quinta-feira, janeiro 27, 2005

A PROPÓSITO DO ESTADO DA EDUCAÇÃO

No passado dia 25/01 o programa dos Prós e Contras, da RTP 1, era a propósito da educação. No painel dos partidos políticos ali representados estavam, o Dr. Manuel Canavarro do PSD ( que tem um ar absolutamente tétrico e vem da área da psicologia e eu tenho de confessar que se tivesse um psicólogo daqueles, não sei se daria em suicida ou em homicida), estava o Dr. Guilherme Oliveira Martins do PS (Sim, sim o Mr. Bean... até a vozinha é semelhante), um senhor do BE cujo nome não fixei, um senhor do PP que também não sei o nome e uma senhora do cujo o nome também perdi apesar de estar com um bloco notas a ver se os apanhava.

Bom, moral da história... falaram, falaram, falaram e não disseram nada. O costume portanto, até porque numa coisa todos eles concordaram é que a educação, tal como está, está mal e para isso basta-nos olhar para o relatório PISA 2003 (lá estamos nós no fundinho da lista a fazer ‘adeus’ ao pessoal, como é de resto habitual).

Ok, então face a isto o que é que nós já sabemos? Em, em primeiro lugar já sabemos que o ensino está mal, já sabemos que são necessárias mudanças estruturais, já sabemos que é necessário promover um ensino de qualidade, enfim já sabemos uma série de coisas porque há estudos que estão feitos e basta-nos olhar para eles. Poderão dizer, mas há estudos que estão desactualizados. E eu digo-vos, pois estão e quanto mais tempo passar mais desactualizados ficarão se nada for feito. A maior parte deles precisa é de ‘follow-up’, não precisa de ser estudado de raiz outra vez como se isso nunca tivesse sido feito antes.

A questão aqui, é saber o que é que se pode fazer com aquilo que se tem, porque as mudanças estruturais que devem ser implementadas visam o médio e longo prazo, e no entretanto o sistema tem de continuar a funcionar. Assim, na minha modesta opinião, a primeira pergunta que deverão colocar é: Qual é o objectivo dos estabelecimentos de ensino? Não é preciso entrar em grandes dissertações académicas para encontrar uma resposta, até porque as dissertações académicas implicam um rol de teorias que, depois na prática não são exequíveis e o nosso sistema de ensino não pode ser visto como um tubo de ensaio que, cada vez que muda o governo, lá vem um tipo com uma ideia nova e toca de fazer tudo outra vez ( é que nós passamos o tempo nisto). Por muito boas que algumas ideias sejam, isto tem consequências negativas no seu todo.

Não sei se já repararam mas eu tenho a tendência para ver o Estado como um corpo com vida própria. A educação, tal como a saúde ou os impostos etc., fazem parte desse corpo, havendo uma coisa que falha então estamos perante um corpo doente. No nosso caso, há muitas coisas e muitos órgãos a falhar.

Mas voltando ao objectivo dos estabelecimentos de ensino, na minha perspectiva o seu objectivo são os alunos/aprendentes/estudantes, chamem-lhes o que quiserem, em ultima análise é tudo uma questão de semântica porque os alvos são sempre os mesmos. Ora se o objectivo dos estabelecimentos de ensino são os alunos (vou utilizar a designação de forma generalista), então qual é o objectivo dos professores?... e aqui a porca começa a torcer o rabo, porque para a maior parte dos professores de hoje em dia, o objectivo é a única saída profissional que tiveram após concluírem a licenciatura. Quando na realidade o objectivo deveria ser o de, serem profissionais exemplares porque a sua excelência se reflecte nos alunos e consequentemente no estabelecimento de ensino, que por sua vez lhes deve proporcionar as condições para que estes possam desenvolver melhor a sua actividade.

Uma das piores coisas que ouvi na semana que passou, foi durante um pequeno seminário organizado no Porto a propósito da qualidade na educação. Neste seminário estavam representantes de alguns sistemas educativos europeus, incluindo Portugal. No auditório estavam, acima de tudo, professores cuja única pergunta que pareciam ter na cabeça era a de quais eram as regalias dos seus congéneres europeus e se eram ou não tratados da mesma forma que os portugueses. Não ouvi ninguém perguntar, como é que eles ensinavam os seus alunos para alcançarem os resultados que alcançaram... e pior, é que tinham o representante finlandês ali mesmo à mão de semear (para aqueles que desconhecem a Finlândia ocupa o 1º lugar no PISA 2003). Ou seja, depois de assistir a estas coisas, sinto-me no direito de tirar as conclusões que muito bem entender sobre a referida classe, sendo que a primeira delas todas é a de que, tal como na maior parte das coisas neste nosso país, também os professores exercem a sua actividade com amadorismo porque os profissionais, não colocam aquele tipo de questões uma vez que as suas prioridades são outras. Logo os resultados só podem ser outros também.

A diferença entre um profissional e um amador, é que um amador refugia-se na desculpa de que encontrou um obstáculo, enquanto que um profissional reconhece a existência do obstáculo e procura as várias formas de o ultrapassar com os meios que tem disponíveis. Esta é também uma das diferenças entre a qualidade e a falta dela.

De qualquer forma, tenham em devida atenção que a classe dos professores, não deve nem pode ser considerada como a única responsável pela fraqueza do sistema de ensino. Não são e seria falso da minha parte considerá-los como tal. Como vos disse tudo isto faz parte de um corpo. Agora que eles são parte do problema e não parte da solução, lá isso são e quem sofre com isso são os consumidores finais que, neste caso são os alunos.

Ou seja, a questão mantém-se. O que é que se pode fazer com aquilo que se tem, para alcançar melhores resultados? É que só depois de responderem a esta pergunta e de a porem, efectivamente, em prática, é que podem passar à etapa seguinte que é; o que é que precisamos para fazer ainda melhor?

Tenho dito... por hoje.

3 comentários:

crack disse...

Sabe o meu queridíssimo Anthrax qual é a razão pela qual os nossos governos nos arranjam sempre os meios para estarmos no fim das tabelas todas? É porque praticam, afincadamente, aquela máxima cristã que diz que os últimos serão os primeiros.
Quanto ao senhor do ar tétrico, esqueceu-se da 3ª via - não vale o seu suicídio, nem merece um homicídio, porque no estado a que chegou não tarda muito dá um tiro na cabeça!

Virus disse...

Pois é meu caro Anthrax...mais uma vez fico por "citar" aquilo que já tinha escrito alguns dias atrás "porque é que ninguém começa por parar à frente do espelho em casa (...), durante uns segundos olha e pensa sériamente o que é que pode fazer hoje para que a situação melhore amanhã, em vez de estar à espera que o Estado apresente todas as soluções", julgo que assenta que nem uma luva!

Anthrax disse...

Caro amigo Virus!! Bons olhos o vejam. Espero que esteja tudo bem com os dois pequenos virus e que o mais pequenito já esteja melhor.

Com o grande Virus já sei que está tudo na linha e de regresso, com as gotas de veneno a pingar da pontinha dos dois caninos aguçaditos. Isto lá diz o ditado que quem sai aos seus não degenera... Bem podem preparar o equipamento anti-bactereológico que, isto daqui é altamente mortífero.