segunda-feira, março 14, 2005

O ESTADO DA EDUCAÇÃO – PARTE 2

Isto há coisas que me deixam verdadeiramente encanitado. A semana passada andava tudo doido com o envio da fotografia do Prof. Freitas do Amaral para o Largo do Rato (diga-se que, a bem da nação, esta teve muita piada apesar de não interessar para nada, até porque quer queiram quer não, o homem foi uma das figuras dos primórdios do CDS e esse é um facto que não se pode apagar), agora parece que não há notícias nenhumas de jeito. No entanto, devo dizer que houve duas noticias neste fim de semana que, retive pelo seu aspecto positivo sendo que a segunda foi a de que vão editar a compilação das músicas do Dartacão, Heidi, Vicki, Abelha Maia, etc.

Ainda assim, a notícia que ocupou o meu primeiro lugar foi a do miúdo que o Ministério da Educação seleccionou para participar no concurso mundial de Latim que, irá decorrer em Itália. De momento não me recordo do nome do rapaz mas, recordo-me que o achei brilhante. Porquê? Porque vi um miúdo de 17 anos a falar melhor que a maior parte dos jornalistas que aparecem nos telejornais. O rapaz não só falava bem, como parecia apresentar uma linha de racíocinio lógica e coerente, bastante diferente da dos outros meninos da sua idade que, na maior parte dos casos se limitam a verbalizar alguns sons que, de vez em quando se confundem com uma espécie de discurso.

Na verdade, conversar com um adolescente de 17 anos é uma aventura para a qual não há nenhuma Companhia de Seguros que emita uma apólice. É como descobrir uma nova tribo, perdida nos confins de uma ilha exótica qualquer, dotada de um conjunto de regras sociais próprias, dotada de um código linguístico próprio e até com uma dieta própria. São como uma espécie de civilização arcaica, à parte do resto do mundo que, por sua vez, está muito mais avançado (ou pelo menos é o que toda a gente diz). Mas serão estas criaturas bípedes menos inteligentes que o resto de nós?

Bom, à partida idiotas parecemos nós que continuamos a tentar passar mensagens na nossa língua, sem qualquer respeito pela deles. Tirando isso, certamente que haverão alguns que não primarão lá muito pelo seu intelecto mas que, acabarão por arranjar um lugarito como deputados na Assembleia da República assim que chegarem à idade adulta. Os verdadeiros génios como o miúdo de 17 anos da entrevista, ou vão trabalhar como caixas de um banco (o que pode até nem ser mau considerando que podia ser caixa de supermercado), ou emigram e vão oferecer o seu cerebro e os seus préstimos para outras bandas, ou estão basicamente lixados.

Amiguinhos, Portugal não premeia os bons, apenas promove os medíocres. E este é um dos aspectos fundamentais das autocracias, teocracias, etc. Só um pode ser iluminado, só um pode ser aquele tocado por ‘Deus’ (isto costuma acontecer muito por terras muçulmanas e na função pública). Como consequência (na lógica Aristotélica de causa-efeito), os outros terão de ser burros como penedos, porque se não forem, desenvolvem uma certa tendência para ter uma esperança média de vida inferior aos demais (bom... excepto se para além de burros, pertencerem também a uma brigada suicida).

É por isto que o tema da educação é tão importante e ninguém fala nele. Nem mesmo nas notícias e o mais engraçado, é que depois são os jornalistas os primeiros a advogar a liberdade de expressão.

Aposto que a única coisa que toda a gente reteve da Campanha eleitoral foi:

- A história das novas tecnologias;
- A história do ensino do Inglês no ensino básico (1º Ciclo entenda-se, porque no 2º e 3º ciclos há muito tempo que se ensinam segundas línguas).

Aquilo que pergunto é, porquê só isto? Para promover a burrice à distância de um clique e em várias línguas? Para além do mais, nenhuma destas medidas requer uma inteligência extraordinária para implementar.

Não seria muito mais interessante saber como é que pretendem envolver todos os agentes educativos no processo da Educação?

Não seria muito mais interessante saber como é que pretendem chamar as famílias à razão, chamando-lhes a atenção para a sua própria responsabilidade em todo o processo? – Isto pode ser feito pela via da sensibilização e pela via responsabilização civil.

Não seria mais interessante saber como é que pretendem responsabilizar os professores pelos seus sucessos e insucessos, mas dando-lhes previamente os meios para que possam desempenhar a sua função responsavelmente?

Isto é apenas a pontinha do Icebergue. Há tantas mais coisas. Ainda assim, pior do que delinear uma estratégia, é implementá-la. Mas enfim, parece que o tema da educação deixou de ser pertinente. Bem diziam os executivos anteriores que para eles a educação era uma paixão. Esqueceram-se foi de acrescentar que o único problema das paixões, é que estas são efémeras e normalmente deixam um rasto de destruição considerável.

3 comentários:

Miguel Pinto disse...

Junte à pontinha do seu Iceberg duas “novas” questões:
Não seria mais interessante abandonar o modelo tradicional de escola alterando a forma de relação com o saber, e de relação com o poder? Não seria mais interessante passar de um modelo de repetição de informação para um sistema de produção de saberes?

Anthrax disse...

Olá Miguel,
Não sei quais são as probabilidades de ler a minha resposta, mas não podia deixar passar essas duas perguntas sem as comentar.

Assim sendo, quanto ao abandono do modelo tradicional, não sei até que ponto teria resultados positivos. Uma nova abordagem à forma de relação com o saber parece-me positivo desde que se permita estimular a curiosidade e o interesse naquele que aprende.

Face à relação com o poder, o Miguel não identificou o tipo de poder que está a falar. Se estivermos a falar na relação de poder que se estabelece dentro de uma sala de aula, entre alunos e professor, penso que não deve haver alterações aí. Os alunos devem reconhecer o Professor como uma espécie de autoridade na sala de aula e o Professor deve ter à sua disposição os mecanismos necessários para fazer valer a sua autoridade.

Utilizando uma linguagem muito básica: "cada macaco no seu galho".

Relativamente ao passar de um modelo de repetição de informação para um sistema de produção de saberes, acho que é fundamental em contexto de Ensino Superior, deve ser estimulado no Ensino Secundário, mas nunca deve ser feito no âmbito do Ensino Básico. Porquê? Porque só se pode produzir saber quando já se sabe alguma coisa à priori. Produzir o que quer que seja quando não se sabe o quê, é um concurso de ignorância.

Ou seja, a repetição de informação tem o seu lugar e tem o seu valor, mas não deve ser utilizada nem em todos os graus de ensino, nem sempre da mesma maneira. Por exemplo; eu não acho admíssivel que pessoas que estejam a fazer Mestrados sejam colocadas perante situações em que um Professor diga coisas como: "A sua opinião não interessa aqui para nada." - Esta é uma posição que um Professor não deve ter nem no 1º ano da faculdade, quanto mais em aulas de Mestrado. Aliás, esta não é uma posição que um Professor deva ter seja em que grau de ensino for, ainda que possa eventualmente ser justificada ao nível do ensino básico. Mas aqui já estaríamos a debater o assunto ao nível do saber ensinar que, quer uma pessoa queira, quer não, não é para toda a gente (embora em Portugal pareça por outros motivos que não não têm nada a ver com a profissão em si).

Por isso é assim, se o Miguel estiver a considerar a aplicação de uma espécie de Modelo Universal, tipo chapa 3 e siga a Marinha. Não concordo. Se o Miguel estiver a falar da aplicação de um determinado modelo consoante o nível de ensino e os resultados que se pretendem obter, aí já concordo.

Anónimo disse...

Como se atreve a criticar a forma como falam ou escrevem os jovens de 17 anos uma pessoa que escreve isto: "Tirando isso, certamente que haverão alguns..."
Haverão???? Onde é que aprendeu a escrever? Não sabe que apenas assim poderá conjugar este verbo quando ele tem o sentido de "ter"?
Realmente a ignorância é muito atrevida e a arrogância ainda mais!!!!!!