo, achamos correcto praticar eutanásia com cães e gatos abandonados, mas não com humanos abandonados.
Por outras palavras, costumamos colocar os seres não-humanos fora do âmbito da consideração moral.
A pergunta é, porquê?
12 comentários:
Por acaso eu não costumo fazer isso. Antes pelo contrário...
No entanto devo admitir que ficam fora dessa consideração moral os extremistas islâmicos...
Já agora permitam-me que acrescente o seguinte:
Julgo que a principal razão pela qual não temos a mesma consideração moral no caso dos animais se deve ao facto de para a maioria de nós eles não expressarem a dor ou a tristeza de uma forma compreensível e fisica tal como nós o fazemos. Aliás muitos de nós nem sequer compreendem essa expressão quando é emanada por outro ser humano, quanto mais por um animal que consideram inferior e incapaz de ter sentimentos.
Pois é, Anthrax, espero ser como o meu amigo, quando "crescer".
Eu que até compreendo que, em situações extremas, se peça o direito a morrer, no tempo da dignidade e da misericórdia, também temo que se vá abrir a caixa de Pandora. O tempo mostrará a que extremos chegarão os humanos contra a sua própria espécie, em nome da dignidade que a natureza da mesma merece.
Meu amigo, como sempre, na mouche!
Caro Vírus,
Os animais expressam a dor e a triteza de forma compreensível e física. Por exemplo, se puxar uma orelha a um cão, ele vai de certeza ganir.
Eles não verbalizam, mas a linguagem não verbal é também uma forma de expressão.
Caro Crack,
O tema não é fácil :), as fotografias só lá estão para enganar os incautos... Ou melhor, as fotografias não estão ali para enganar ninguém, as fotografias estão ali para que se pense um bocadinho, mesmo que seja por breves instantes.
Mas atenção, não se deixem enganar porque, eu sou a favor da eutanásia.
A resposta é dura mas simples: porque comemos animais. As imagens mostram os animais "lindos"...porque não a imagem de uma "fabrica" de frangos? Ou de vacas? Provavelmente um povo canibal teria o mesmo respeito pelos dois.
Tenho 3 gatos lindos de morrer e todos vieram da rua. Em relação à eutanásia é um assunto complexo porque às tantas não sabemos quantos filhos vão achar melhor o pai morrer para não estar (em) a sofrer. O pai porque é doente, o filho porque tem musculação à hora das consultas do pai.
devo confessar que pensei um bocado. julguei que o post era sobre o aborto.que sinceramente é um tema que me chateia.e julgo que a "provocação " do anthrax tem a ver com isso.acho que a maneira como se banaliza a questão da morte no que diz respeito ao aborto e á eutanasia é perigoso.como será com as pessoas que não tem capacidade de lobby , como por exemplo os velhos ?"deita-se fora"porque deixaram de ser uteis?este passo é muito sensivel e do ponto de vista moral/juridico/legal pode criar um precedente grave.
dito isto , devo dizer que sou sensivel a alguns dos argumentos da eutanásia.mas o facto de se utilizar a palavra "liberalizar" associada á morte , causa-me arrepios.
Caro rduarte,
«Portantos» se eu bem percebi, podemos praticar a "eutanásia" nos animais porque os comemos.
Então, mas o abate de cães e gatos nos canis e nos gatis não serve o propósito da alimentação.
Se a razão é só porque são vadios e a sua presença incomoda as pessoas que andam na rua, ou porque são um perigo para a saúde pública, bom... então, os "homeless" também podiam ser abatidos, porque incomodam e porque também são um perigo para a saúde pública.
Por isso, o motivo da alimentação, não serve para resposta à pergunta.
As fotografias são lindas, tem razão. Por isso é as coloquei no blog. Se não fossem essas, o meu objectivo não era cumprido.
Meu caro Menino mau,
Que mania que você tem de ser perspicaz! Cá estou eu, a construir o meu castelito de cartas, depois vem você «assopra-lhe» e diz que foi um ciclone que por ali passou. Está mal!
Bom, mas tirando isso, tem toda a razão. Pensou que isto era sobre o aborto e pensou muito bem, embora não esteja expresso de uma forma directa.
No meu ponto de vista, ambas as questões estão ligadas por um princípio que lhes é comum. Isto é, estão ligadas pelo princípio fundamental que é o direito à liberdade de escolha, ou seja, o princípio do livre arbítrio.
Todos indíviduos têm o direito de escolher aquilo que consideram ser o melhor para eles mesmo quando, em última análise, essa escolha se traduza na supressão da vida.
Esta é, sem qualquer dúvida, uma questão "lixada" de se debater porque coloca em confronto dois princípios fundamentais das sociedades democráticas ocidentais:
- Direito à vida
- Direito de escolha
Por um lado, o direito à vida é quase como que um direito divino que nos é concedido por algo que consideramos ser superior a nós. Por outro lado, o livre arbítrio, assenta na responsabilidade individual.
Agora pergunto, é ou não muito mais fácil aceitar um direito com características de "imposição divina", do que aceitar um direito que nos responsabiliza individualmente pelas escolhas que fazemos?
Caro Anthrax,
Como lhe disse os meus três gatos vieram do "canil" porque entendemos que não faz sentido comprar animais quando os estão a abater em vários canis. Repito: duvido que hajam animais mais bonitos que os meus!
Resta-nos o realismo ao invés da demagogia: o que fazer a esses animais? É a pergunta que deve ser feita. Durante séculos os gatos ajudaram as cidades a combater as epidemias. O outro lado da moeda é que reproduzem muito..que fazer? Vi um programa em que voluntários aplicavam programas de esterilização a animais de rua…era uma boa ideia.
Em relação ao aborto e como pode verificar no meu blog sou contra. A eutanásia é um assunto mais difícil. Se fosse possível garantir que a pessoa, lúcida, desejasse optar pela morte assistida para por fim à dor, seria de acordo. O problema de fundo (também com o aborto) é a banalização. E diga-me: as urgências estão cheias de velhos que os filhos lá deixam para não tomarem conta deles. Acha que esses mesmos filhos não “achariam” melhor o “papá” se ir de vez. Acha que muitos velhos, tenho essa possibilidade, e sabendo que estão a dar “trabalho” aos filhos não “prefeririam” morrer?
Não é essa sociedade em que desejo viver. Nenhum ser vivo é descartável. Mas, para lá da retórica, há problemas que têm de ser resolvidos…
Caro rduarte,
Animais mais bonitos do que os seus, só o cão do Tsunami que também era abandonado, e os cães do Vírus, que um deles também era abandonado (os outros dois foram oferecidos, por isso não contam para a equação). Também tivemos uma cadela husky que resgatámos e era lindíssima apesar de estar visivelmente maltratada, e tivemos um pequeno rafeirote chamado Scotty que - também resgatámos - durou apenas uma semana (morreu com esgana e o último fim-de-semana foi uma verdadeira tragédia passado numa clinica veterinária).
«Portantos», os seus gatos podem ser lindos mas, estes cães são e eram lindíssimos também. Tirando isso, também vi esse programa sobre os gatos, por acaso também achei que era uma boa medida.
Voltando à questão, não consigo interpretar e compreender este tema de uma forma banal. Daí que não consiga perceber o argumento da banalização. Eu acho tudo o que você acha dos «papás» e dos «filhos», mas também acho que cada um é responsável pelas suas acções e pelas suas decisões e ser responsável por isto implica aceitar as consequências, positivas e negativas, que daí advém.
Tal como tive oportunidade de referir, o livre arbítrio, pressupõe que o indíviduo escolha aquilo que é melhor para si. O princípio não pressupõe que um indíviduo escolha aquilo que é melhor para os outros, o que pode acontecer é um encontro de vontades.
Claro que nenhum ser vivo é descartável é uma questão de equilíbrio natural não é? Todos os seres têm as suas funções, mesmo quando morrem.
Claro que sim Anthrax. Presumo que estaremos de acordo em muita coisa; talvez na maioria.
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