terça-feira, julho 17, 2007

1.618 - O NÚMERO DA BELEZA



No início do ano de 2006, ao burgo chegou a triste notícia de que deveríamos deixar as instalações da Parque Expo e mudarmo-nos, de armas e bagagens, para a 24 de Julho. Se aqueles houve que ficaram contentes, outros houve que consideraram tal decisão como um passaporte para o inferno. Eu, fui um deles. Somente um débil mental, com um Q.I de uma amíba e o sentido estético de um cabaz de cornos, é que algum dia pode pensar que uma zona portuária é um sítio giro onde se trabalhar e está cheio de gente bonita. Quer dizer... é que até os "bófias" que estão do outro lado da ponte parecem uns estafermos que têm umas "zundapp", bom... não sei se têm, mas parece. Se calhar até são simpáticos mas, uma pessoa corre o risco de se assustar.
Tudo à volta parece que está a cair (é como o burgo, está em derrocada), é aterrador. Debaixo das arcadas há uma cantina "low-cost", com uma iluminação amarelada, que parou no tempo. Há quem a considere muito vintage. Pessoalmente, considero-a decadente, deprimente e com o cheiro a naftalina entranhado nas paredes. As pessoas, no geral, enquadram-se no contexto. Têm o típico ar de funcionários públicos. Elas, normalmente, parecem umas sopeiras e eles parecem que vieram das berças a escorregar por uma tábua... quer dizer, os mais novos pertencem mais à categoria dos "geeks" e "nerds", mas não é por isso que o cenário é menos assustador.

Felizmente, foi feito um lifting aos edificios. É um princípio, mas há mais coisas que precisam de um lifting. Não é possível produzir o que quer que seja quando todo o cenário apela à depressão e uma pessoa passa o tempo em constante sobressalto, porque não sabe o que tipo de criatura, do bestiário, vai encontrar ao virar de uma esquina num corredor.

Está provado cientificamente que as pessoas bonitas têm uma maior probabilidade de serem mais bem sucedidas do que as demais, da mesma maneira que os atletas mais bem proporcionados têm uma maior probabilidade de ganharem competições. Assim, também não me espanta que aconteça o mesmo com o meio envolvente. Sabe-se locais mal iluminados criam maior insegurança, sabe-se que janelas com vidros partidos são um mau indicador, sabe-se que os grafitis nas paredes não indiciam liberdade de expressão artística, sabe-se que entrar num hipermercado pelo lado direito não é a mesma coisa que entrar pelo lado esquerdo, sabe-se que a disposição dos artigos numa parteleira afecta o comportamento dos consumidores, enfim sabe-se muita coisa, por isso também é lógico que ambientes depressivos e feios não contribuam, em nada, para a produtividade de uma organização.

Portanto, não me venham com a história que o que conta é a beleza interior porque, até nos contos de fada, os protagonistas são sempre, fisicamente, belos e os vilões são uns camafeus de fugir. Logo, a beleza interior acumula com a beleza física.
O importante é a embalagem, o resto é o que vem lá dentro mesmo que não seja nada de especial. E convenhamos, voltando ao exemplo dos "bófias", uma coisa são os "bófias" que andam nas bicicletas, outra coisa são os "bófias" gorduchinhos e de bigode que andam nas "zundapps". Em qual deles apostavam que corre mais depressa?... sem o auxílio dos respectivos acessórios. Outro exemplo, a parada militar do 10 de Junho. O desfile da Marinha foi aterrador. Acham que alguém acredita que aqueles marinheiros anafadinhos, de farda branca, em que os botões pareciam que iam rebentar a qualquer momento, servem para mais alguma coisa para além de lastro num navio? Os fuzileiros, menos mal, têm de ter consistência. Uma pessoa compara o desfile do 14 de Julho em Paris, com o desfile do 10 de Junho em Setúbal e tem uma coisinha má. Chega-se à conclusão que nem um mini-desfile militar fazemos como deve ser. Ora, a imagem importa e isto é uma coisa que o nosso "estimado" PM sabe muito bem, caso contrário não tinha a LPM a trabalhar para eles.

É claro que a imagem, por si só, não é tudo e só vai resistir até um determinado ponto, a partir do qual é necessário haver mais qualquer coisa que dê consistência á imagem. Quando não há, é uma gaita. Isto é válido tanto para coisas grandes, como para coisas pequenas e por isso aplica-se, também, aqui no burgo. Pertencer a este burgo só é interessante e estimulante se a imagem transmitida, para dentro e para fora, for forte. Se houver um sentimento de pertença com o qual nos identifiquemos e para o qual trabalhamos no sentido de fazer sempre melhor. Quando deixa de existir, passa a ser um grupo ao qual não se quer pertencer e estamos prontos para saltar para outra. Aplica-se também à Direcção do Burgo. Algum dia alguém, com dois dedos de testa, quer ser associado a uma criatura, que além de não ter uma beleza por aí além, ainda é incompetente? Não me parece.

Nós sempre fizémos grande sucesso nas reuniões em Bruxelas, nos Seminários europeus onde participávamos e naqueles que organizavamos, porque tínhamos dois factores importantes do nosso lado. O factor 1.618 e um nível de inteligência bastante razoável. Sabíamos muito bem onde queríamos chegar mesmo quando a doutrina divergia. Agora, somos uma zona de catástrofe. Assim, a ideia é saltar para outra antes que o factor 1.618 se vá. Não me dou bem em ambientes decrépitos e com cheiro a mofo.

8 comentários:

crack disse...

Caro Anthrax, e eu a pensar que aquele espécime alto e espadaúdo ainda se arrastava aí pelo burgo! Deixaram-no fugir? Tá mal, com aquele tipão, tinham o 1618 garantido!
:))
PS- Aquele buraco que se diz cantina ainda concorre a tasco de tango canalha? Pelo que conta, vejo que tudo continua à média luz... mas como nos andares mais altos anda tudo às escuras, no pasa nada!

Anthrax disse...

Esse 1.618 ainda por cá anda, agora está é um bocado partido e por isso está no hospital (acidentes de percurso, ser belo dói e deixa as suas mazelas).

Quanto ao buraco (a.k.a cantina "low-cost"), pois continua tal como diz. E nos andares de cima, de facto, no pasa nada! Aquilo ali "no pasa" nem a luz de uma velinha. E nós, a partir de 9 de Agosto, passamos a ser ilegais e sem Direcção.

Tá lindo!! :)

rduarte disse...

Anthrax, como eu o percebo. Trabalhei uns anos na Quinta da fonte, sitio que embora não sendo lindo é muito agradável. Com alguma verdura, pessoas bonitas, etc.

De repente a empresa mudou de instalações. Para onde? Cacem. Pior: estrada Cacem / Paço de Arcos. Um armazém que custa 20 % do outro ao lado do “Rei dos sofás”. Triste muito triste e a principal razão para estar à procura de emprego.

Boa sorte

Anthrax disse...

Credo!!

Isso é aterrador! Trabalhar ao lado de um sítio chamado "Rei dos Sofás" é terrivel!

Isso é mesmo deprimente.

Olhe, boa sorte para si também.

Virus disse...

Pá! Ó Anthrax... Aqui o colega rduarte teve sorte bem pior han?

Acho dificil superar esta!

Anthrax disse...

Por acaso o "Rei dos Sofás" não está fácil de superar... é que essa é mesmo lixada.

Mas, devo dizer que já vou para o "gulag" com outro espírito. Quando pensar que aquilo é mau, vou lembrar-me que o rduarte trabalha num sítio que ao lado tem uma coisa chamada "Rei dos sofás".

rduarte disse...

Ainda bem que por aqui me compreendem. A sério.

Até para os amigos é mau, vejam: antigamente dizia: trabalho ali na Quinta da fonte, perto da HP e da Cisco, ao lado da Merck.
Agora: Em Cacem…perto de São Marcos…a caminho da IC19, mesmo ao lado do “Rei dos sofas”… e é assim.

O resultado é sair já no fim de Setembro.

Anthrax disse...

É...
... de facto essa é mesmo tramada, nunca me aconteceu nada assim tão mau...

Essa só pode ser, eventualmente, superada pelo Tsunami, que passa o tempo a dormir em vez de estar aqui connosco, e que uma vez esteve a trabalhar num armazém em Alverca... mesmo assim creio que não terá aquela imagem do "Rei dos Sofás".