Assim de repente, até parece que vos vou pespegar com um ensaio - ao qual devia anexar os gráficos da praxe elaborados com muito amor e carinho e cheios de linhas às cores - sobre a produtividade da função pública. Nesse ensaio teórico, o qual nunca passaria de um papel com escritos tendencialmente mal intencionados, identificaria um número razoável de bodes expiatórios, dos quais nunca fariam parte os Dirigentes (uma vez que seriam eles que me pagavam e nunca se morde a mão que nos alimenta, segundo dizem), que deviam ser colocados numa lista negra e aos quais deveria ser dada ordem de marcha logo que possível de modo a que não pudessem pôr em causa o bom funcionamento das instituições.
Isto até teria a sua graça se não se tratasse de uma palhaçada mas, como o é deve ser tratado enquanto tal. Sei que vos passo o tempo a falar dos dramas deste pequeno burgo onde exerço funções mas, tenham paciência, é o único exemplo que tenho (porque os outros pertencem ao sector privado e não são geridos por portugueses). Bom, de qualquer forma, para terem uma ideia do que actualmente produzimos digo-vos o seguinte; estou desde ontem a «jogar à batalha naval» com os meu colegas. Perguntar-me-iam vocês? O amigo não tem nada para fazer, não é?
Pois é, meus caros amigos, a resposta é que tenho pilhas de coisas para fazer e o equipamento não coopera, senão vejam o seguinte:
Na parte informática
- Não temos informático desde Fevereiro,
- A rede entra em colapso de 15 em 15 minutos,
- O servidor tem de ser reiniciado de 20 em 20 minutos,
- Os computadores não têm espaço em disco (logo, não temos outro remédio senão trabalhar na rede),
- Os computadores têm de ser reiniciados cada vez que a rede vai abaixo,
- Um computador demora cerca de 10 minutos a iniciar (quando não mais),
- Desde sexta-feira que não temos bases de dados (foi um ar que se lhes deu),
- As impressoras não imprimem (umas porque deram o berro, outras porque entopem com a quantidade de gente que dá ordens de impressão e outras porque esgotam os toners e não temos outros para a substituição, o que faz com que estejamos - pelo menos - 2 dias à espera que venha um novo),
Na parte Administrativa e Financeira
- O correio chega-nos com 3-4 dias de atraso,
- As transferências bancárias demoram cerca de 15 a 20 dias úteis a serem efectuadas (quando anteriormente demoravam, no pior cenário, 8 dias úteis),
- A direcção demora entre 30 a 60 dias úteis, após terminar o prazo de entrega, para despachar relatórios (sendo que já houve casos em que demorou 90 dias e quando anteriormente nós cumpríamos os prazos estabelecidos e quando isso não acontecia, procedíamos à entrega nos 2 dias seguintes),
- A direcção demora, em média 5 dias, para despachar informações pouco complexas sendo que este número aumenta exponencialmente consoante a complexidade do assunto (anteriormente, estas informações eram despachadas no próprio dia ou, no máximo, na manhã seguinte independentemente do grau de complexidade).
Conclusão, só à pala do mau funcionamento do equipamento informático, em cada 1 hora de trabalho nós perdemos entre 25 a 30 minutos (sendo que em várias ocasiões os 30 minutos seguintes são para re-fazer o trabalho que estávamos a fazer antes do equipamento colapsar). Isto significa, que em 7 horas de trabalho diário perdemos entre 175 a 210 minutos e quando chegamos ao final da semana já perdemos, pelo menos, 7.350 minutos (imaginem quanto é que isso dá ao final do mês, sem contabilizar a questão das bases de dados e as impressoras que não imprimem).
No que respeita à parte administrativa e financeira, que tratam de assuntos cuja nossa capacidade técnica de resposta está absolutamente dependente do trabalho de terceiros, toda e qualquer resposta que tenha de ser dada a correspondência que não nos chegue por via de correio electrónico segue, grande parte das vezes, com cerca de 35 horas de atraso (e isto é não considerando que já não damos resposta a correspondência cujo prazo de resposta já passou, para aí há 2 dias), porquê? Porque nós próprios recebemos a correspondência com cerca de 21 a 28 horas de atraso e se, se tratar de um assunto que possa ser resolvido, unicamente, ao nível técnico, nós no prazo de 1 hora respondemos. Se por outro lado, se tratar de um assunto que careça de uma decisão superior, bom... aí está a burra nas couves e o tempo de resposta pode, perfeitamente, ultrapassar as 35 horas.
Já no que toca à obrigação contratual de entrega de relatórios (de actividades e financeiros) à Comissão Europeia, a situação piora substancialmente. Na melhor das hipóteses, e porque não podemos ser nós a assiná-los (o que é uma pena mas, pronto, compreende-se), a direcção demora 1.050 horas a despachar um relatório com cerca de 40 páginas (e quantas mais páginas tiver, pior é), podendo este número chegar às 3.150 horas (após ter terminado o prazo de entrega, e aqui eu não estou a contabilizar o facto de que nós temos por hábito terminar os relatórios com, pelo menos, 14 horas de antecedência porque achamos que é tempo mais do que suficiente para proceder a correcções caso seja necessário).
Como isto já vai longo, eu nem sequer vos vou falar da parte financeira mas, da próxima vez que começarem a ouvir as historietas sobre a produtividade da função pública, ou de qualquer outra coisa relacionada com as instituições públicas, lembrem-se de que na maioria das vezes a falta de produtividade é um problema de gestão (ou da falta dela) e é a má gestão que vos gasta o dinheirinho dos impostos. Como podem ver, pelo exemplo que vos dei acima, cada um de nós aqui no burgo, em 7 horas de trabalho diário, perde 3,5 horas só porque o equipamento não coopera. A estas 3,5 horas, acrescentem aquelas que dependem do trabalho de terceiros e vejam qual é o nosso nível de produtividade actual (ficam logo a perceber a minha recente fixação nos TIR australianos).
Isto até teria a sua graça se não se tratasse de uma palhaçada mas, como o é deve ser tratado enquanto tal. Sei que vos passo o tempo a falar dos dramas deste pequeno burgo onde exerço funções mas, tenham paciência, é o único exemplo que tenho (porque os outros pertencem ao sector privado e não são geridos por portugueses). Bom, de qualquer forma, para terem uma ideia do que actualmente produzimos digo-vos o seguinte; estou desde ontem a «jogar à batalha naval» com os meu colegas. Perguntar-me-iam vocês? O amigo não tem nada para fazer, não é?
Pois é, meus caros amigos, a resposta é que tenho pilhas de coisas para fazer e o equipamento não coopera, senão vejam o seguinte:
Na parte informática
- Não temos informático desde Fevereiro,
- A rede entra em colapso de 15 em 15 minutos,
- O servidor tem de ser reiniciado de 20 em 20 minutos,
- Os computadores não têm espaço em disco (logo, não temos outro remédio senão trabalhar na rede),
- Os computadores têm de ser reiniciados cada vez que a rede vai abaixo,
- Um computador demora cerca de 10 minutos a iniciar (quando não mais),
- Desde sexta-feira que não temos bases de dados (foi um ar que se lhes deu),
- As impressoras não imprimem (umas porque deram o berro, outras porque entopem com a quantidade de gente que dá ordens de impressão e outras porque esgotam os toners e não temos outros para a substituição, o que faz com que estejamos - pelo menos - 2 dias à espera que venha um novo),
Na parte Administrativa e Financeira
- O correio chega-nos com 3-4 dias de atraso,
- As transferências bancárias demoram cerca de 15 a 20 dias úteis a serem efectuadas (quando anteriormente demoravam, no pior cenário, 8 dias úteis),
- A direcção demora entre 30 a 60 dias úteis, após terminar o prazo de entrega, para despachar relatórios (sendo que já houve casos em que demorou 90 dias e quando anteriormente nós cumpríamos os prazos estabelecidos e quando isso não acontecia, procedíamos à entrega nos 2 dias seguintes),
- A direcção demora, em média 5 dias, para despachar informações pouco complexas sendo que este número aumenta exponencialmente consoante a complexidade do assunto (anteriormente, estas informações eram despachadas no próprio dia ou, no máximo, na manhã seguinte independentemente do grau de complexidade).
Conclusão, só à pala do mau funcionamento do equipamento informático, em cada 1 hora de trabalho nós perdemos entre 25 a 30 minutos (sendo que em várias ocasiões os 30 minutos seguintes são para re-fazer o trabalho que estávamos a fazer antes do equipamento colapsar). Isto significa, que em 7 horas de trabalho diário perdemos entre 175 a 210 minutos e quando chegamos ao final da semana já perdemos, pelo menos, 7.350 minutos (imaginem quanto é que isso dá ao final do mês, sem contabilizar a questão das bases de dados e as impressoras que não imprimem).
No que respeita à parte administrativa e financeira, que tratam de assuntos cuja nossa capacidade técnica de resposta está absolutamente dependente do trabalho de terceiros, toda e qualquer resposta que tenha de ser dada a correspondência que não nos chegue por via de correio electrónico segue, grande parte das vezes, com cerca de 35 horas de atraso (e isto é não considerando que já não damos resposta a correspondência cujo prazo de resposta já passou, para aí há 2 dias), porquê? Porque nós próprios recebemos a correspondência com cerca de 21 a 28 horas de atraso e se, se tratar de um assunto que possa ser resolvido, unicamente, ao nível técnico, nós no prazo de 1 hora respondemos. Se por outro lado, se tratar de um assunto que careça de uma decisão superior, bom... aí está a burra nas couves e o tempo de resposta pode, perfeitamente, ultrapassar as 35 horas.
Já no que toca à obrigação contratual de entrega de relatórios (de actividades e financeiros) à Comissão Europeia, a situação piora substancialmente. Na melhor das hipóteses, e porque não podemos ser nós a assiná-los (o que é uma pena mas, pronto, compreende-se), a direcção demora 1.050 horas a despachar um relatório com cerca de 40 páginas (e quantas mais páginas tiver, pior é), podendo este número chegar às 3.150 horas (após ter terminado o prazo de entrega, e aqui eu não estou a contabilizar o facto de que nós temos por hábito terminar os relatórios com, pelo menos, 14 horas de antecedência porque achamos que é tempo mais do que suficiente para proceder a correcções caso seja necessário).
Como isto já vai longo, eu nem sequer vos vou falar da parte financeira mas, da próxima vez que começarem a ouvir as historietas sobre a produtividade da função pública, ou de qualquer outra coisa relacionada com as instituições públicas, lembrem-se de que na maioria das vezes a falta de produtividade é um problema de gestão (ou da falta dela) e é a má gestão que vos gasta o dinheirinho dos impostos. Como podem ver, pelo exemplo que vos dei acima, cada um de nós aqui no burgo, em 7 horas de trabalho diário, perde 3,5 horas só porque o equipamento não coopera. A estas 3,5 horas, acrescentem aquelas que dependem do trabalho de terceiros e vejam qual é o nosso nível de produtividade actual (ficam logo a perceber a minha recente fixação nos TIR australianos).
2 comentários:
espero que ao menos o amigo anthrax ganhe os jogos de batalha naval...
Nem me diga nada, menino mau. Na 6ª-feira passada, mandei umas cartas para aquela criatura infernal assinar. Hoje é 5ª-feira e continuo à espera que voltem para baixo.
Também continuo à espera que venha o toner para a impressora (que faltou na 2ª-feira).
A sério, vocês não estão a ver a palhaçada que isto é. :)
No outro dia, "a coisa" mandou-nos um e-mail avisando-nos que a CE ia fazer visitas de monitorização e a perguntar se tinhamos algum comentário a fazer. Olhámos uns para os outros e dissémos logo que tínhamos mas, que os iríamos fazer directamente aos senhores da Comissão (e este que está no post, vai ser um deles).
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