Chocante!
No outro dia, estava eu refastelado na minha caminha a ler um livrito quando, de repente, eis senão que... oiço uma notícia na SIC notícias dando conta que o "mulherio" português estava a ficar "anafadinho". Por outras palavras, as jovens mulheres portuguesas estavam a ficar obesas.
De facto, já havia reparado que as nossas jovenzitas estão cada vez mais cheiínhas - sendo que muitas delas chegam a fazer uma figura um pouco triste na rua - mas daí até serem obsesas ainda vai um bocadinho. Claro que se não tiverem cuidado enquanto podem, no futuro poderão ter um grande e pesado problema mas isso não quer dizer que não se esteja a tempo de fazer alguma coisa.
Por experiência de muita proximidade, não vos posso falar de obesidade mas posso falar-vos do contrário. Posso falar-vos de uma pessoa, desportista de competição, que já quando se dedicava afincadamente ao desporto achava que era gorda(embora tivesse 1,60 e pesasse 46 kg), mas como praticava uma actividade desportiva lá ía controlando a coisa. No entanto, quando chegou à altura de entrar para a universidade (e deixou de praticar desporto), a rapariga começou a achar que se tinha transformado numa pipa com dois olhos e uns bracinhos. Assim, sempre que o assunto vinha à baila junto dos amigos, as pessoas costumavam rir-se e achavam que a criatura estava maluca, mal sabiam que ela chegava a chorar por acreditar, piamente, que estava gorda. Isto, para ela, era um problema bem real e a imagem que via reflectida no espelho era a de uma pessoa gorda.
Os primeiros sinais daquilo que viria a ser a sua obsessão foram:
1º Uma mudança radical na maneira de vestir.
Vestia roupas escuras, da cabeça aos pés e peças muito largas. Aquilo chegava a ser um bocado tétrico mas a rapariga queria esconder-se o que é que se podia fazer?
2º Deixou de ir à praia.
Tudo o que implicava tirar alguma peça de roupa, era para esquecer. É que nem valia a pena insistir.
3º Passou a pesar-se todos os dias.
Tinha uma balança só para ela, escondida dentro do armário, e pesava-se de manhã à noite com uns intervalos pelo meio que correspondiam à parte em que tinha de ir para as aulas.
No que respeita à gestão da comida, ela até foi bastante esperta. Como não podia deixar de comer de um dia para o outro, começou por reduzir as porções que ingeria e vingava-se no café. Durante as primeiras duas semanas, parece que aquilo além de dar dores de cabeça, deu bastantes dores de estômago mas uma vez ultrapassada essa fase o que veio a seguir foi fácil. Passou a comer apenas o mínimo indispensável e dentro desse mínimo indispensável, independentemente de ser ou não saudável, e contava as calorias de tudo o que lhe passava pela mão. Se num dia, por algum motivo exterior à sua vontade, consumia mais calorias do que aquelas que estavam planeadas, no dia a seguir ingeria menos calorias para que tudo estivesse equilibrado. Mesmo assim, haviam determinados alimentos que estavam completamente excluídos daquela dieta. Eram mesmo proíbidos. Eram eles; o chocolate, os bolos, o açucar em geral. Estes eram fáceis de erradicar porque, por exemplo, num jantar em família nunca ninguém daria por isso.
Ainda assim, gerir as refeições em família nem sempre era simples e explicar, a verdade sobre, porque é que se comia pouco não era uma alternativa. Então, as desculpas passavam muito por justificações como: «Acabei mesmo agora de comer!». Quando as aulas acabavam tarde é que era uma festa. Nesse caso, bastava dizer algo como: «Não se preocupem com o jantar. Já jantei no refeitório!».
E agora perguntem-me, então e a moça emagreceu?
Emagreceu pois!
Escusando-me de contar alguns detalhes que raiam uma obsessão e uma demência estrondosa (e que podem incluir actos de auto-mutilação cuja ilustração é desnecessária), em pouco mais de 3 meses a criatura de 46 kg transformou-se num belo cabide humano de 36,5 kg que continuava a achar que estava gorda. Passava a maior parte do tempo cansada e tirá-la da cama era difícil. Os desmaios eram frequentes e as quebras de tensão também. A menstruação às vezes aparecia, outras vezes não aparecia, até que deixou, completamente, de aparecer. Médicos, nem vê-los!... Costumava perguntar se achavam que ela estava assim tão doente que precisasse de ir ao médico, além disso com as aulas e o estudar, a agenda estava muito preenchida.
Claro que um dia teve de ser. Foi mesmo ao médico.
Por sorte, estamos em Portugal e mesmo para marcar uma consulta num médico privado, a coisa não é de um dia para o outro. A maior preocupação dela nos 15 dias que se seguiram era a de que não podia aparecer no consultório do homem com aquele peso (imaginem que ele lhe pedia para ela se pôr em cima de uma balança! Era o fim da picada), se o fizesse ela achava que o médico ía pensar que ela tinha um problema. Conclusão, toca de fazer a dieta ao contrário para ver se ganhava um pouco de peso.
Em 15 dias se ganhou 1 kg já deve ter sido uma sorte mas, achar que enganava o médico dizendo-lhe que pesava 40 kg deve ter sido um bocado patético, embora se compreenda. Felizmente o médico optou por uma abordagem diferente e não por confirmar a veracidade da afirmação (que até a olho nú se via que era mentira).
Mas tudo se resolveu e de hoje em dia, a criaturinha até é bastante normal embora a questão da preocupação com o peso continue a fazer parte do seu comportamento.
Por isso vos digo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ambos os casos, são extremos e podem ter consequências muito negativas para a saúde e... meus amiguinhos, o Sistema Nacional de Saúde não está para brincadeiras!
"Whenever a theory appears to you as the only possible one, take this as a sign that you have neither understood the theory nor the problem which it was intended to solve". - Karl Popper
quinta-feira, abril 26, 2007
OBESIDADE vs. ANOREXIA
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3 comentários:
Caro Anthrax,
Parabéns pelo tema bastante actual e um pouco obeso no tamanho!
Confesso que também sou um pouco preocupada com o meu peso, acho que estou normal, menos uns 3 kilos seria o ideal. Mas não sou obcecada, mas o ano passado por esta altura pesava mais 10 kilos, mas foi um medicamento que me fez engordar, em 3 anos o meu peso já variou por duas vezes 10 kilos! Mentira há uns 4 anos devo ter perdido 15 kilos! Mas nessa altura estava mesmo gordinha, também era demais, agora já não me preocupo com isso! Mas tenho cuidado!
Agora, este é um problema que afecta muitas jovens e muitos pais não estão atentos aos sinais!
Cara Chevalier,
As variações de peso podem ter várias origens. Neste caso em particular, estou só a falar naquelas que dependem exclusivamente da nossa vontade tipo: os pais entupirem as criancinhas com junk food e passarem o tempo a dar-lhes bolinhos e bolachinhas para ver se elas se calam. Isso é errado.
No seu caso, ter engordado porque estava a tomar um medicamento presumo que se teve de tomar o medicamento foi porque precisava. Não se pode fazer omoletas sem partir ovos, não é? :)
E sim, os pais não estão atentos aos sinais. Na maior parte das vezes "nem vêem o padeiro", além de que se já é muito fácil enganar pais que costumam estar presentes, imagine o quão fácil será enganar aqueles que não estão presentes. Este caso que eu estava a falar, passou-se debaixo do nariz de pais que não estavam ausentes e no entanto nunca perceberam a dimensão do problema.
passei por aqui pra tirar algumas ideias pra a conclusao de um trabalho que estou a fazer para a escola e fiquei a saber muitas coisas neste site e noutros. nao desconfiava de metade das coisas.
Acho que tenho uns 2,3kg mas nao e de comer pouco, eu como de tudo mas eu sou assim nao engordo.
mas prontos.
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