segunda-feira, dezembro 03, 2007

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A GREVE DA FUNÇÃO PÚBLICA NA PASSADA 6ª FEIRA

Consideração # 1: Dá muito jeito fazer greves à 6ª Feira. Não se ganha a diária mas, ganha-se um fim-de-semana prolongado onde se pode gastar o subsídio de natal. Pensam os dirigentes sindicais que assim aumentam o n.º de grevistas. Talvez seja assim. No entanto, o reverso da medalha parece-me bem pior e neste caso, o reverso da medalha consubstancia-se na descredibilização de um direito e de um instrumento que os trabalhadores têm para se manifestarem quando estão descontentes. Não é com vinagre que se apanham moscas e não é marcando greves para as 6ª Feiras e vésperas de feriados que se defendem, seriamente, os direitos dos outros.

Não pensem que sou contra as greves. Não sou. Sou apenas contra a desacreditação de um direito que nos assiste e sou contra a existência de sindicatos inoperantes que permitem a perca de poder de compra enquanto batem tachos e panelas só para a comunicação social. Isto, meus caros, não pode ser uma coisa séria e como tal, também não é possível levá-los a sério.

Consideração # 2: Para grande parte da sociedade, os funcionários públicos são o grande cancro do país. Concordo. O foco primário é o governo, o resto são metástases.

Relativamente a este aspecto, temos de admitir que o governo ganha aos pontos. E ganha aos pontos porquê? Porque joga com a volatilidade da Opinião Pública. Parece-me bastante lógico que, se numa entrevista de rua forem perguntar a um indíviduo que esteja numa fila para transportes públicos, há horas, porque estão em greve, que esse mesmo indíviduo não vá achar muita piada ao facto de ali estar. É claro que se estivesse do outro lado da barricada, poderia ter uma percepção diferente. De qualquer forma, tal como já foi dito por diversas vezes, o maior problema da Função Pública não são os seus funcionários mas, os seus dirigentes. Muitos deles até são boas pessoas, no entanto, por vezes têm o detalhe de não terem nem o perfil, nem a competência adequada aos cargos para os quais são nomeados. Depois, há também os trastes. Os que são absolutamente intragáveis e deviam ser enviados numa missão humanitária para as montanhas do Afeganistão ou, em alternativa, para os mercados de Bagdade onde a esperança média de vida é bem baixinha. Portanto, aquilo que a opinião pública vê nos Serviços Públicos são apenas os resultados da gestão de quem dirige. Contudo, como é o funcionário que está à frente, é este que passa por incompetente mesmo que não o seja.

Nota: Isto não significa que não existam funcionários incompetentes. É claro que os há mas, e daí, a incompetência e a irresponsabilidade são características transversais numa sociedade e podem encontrar-se manifestações das mesmas em diversos sectores que não, exclusivamente, o público. Logicamente, esta parte a opinião pública já não vê uma vez que tal seria admitir que todos nós temos falhas em algumas áreas e - como é sabido - em termos individuais, todos nós somos um espectáculo em tudo (se assim não fosse, como haveríamos de justificar o elevado número de treinadores de bancada?) são os outros que são burros. É claro que os outros também pensam o mesmo.

Consideração # 3: Dizia o jornalista de economia da SIC, o Programa Opinião Pública, que haviam muitos dirigentes na Adminsitração Pública, que o governo tinha conseguido reduzir o seu número e que isso era bastante positivo. Sim Senhor! Muitos aplausos para este feito inédito! Aplaudam e encoragem a bela merda que fizeram. A questão nunca foi a quantidade mas a qualidade dos mesmos e o problema é que se antes haviam muitos, agora há poucos e continuam a ser uma merda (maior do que a anterior, porque não conseguem dar conta do recado). Mas ei! Exactamente porque estamos a falar de uma excelente medida é que temos serviços na Administração Pública que estão absolutamente desgovernados e nos quais se assistem a coisas do arco da velha, no entanto, pouparam-se uns trocos.

Relativamente a isto, a única coisa que posso dizer é que; se querem fechar serviços porque há serviços a mais, então fechem! Mas assumam todas as consequências que advém do seu encerramento, incluindo as sociais. Tenham tomates e não se comportem como uns eunucozinhos invertebrados e irresponsáveis que acham que podem ter o melhor de dois mundos. Quando não dá, não dá e tenho a certeza que a população compreenderia, afinal as sondagens continuam a ser favoráveis ao governo.

Consideração # 4: À noitinha, apareceu um marmelo qualquer do governo a dizer que a greve não tinha tido grande expressão e que até as lojas do cidadão tinham estado a funcionar.

Amiguinho...

Espero que não pense que é a única criaturinha inteligente à face da terra. É claro que as lojas do cidadão não fecharam! A maior parte dos seus funcionários são contratados e não têm vinculo à função pública. Dependesse de mim e V.Exa. era um dos primeiros a encabeçar um grupo de missão humanitária para um qualquer mercado de Bagdade onde está mais quentinho.

Para concluir, não sou grande adepto de greves. Demasiado vermelho para o meu gosto. Sou adepto de formas alternativas de protesto, preferencialmente, aquelas que consomem recursos e/ou que se demarcam pelo seu carácter de desobediência. São muito mais engraçadas.

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