Desde o passado domingo, pelo menos, que ali no centro comercial Twin Towers estão a fazer uma campanha para angariar fundos para a luta contra o cancro da mama.
Nada a opor. É perfeitamente legítimo estas associações conduzirem este tipo de campanhas e chamarem a atenção para uma doença que vítima inúmeras mulheres todos os anos e que, na conjuntura económica e financeira actual, torna o trabalho destas instituições difícil. Mas as coisas são assim. A vida está difícil para todos e não é com vinagre que se apanham moscas.
À pouco fui até ao supermercado para comprar umas coisas que me faltavam para o jantar e lá veio um senhor com o discurso do "quer dar uma ajuda para o cancro da mama?" ao qual eu respondi com um peremptório "Por agora ainda não" e a contra resposta mal humorada foi "Felizmente não precisa". Por breves segundos considerei a possibilidade de lhe responder à letra e à falta de humildade de quem pede, mas optei por me calar e seguir caminho pois podem existir inúmeros motivos pelos quais o senhor me deu aquela resposta e que, para mim, são desconhecidos.
Confesso-vos que me foi difícil ficar calada, tenho um temperamento inflamável e às vezes as palavras soltam-se mesmo sem pensar, mas a verdade é que se lhe tivesse respondido na mesma moeda teria apenas contribuído para o agravamento do seu mau humor e ninguém iria para casa mais feliz.
Não dei porque não posso e quando posso a minha solidariedade obedece a regras, a prioridades que defini exactamente porque não me é possível ajudar todos ao mesmo tempo e a primeira regra delas todas é ajudar a combater a fome de crianças e idosos. Porquê? Primeiro porque saco vazio não se aguenta de pé e segundo porque as crianças e os idosos são os segmentos da população mais vulneráveis.
No passado sábado contribuí, como pude, para o peditório das Irmãzinhas dos Pobres porquê? Porque não estavam a pedir dinheiro, estavam a pedir comida e outro tipo de produtos (como sacos do lixo por exemplo) e porque trabalham com pessoas idosas que a sociedade actual esqueceu. Não me quiseram impingir pins, ursinhos ou t-shirts. Entregaram-me apenas um papelinho com o tipo de bens que necessitavam e digo-vos, aquele papelinho teve muito mais força e muito mais significado do que qualquer artigo de merchandising barato. Não sou católica, como costumo dizer: "Eu sou tudo e não sou nada", mas o que aquelas Irmãzinhas desconhecem é que me fizeram sentir muito feliz no sábado e isso vale mais do que qualquer t-shirt, pin ou ursinho.
Aliás, não consigo perceber a partir de quando é que - algumas associações - acharam que vender merchandising (porque na realidade é disso que se trata estas angariações de fundos) era uma boa maneira de arranjar dinheiro. Terá sido a história do Pirilampo Mágico? Amiguinhos... Pirilampos à parte, nos tempos que correm, não vos auguro grande futuro na venda de brindes. Isso é mais digno dos grandes falcões humanitários para quem a solidariedade é apenas mais um negócio.
A verdadeira solidariedade não está à venda e não se compra com... pins, ursinhos ou t-shirts. Averdadeira solidariedade é aquela que vem do coração e nos deixa felizes apenas porque nos deram um pedacinho de papel.
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