De facto, havia já alguns dias que não lia notícias parvas na nossa imprensa diária. Confesso-vos que, a páginas tantas e depois daquele momento inicial surpresa, começava a ficar um pouco inquieta.
Notem, a ausência de notícias parvas, ou melhor... a ausência de notícias aludindo a situações parvas deve ser, para o povo Português, motivo real de preocupação. Porquê? Porque nós, Portugueses, somos detentores do título mundial de situações parvas e se elas não existirem nós perdemos o título. Ora isto não pode ser! Sejamos bons em alguma coisa! Se situações parvas são o nosso designío, pois então que tiremos o melhor partido disso.
A notícia parva que li hoje era sobre os nove pilotos da TAP que, aparentemente, foram obrigados a frequentar um curso de Ética, devido à utilização da rede social Facebook.
Esta notícia apanhou-me de surpresa, sabem.
Porque me considero uma pessoa inteligente e minimamente informada (apesar de haver gente que pensa - sabe-se lá porquê - que não sei intrepretar legislação), digo-vos: esta notícia é uma séria candidata ao 1º lugar do ranking de coisas parvas. Porquê? Porque é preciso ser-se muito atrasado mental (perdoem-me as pessoas que genuinamente sofrem de uma deficiencia mental profunda) para se sancionar um trabalhador alegando informações publicadas numa rede social. Isso seria a mesma coisa que eu - que também tenho um perfil no Facebook - desatar a dizer mal do meu patrão (que digo e não precisa de ser no Facebook, vai no meu blogue mesmo) e mandarem-me fazer uma formação em 'Ética'.
Bom para começar, 'Ética' é algo que não deve constar do vocabulário do sujeito que sancionou dada a sua falta de escrúpulos em utilizar informação de carácter privado dos utilizadores para fins que, estou certa, não terão sido autorizados pelos seus autores. E para concluir, outra coisa muito importante é saber como é que o sujeito teve acesso à informação.
O Facebook, tal como as outras redes sociais, tem uma política de privacidade e tem mecanismos que permitem ao utilizador controlar o nível de privacidade pretendido. Assim, cabe a cada utilizador decidir se quer que o seu perfil seja público em geral, seja público para a sua rede, seja público apenas para os amigos. Pode escolher se quer ser visivel a quem o procura na rede social, pode escolher não ser visivel de todo e convidar apenas as pessoas com quem contacta pessoalmente e pode, igualmente, escolher o que é que se pode ver e o que é que se pode comentar no respectivo perfil.
Já ouvi muitas pessoas dizerem "ah! Está no Facebook é público". Não, não é público. É público para quem o utilizador definiu que era público, para todos os outros é privado e quem, de forma ilegítima, se apropriar de informação não autorizada pelo próprio autor está - pelo menos- a incorrer no crime de violação de correspondência ou de telecomunicações previsto no artigo 194 do Código Penal. Nem mesmo uma entidade patronal pode aceder a ficheiros ou e-mails no computador de um trabalhador identificados como pessoais. Pode sim, estabelecer uma política de comunicações mais rigida no que respeita à utilização dos meios informáticos disponíveis no local de trabalho, mas não existindo essa política deve gerir com bom senso as situações que decorrem da sua ausência.
O Facebook pode ser utilizado para fim profissionais (embora, consoante o caso, o Linked in seja o mais apropriado), mas não me parece que a TAP seja assim tão avançada em termos de cultura de empresa a ponto de utilizar uma rede social. De qualquer forma, há empresas cuja cultura passa por uma presença online, onde se inclui a respectiva presença nas redes sociais e isto quer na vertente destinada ao seu público interno, quer na vertente destinada ao público externo (por isso é que há pessoas - como eu - que podem ser contratadas para fazer a gestão do social networking), mas a maioria das empresas portuguesas ainda não chegou aí. Como tal, e por muito parva que esta notícia me tenha parecido, não me choca que a TAP não saiba gerir situações que decorram da actuação dos seus elementos nas redes sociais.
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