terça-feira, maio 31, 2005

A FORÇA DOS NÚMEROS

Números, odeio números. Creio que nunca gostei deles desde que era um funguito pequenito... e daí também pode ser que tivesse tido, apenas, uma má experiência durante a infância que, ao longo do tempo, se transformou em fobia e na consequente recusa em aprender o que quer que seja que estivesse relacionado com matemática e coisas afins. Considerações à parte, quando andei no 1º e no 2º ano da preparatória (actualmente 2º ciclo do ensino básico), até era bom aluno a matemática, quando passei para o 7º ano esta disciplina transformou-se num verdadeiro monstro mitológico e ainda hoje, estou aqui a tentar perceber como e porquê, tal aconteceu. Mas não sei. Houve ali qualquer coisa que falhou no processo de transição e como tal, até hoje sou avesso a tudo o que contenha números tendo preferido refugiar-me em questões de filosofia.

No entanto – e ao contrário do que pensei durante alguns anos – os números são um elemento essencial da nossa vida e não é possível fugir deles. Mais cedo ou mais tarde vêm bater-nos à porta quer queiramos, quer não. A coisa pior que resultou do meu período de transição falhado, foi o facto de que naquela altura haviam uns Gabinetes de Orientação Escolar, onde o pessoal fazia aqueles testes psicotécnicos engraçadíssimos que no fim, faziam revelações extraordinárias sobre as áreas para as quais o aluno teria mais inclinação. Eu adorava fazer aqueles testes (ainda hoje gosto), mas os resultados eram sempre os mesmos. Ou seja, a minha inclinação natural era para a área B, que na altura era o ramo cientifico-tecnológico.

Inovador e criativo como era (e ainda sou), no fim daquilo tudo escolhi a área D. Ou seja escolhi a área de Letras. Porquê? Bom, porque para além de ser criativo, inovador e normalmente do contra, era também a única área que não tinha nada de matemáticas. Era – pensava eu – uma espécie de Valhala. E durante algum tempo foi mesmo. O alívio de me ter livrado daqueles malditos números era tão grande que o resto não importava.

E assim foi até entrar na Universidade. É claro que para escolher o curso, o importante era que não tivesse números. Mas se eventualmente os tivesse em alguma cadeira, então que não fossem um caso de vida ou morte. Conclusão, durante 4 anos andei a aturar um bando de gente estúpida e cretina, pelas quais não sentia qualquer tipo de empatia. Mas fiquei com o canudo. Quando as coisas corriam menos bem a única coisa que repetia para mim mesmo era que, não haviam de ser mais teimosos do que eu. E não foram. Aquilo que inicialmente era o tal Valhala, transformou-se rapidamente no Inferno de Dante e inclusive eu acho que devo ter andado a correr pelos níveis todos.

Penso que a verdadeira confrontação com o erro que tinha sido a minha escolha surgiu com a triste ideia que tive quando resolvi fazer uma pós-graduação. Como não tinha nada mais engraçado para fazer, escolhi frequentar uma pós-graduação em Gestão (não me perguntem porquê, não sei, fui acometido de insanidade temporária), que era nada mais, nada menos, do que o oposto de tudo aquilo que tinha andado a fazer até então. Na altura pensei que estava perfeitamente louco e que ia desperdiçar dinheiro porque com tanto número, as coisas não poderiam resultar bem e eu ia fazer figura de parvo, até porque a maior parte das pessoas não era de nenhum curso de letras. Mas já estava. Já estava tudo pago e fugir com o rabo à seringa era bastante mais complicado. Por isso, pensei que o melhor era andar para a frente e depois logo se via.

Bom, é claro que andei para a frente e fiquei muito espantado. Não só porque as pessoas falavam numa linguagem que eu percebia, como também achei aquelas operações matemáticas até eram fáceis de aprender (apesar de ter tido que dedicar algum tempo extra a praticar porque desde, em bom rigor, o meu 7º ano que não fazia, nem me dava ao trabalho de fazer, nada daquilo). Mas o que foi verdadeiramente mau, foi verificar (e comprovar pelo nível das notas adquiridas), que no mínimo perdi 4 anos da minha vida a tirar o curso errado.

De quem foi a culpa?

É claro que em última análise a responsabilidade terá sido minha porque ninguém escolheu por mim... ou será que escolheram?

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