Pois é, foi em trabalho. Não deu para ver grande coisa, tudo o que me foi possível ver foi graças à disponibilidade do meu colega irlandês que me andou a passear de carro.
A primeira constatação quando cheguei foi a de que, os rapazes conduzem ao contrário (tal como os ingleses). Como o meu colega foi-me buscar ao aeroporto, aproveitei a oportunidade para lhe perguntar porque razão conduziam ao contrário. Ele respondeu que a culpa tinha sido dos ingleses. Retorqui que isso era coisa do passado e eles como irlandeses tinham o dever e a obrigação de já ter modificado a forma de conduzir. Disse-lhe também que o coitado do Michael Collins devia andar aos tombos no túmulo por ainda não terem revisto esta história.
A segunda constatação foi a de que, era tudo muito verde. É um facto. Aquela ilha é toda muito verde. O meu colega disse-me que, realmente, devia ser um grande contraste com as cores de Portugal. E eu disse-lhe que era mesmo. As nossas cores andavam entre o castanho e o bege antes dos incêndios, e o preto e o cinza após os incêndios. Um cenário muito animador como ele devia calcular.
Nessa noite fui jantar a um restaurante no bairro de Malahite e pude constatar mais duas coisas. A primeira é que em Dublin não há prédios (no sentido de prédios altos, os que existem não terão mais de 5 andares e o resto são casas) e a segunda é que a carne que eles comem é muito, mas muito boa (até borrego comi e ora aí está uma carne que detesto). A propósito dos prédios comentei com o meu anfitrião que a comunidade portuguesa ali estabelecida ou era inexistente ou era muito pequena, ao que ele respondeu que sim, era pequenita. Retorqui que se notava para além de que, nenhum devia pertencer à classe dos construtores civis. Perguntei-lhe também porque é que não haviam prédios com mais andares. Ele respondeu que no final da década de 70 ainda tentaram aderir à moda das alturas, contudo a experiência correra mal. Os prédios que tinham construído, rapidamente, se tornaram um antro de marginais por isso acabaram por mandá-los demolir e agora não há cá dessas coisas.
Outro aspecto bastante interessante é que, aquela história de não se fumar é levada muito a sério. Ninguém fuma em estabelecimentos públicos e privados. Para os bares essa foi a pior notícia do século. Muito acabaram por falir visto que deixaram de ter clientela e os que não faliram adoptaram o modelo do cinzeiro-à-porta. Assim, quando se frequenta a zona de Temple Bar, assiste-se a uma coisa engraçadíssima. Os bares vazios e um aglomerado de pessoal à porta (ao pé do cinzeirito). Quando querem beber qualquer coisa, correm até lá dentro, bebem um cerveja e voltam cá para fora (mas sem a cerveja porque não deixam trazer os copos para a via pública). A opinião generalizada é a de que esta medida não é muito popular, principalmente, no inverno.
No que respeita aos nativos, achei que na sua maneira de ser eram iguaizinhos a nós. A excepção é que têm mais dinheiro. O ordenado mínimo deles é de 1.000,00 € e ainda assim queixam-se que o nível de vida é muito caro. Escangalhei-me a rir.
O nível de vida deles é igual ao nosso, excepto no que toca ao ordenado mínimo e se nós conseguimos sobreviver, não cheguei a perceber completamente quais eram os motivos das queixas deles (haviam de viver aqui durante 6 meses para ver o que era bom para a tosse).
Ainda no primeiro dia à noite, o meu colega irlandês comentou: “Então o que é que vos aconteceu? Vão ter um candidato presidencial de 81 anos? Não conseguiram arranjar ninguém mais novo ou estão a pagar alguma promessa que fizeram?”.
Olhei para ele com ar de poucos amigos e respondi: “Bolas que as más notícias correm depressa e não respeitam fronteiras.”
No dia seguinte lá estava eu enfiado na Conferência, no Castelo de Dublin. Correu bem. Mas se julgam que a conversa das Presidenciais tinha acabado, enganam-se. Depois do jantar e mais um colega norueguês e um francês, encetámos o nosso périplo pelos bares. Tudo corria bem até o francês se começar a queixar que estava farto dos franceses e que achava que eram estúpidos por terem votado contra o Tratado Constitucional. Virou-se para mim e disse que se calhar ia mudar-se para Portugal. Rapidamente o norueguês vira-se para ele e responde: “Não faças isso que eles vão ter um Presidente de 80 anos.” Depois vira-se para mim e diz; ”Não é?”.
Fiquei boquiaberto a olhar para ele e às tantas respondi-lhe: “FOGO! Até vocês já sabem!”
O meu colega norueguês começou a rir-se e a dizer: “Acho que já toda a gente sabe. Mas o que é que vos aconteceu? Não conseguem arranjar ninguém mais jovem que seja mais dinâmico e mais competente?”
O francês assentia com a cabeça e dizia: “Por acaso é verdade, deviam escolher alguém mais jovem que vos desse uma perspectiva mais orientada para o futuro.”
Eu só encolhia os ombros e dizia: “Mas eu não posso fazer nada! Não tenho culpa que a classe política portuguesa seja atrasada mental!”
Nessa mesma noite, durante o jantar e antes da cena do bar, já um participante da Irlanda do Norte (que eu já tinha conhecido em Maio quando organizámos um seminário cá em Portugal), tinha-me perguntado se Portugal era um bom país para se viver. Eu dissera-lhe que sim, desde que ignorássemos o governo e os políticos. No fim da conversa, ele disse-me que eu devia sair de Portugal e ir trabalhar para outro lado (já me disseram isto tantas vezes que, um dia destes começo a acreditar que têm razão e não estão a dizer estas coisas só por dizer). Se por um lado a sensação de ser reconhecido pelo meu trabalho é boa. Por outro, é também uma sensação um bocado amarga porque aqueles que deveriam reconhecer o nosso trabalho em primeira mão, não o fazem. Ficam fechaditos no seu mundinho a delirar à volta do seu umbigo.
Bom, como vou ter de acabar por aqui, posso-vos dizer – à laia de conclusão – duas coisas:
1º Toda a gente, em todo o lado, sabe que andámos por aí a arder.
2º Toda a gente, em todo lado, sabe que temos um candidato presidencial de 81 anos e só se riem.
Esta imagem que os outros têm de nós, incomodou-me muito.
9 comentários:
Caro Anthrax,
duas pequenas notas de rodapé:
1- Os seus colegas irlandeses estão absolutamente certos acerca dos prédios e já em 1997 um colega meu na Comissão Europeia me dizia "...mas então vocês em Portugal vivem em coelheiras!!! Ao menos não deve ser caro..." Bom, nas coelheiras ele tinha razão, nos preços é que estava um puco desfasado!
2- A mim já não me incomoda nada aquilo que lá por fora se diz de Portugal e dos portugueses. Eu, infelizmente, e muito por culpa dos nossos sucessivos Governos, não me sinto nada português, prefiro dizer que me sinto europeu, isso sim é um motivo de orgulho. Aliás, nos US quando para efeitos estatísticos me perguntam de onde sou, eu só respondo que sou da Europa, nem falo de Portugal (até porque o mais certo é nem saberem onde fica)! Aliás como exemplo supremo só digo que se o país me chamar para defender a bandeira eu mando-os pastar, se a Europa me fizer o mesmo pedido eu vou sem hesitar...
Caro Vírus,
Eu até não me importo com o que dizem. O irritante é que eles não paravam de se rir... é que mal dava tempo para tentar explicar que nem toda a gente em Portugal concorda com a candidatura.
A sério, é muito mau. Muito mau mesmo.
Meu amigo Anthrax, gostei, sobretudo da parte do Castelo.
Quanto às suas "insurgências", reparei numa constante deste seu impagável relato - todos já "sabem" que vamos ter um presidente com 81 anos. Grande campanha tem o Coelho feito por essa Europa fora, que até os eurocómicos acreditam que o homem já ganhou! O tio Aníbal, como o meu amigo lhe chama, que se cuide.
(O Freitas já amuou, sabia?)
:)
O Freitas amuou? Por acaso não sabia, mas também não me surpreende. Tão gágá está um como o outro.
Quanto ao tio Aníbal, muito honestamente acho que ele não se devia meter nesta palhaçada independentemente do que as pessoas esperam ou deixam de esperar (e aliás, um dia destes vou escrever sobre isso).
Para ser franco, acho que tudo tem o seu tempo e todos os ciclos têm um início e um fim. Tal como os Regimes Políticos. Neste caso em concreto, praticar qualquer tipo de ressuscitação sabendo de antemão que o paciente (a.K.a o País) vai ficar o resto da vida transformado num vegetal e consequentemente, vai tornar a vida dos outros num verdadeiro inferno, então acho que é preferível deixar morrer.
E quanto ao Coelho e à sua Campanha Europeia, devia levar com um taco de baseball na cabeça. Não porque eu seja contra a resolução pacífica de conflitos, mas porque essa campanha está a dar cabo do resto da imagem de Portugal. Já estão todos a troçar de nós e ele ainda mete mais lenha na fogueira. Não pode ser.
Deixa arder...deixa arder...
Eu cá vou mas é comprar uma casita na Florida e mudo-me para lá...
Meu caro Anthrax
Eu também acho que o tio Aníbal devia aprender a fazer tapetes de arraiolos, que sempre é uma actividade mais lucrativa. Fico à espera desse textito, mas cá por mim gostava era de ver o tio Alberto João a enfrentar o vôvô Mário. Acabavam ao estalo!
Entretanto, vou ver se tenho umas férias.
Férias?!
Caro Crack, lamento mas não pode ir de férias. O período de férias foi em Agosto. Quem foi, foi. Quem não foi, ficou. Mas férias agora não pode ser.
Ora essa, entao e quem tem sido moiro de trabalho? Férias, pois. Divirta-se a trabalhar, que eu nem isso. Dubin nao é para todos!
Não me fale em trabalho que já hoje me passei!... Um dia destes vou pedir para me mandarem para o fundo de desemprego, é que já não tenho paciência para aquele bando de galinhas.
Enfim... Já esteve mais longe.
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