Pois é, ontem estive a ver um pouco do Programa Prós e Contras na RTP1 e não posso deixar de aqui expressar a minha solidariedade para com o Professor Adriano Moreira. A forma como o trabalho da Comissãop Nacional de Avaliação foi achincalhado pela comunicação social (que, de um modo geral, devia ser a 1ª a ser chumbada pela quantidade absurda de asneiras que consegue dizer em menos de 5 minutos), foi inqualificável.
Avaliar o que quer que seja em Portugal não é uma tarefa fácil e é sempre susceptível de causar grandes polémicas. Tal como estou farto de aqui dizer, a perspectiva da avaliação em Portugal assenta sempre numa óptica de punição e não numa óptica de progressão que permita a correcção de eventuais desvios. Por isso, é muito natural que quando se pretende implementar qualquer modelo de avaliação se encontrem inúmeros obstáculos e resistências. E isto começa logo porque o ser humano está equipado, de origem, para se defender daquilo que percepcionar como ameaça externa. O nosso caso, é o mais puro exemplo de como a figura da avaliação é entendida como uma ameaça externa.
Ninguém gosta de ser avaliado e no entanto, avaliar é uma coisa que fazemos, naturalmente, todos os dias. De uma maneira ou de outra, é algo que está presente nas mais diversas situações do quotidiano, desde uma saída à noite com os amigos até ir fazer compras ao supermercado, ou mesmo quando se vê programas de televisão. Nós estamos sempre a avaliar-nos uns aos outros porque dessa avaliação depende a nossa sobrevivência e é neste instinto que reside o nosso melhor mecanismo de defesa.
O problema só se coloca quando se institui que devem ser outros a fazê-lo por nós e aqui é que a porca torce o rabo, principalmente, porque o sentido de consciência do próprio fica muito mais aguçado além de que, a percepção das suas próprias qualidades e defeitos fica muito mais apurada. Saber lidar com isto ao nível pessoal é um caminho muito mais tortuoso e díficil do que, simplesmente, accionar os mecanismos de defesa.
Aqui há uns anos atrás tive a oportunidade de trabalhar com americanos e ingleses. Até hoje, foi a melhor experiência profissional que tive. Ensinaram-me muitas coisas, entre elas a trabalhar em equipa, a trabalhar por objectivos e a assumir os erros que se cometem, porque errar é humano e só errando é que podemos progredir. Da mesma maneira que só é possível conhecer o sucesso se tivermos passado por situações de autêntico falhanço. Não há problema nenhum em falhar desde que se reconheça que se falhou, se reflicta sobre o que conduziu a essa falha e se corrija o desvio para que não volte a acontecer (ou pelo menos, para que as probabilidades de voltar a acontecer sejam reduzidas). Isto foi o que aprendi com eles.
Agora, imaginem o meu choque quando de repente vim trabalhar para um organismo público, onde todos são os "supra-sumos da batata" e nunca erram mas, when the shit hits the fan, anda tudo à procura de um bode expiatório porque são incapazes de assumir um erro.
Ontem, o que se passou no debate foi a mesma coisa e, basicamente, a coisa acabou a partir do momento em que o Ministro foi incapaz de explicar porque razão houve necessidade de recorrer a um estudo externo que, no fundo, repete tudo o que consta do relatório interno sobre a avaliação. É claro que houve outras coisas que foi incapaz de responder, nomeadamente, qual a relação do Processo de Bolonha com a Estratégia de Lisboa (estratégia esta que era suposto produzir resultados em 2010) mas, presumo que precise de pensar mais algum tempo para poder chegar a uma conclusão. E outro assunto, para o qual presumo que precise de mais algum tempo para pensar, é a questão da investigação uma vez que este implica uma revisão do estatuto da carreira docente por forma a que, de facto, passe a existir uma carreira de investigador.
Life's a bitch, isn't it? Então a de Ministro deve ser levada a pacotinhos de Ulcermin.
4 comentários:
muito bom anhtrax..
Grazie.
As "mentes brilhantes" têm destas coisas :)), quando menos se espera parece que têm um soluço e acordam.
não exageremoso com essa das mentes brihantes..
está bom!
;)
Um pouco de cooperação também não seria mau, tááááááá!
:)))
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