Nota: Este texto foi escrito no dia 31/01/2010, no avião para Frankfurt.
Extraordinariamente estou a escrever isto num vôo para Frankfurt que, por sinal, saiu atrasado. Não sendo - desta vez - por culpa da TAP, nem por culpa dos "estafermos" do pessoal de cabine (perdoem-me a designação de "estafermos", tenho a certeza que fora do local de trabalho serão umas excelentes pessoas mas convenhamos que a simpatia a bordo anda pela rua da amargura e eu só viajei na TAP porque, de facto, não pude fugir).
Bom, adiante, estava aqui distraída a ler a Revista do Diário de Notícias da edição de hoje e deparei-me com um artigo sobre um estudo que achei absolutamente excepcional. O artigo chama-se a "Geração copy/paste" e é escrito pela jornalista Helena Mendonça. Diz este texto que os estudos efectuados demonstram que os "nossos meninos" dominam perfeitamente as novas tecnologias enquanto instrumento de acesso à informação, mas a grande maioria revela-se incapaz de produzir conhecimento. Pessoalmente, não é algo que constitua grande surpresa para mim. Há algum tempo que defendo que não é possível pensar sobre o que não se sabe e as pessoas de hoje em dia estão formatadas para não fazer perguntas. Porquê? Não sei, talvez seja inconveniente, mas sei que não questionar é uma situação - em última análise - perigosa. Questionar parece ter-se tornado algo incómodo e isso vê-se nos locais de trabalho ou nos restaurantes quando não reclamamos se achamos que alguma coisa não está bem. Sem se saber muito bem porquê criou-se a percepção que as pessoas devem executar sem questionar, porque se questionam e porque querem arranjar sarilhos. Querem fazer coisas más. Causam transtorno. Enfim são uma praga terrível e então o que fazemos? Ensinamos aos "nossos meninos" que não é preciso pensar. Ou melhor, ensinamo-los a serem sofistas. Ensinamos-lhes a arte da retórica (que é isso que o novo tipo de ensino de língua portuguesa é) mesmo que os coitaditos não percebam "um boi" daquilo. Mal por mal, podem não fazer ideia do que estão para ali a dizer mas pelo menos usam palavras bonitas.
É claro que isto é apenas para contextualizar um pouco o que pretendo dizer seguir dado que uma das críticas que é feita pelos investigadores da FLUP e da CETAC, no estudo que deu origem ao artigo em questão, é a incapacidade que os docentes têm de articular os elementos da motivação dos alunos com a cadeira ou disciplina que leccionam. Bom, para fazer esta articulação não chega fazer cursos de formação contínua em temas sobre a motivação de alunos e coisas do género. Há também que ser criativo, libertar-se de dogmas e experimentar. Uma das coisas que me chamou a atenção neste artigo foi a chamada de atenção para a desdramatização da demonização dos jogos de computador e - por acaso - acho que têm toda a razão. Seria uma excelente forma de começar porque tanto na escola como nas famílias instalou-se a ideia de que jogar é entretenimento, é lazer.
Meus amigos, é verdade. Jogar é entretenimento, é lazer, mas também e um excelente meio de aprendizagem no qual se pode experimentar quase tudo. Eu sou uma jogadora - quase compulsiva - do famoso jogo da Blizzard, World of Warcraft e não tenho a menor dúvida de que é possível aprender inúmeras coisas através deste jogo. Através deste podem aprender-se coisas como:
- falar outra língua (os jogadores são oriundos de todos os cantos da Europa);
- trabalhar em equipa (absolutamente obrigatório se querem fazer dungeons);
- a identificar que dentro de uma equipa existem diferentes papeis e que todos são importantes;
- liderança (alguém tem de liderar a equipa dentro de uma dungeon senão é o fim da macacada);
- matemática (se querem ter uma boa personagem, bem equipada têm de fazer muitas continhas);
- economia (todas as cidades têm um auction house se querem ganhar dinheiro depressa percebem como funciona a curva da oferta e da procura);
- gerir conflitos (perguntem a qualquer guildmaster se deixam os membros da sua guilda insultarem-se uns aos outros);
- decidir (principalmente quando se está em grupo);
- a ter uma profissão e a dar-lhe valor (ai a quantidade de horas que uma pessoa passa ali a minerar só para chegar a 450... a ouvir pin, pin, pin... a correr em direcção a uma mina para depois haver um caramelo de nível 80 que chega lá mais depressa do que nós...)
... calhando, ali no "tasco" onde trabalho deviam fazer uma sessãozita de formação em World of Warcraft, se calhar ainda aprendiam qualquer coisinha... tenho a certeza que além de interessante, seria bastante didáctico.
De qualquer forma, para o comum dos mortais, aquilo é apenas um jogo com uns bonecos engraçados. Para os pais aquilo é um daqueles jogos sanguinários que devia ser abolido (por eles teriam um puto de 14 anos a jogar ao Noddy ou qualquer coisa assim) e para os professores bom... nem sabem o que é. Mas sabem... para aqueles que vêm para além do óbvio não é fácil compreender a complexidade de mentes simples que, por sua vez, estão cada vez mais espalhadas por todo o lado.
Finalmente, há uma outra coisa que este jogo nos ensina. Este jogo ensina-nos a ser avaliados de uma forma justa, objectiva e em função do papel que se desempenha numa equipa. Garanto-vos que é um mecanismo que põe a palhaçada que é o SIADAP a um canto e não vêem ninguém a queixar-se.
Á laia de conclusão, se têm putos que jogam World of Warcraft em vez de se porem aos berros para os miúdos desligarem o computador, joguem com eles. Pode ser que assim também aprendam alguma coisa.
Sem comentários:
Enviar um comentário