terça-feira, agosto 03, 2010

A CHUMBADA


Ora bem... bem sei que tenho estado muito caladinha com esta história de fazer comentários à política do país - não é por nada de especial é só porque a estupidez é tanta, as asneiras são tantas que às tantas uma pessoa já não sabe o que dizer mais - mas a propósito da questão dos chumbos, também conhecidos por retenção, não dá - grandemente - para ficar calada. Vamos lá a ver, esta nova ideia de se acabar com a retenção dos alunos é mais uma palhaçada no grande circo em que se transformou (ou transformaram) a Educação e a Formação profissional em Portugal. A não retenção do aluno é uma ideia proveniente dos Sistemas de Educação dos países do Norte da Europa, que funciona lindamente - lá está - nos países do Norte da Europa. Para funcionar em Portugal ter-se-ia, no mínimo, que implementar um sistema educativo nórdico de raiz e tal não é, verdadeiramente, possível porque para se poder implementar um modelo educativo nórdico tem de se mudar previamente uma série de coisas que têm impactos significativos em termos sociais e económicos. Só para terem uma ideia, uma das primeiras coisas a ir ao ar era - por exemplo - a questão da carga horária (que aliás é uma questão que é apontada por diversos especialistas europeus - incluindo especialistas nórdicos - como um mau exemplo e que não deve ser seguido por ninguém, mas há outros).

A questão da carga horária, por muito menor que à primeira vista pareça, acarreta consequências económicas para as familias e para as empresas tanto quando se aumenta como quando se reduz a mesma. Assim sendo este é um tipo de decisão que não se toma do dia para a noite, não é possível implementar medidas para as quais não existem as respectivas estruturas de suporte. Portugal não é a Finlândia, não tem as mesmas estruturas, nem condições Finlandesas. Nós estamos a anos luz daquilo que é a organização da sociedade finlandesa (e atenção que eu não estou a falar de cor). 

Deixem-me dar-vos mais uma ilustração, nós aqui em Portugal - e para isso basta observarem qualquer empresa portuguesa e/ou serviço público - temos muito a mania de que todos os empregados devem ser uma espécie de Jack-of-all-trades  isto é, são paus para toda a obra (nota: por isso é que a maior parte das organizações portuguesas são avessas, inclusive, à existência de um descritivo de funções detalhado), chamam-lhe multitasking , que até é um estrangeirismo giro e em português chamam-lhe o empregado multifacetado (que não tem tanta graça como em inglês). Ora, então qual é o problema do multitasking? Ok, além do facto de que só um computador com, pelo menos 2 processadores, é que consegue executar efectivamente mais do que uma tarefa ao mesmo tempo (porque naqueles que têm só 1 processador o que acontece é que as tarefas alternam em fracções de segundo, ou seja, não se realizam ao mesmo tempo), o multitasking aumenta consideravelmente a ocorrência do erro e tem implicações ao nível da produtividade - nota: esta cena está toda comprovada por uma série de estudos científicos que se iniciaram por causa das investigações sobre as causas dos desastres aéreos e que posteriormente foram alargados aos ambientes corporativos, por isso não se trata de nenhum produto da minha imaginação. Para os mais receosos em viajar de avião, nada temam! Efectivamente a  maioria dos desastres aéreos dá-se por erro humano e é consequência do que se designa por saturação de tarefas no cockpit - por isso algo me leva a crer que ninguém gostaria de viajar num avião cujos piloto e co-piloto estejam afundados em tarefas e o mais engraçado é que nas organizações passa-se, exactamente, o mesmo. A diferença é que quando um avião se despenha morre - literalmente - uma data de gente. 

Bom, mas a malta aqui gosta de contratar paus-para-toda-a-obra a baixo custo e depois queixam-se de que as coisas não funcionam, a produtividade é baixa, etc, etc, etc... andam a choramingar pelos cantos e tal, mas não fazem nada quando na realidade é uma questão de estratégia e de organização. Quando os recursos disponíveis não chegam, há sempre duas hipóteses: a) redimensionam a organização face à existência dos recursos disponíveis e reduzem o número de compromissos assumidos; b) investem na aquisição de mais recursos para dar resposta aos compromissos assumidos. Tentar responder a uma série de compromissos assumidos com recursos insuficientes é designado por chico-espertice, que é aquilo que nós - tugas - temos a mania que somos e a questão dos chumbos é apenas mais uma manifestação desta característica típica das pessoas com vistas curtas. 

No que respeita à posição lá da confederação de pais (ou lá o que é), deixem-me dizer-vos... a medida em debate é absolutamente imbecil e desadequada à realidade social e económica portuguesa, mas isso é algo que vão descobrir a longo prazo quando forem os vossos "meninos" a tomar conta de vós. A maior parte dos pais, considera-se actualmente em pé de igualdade com os professores só porque têm habilitações académicas superiores, mas não estão. Se estivessem eram capazes de distinguir entre aquilo que é a educação e aquilo que é o ensino, e tratavam de desempenhar as suas funções no âmbito da educação e deixavam as questões no âmbito do ensino para quem trabalha diariamente com elas. 

No que respeita à posição dos sindicatos dos professores... espertinhos.... nim, não é verdade? Muitos de vocês conhecem os sistemas educativos nórdicos e reconhecem a quase impossibilidade de os transpor para a realidade portuguesa. No entanto, ao dizerem nim deixam a porta aberta para reinvindicar uma série de coisas que sabem que, à partida, são necessárias inclusivamente em termos de carreira profissional. Não são parvos de todo não senhor, mas são inconsequentes porque estão a olhar para o vosso umbigo em vez de estarem concentrados em providenciar um ensino melhor. 

Para concluir vou apenas repetir algo que já aqui repeti anteriormente: que tipo de sociedade estamos a criar? Que raio de educação estamos a dar às gerações futuras? O que é que lhes andamos a ensinar? Eu não sei se são muito atentos, mas a mensagem que a malta lhes anda a passar é que é tudo bué fácil... 'bora fazer parte do elenco dos morangos com açucar... quando tiverem 40 e 50 anos vão fazer do elenco do quê? Passas com sumo de limão?  

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