quarta-feira, dezembro 28, 2005

A “MONARQUIZAÇÃO” DA REPÚBLICA (II)

(...)
Contudo esta figura sofreria algumas alterações importantes quanto à durabilidade de permanência na função e quanto à possibilidade de qualquer um poder candidatar-se ao cargo. No que respeita à parte do “qualquer um poder candidatar-se ao cargo”, costumam chamar-lhe a democratização do poder. Eu, por outro lado, gosto mais de chamar-lhe a democratização da estupidez natural, porque nem o poder pode ser democratizado, nem “qualquer um” tem capacidade ou está preparado para o exercer, mas isto é uma outra história que ficará para outra altura pois agora, o que interessa é o conceito da “monarquização”.

Tal como referi, uns parágrafos, mais acima, a “monarquização” da República é uma República com pretensões a Monarquia, mas sem deixar de ser República. É um bocado como a famosa 3ª via. Não é carne, nem é peixe, não é Sim, nem é Não, é uma espécie de “Nim”. Uma coisa híbrida à laia de circunferência, sem principio nem fim, nem ponta por onde se lhe pegue. É uma indefinição que baralha muita gente, incluindo os nossos candidatos presidenciais, pois só assim se entende a conveniente justificação, daqueles que se dizem republicanos e laicos, de em nome da experiência se candidatarem tantas vezes ao mesmo cargo.

O facto da República não se compadecer com cargos vitalícios - excepção à regra feita na Região Autónoma da Madeira - é apenas um mero detalhe pró-forma que, agora também não se pode mudar sem provocar um ligeiro levantamento popular (levaram o povo a acreditar que o poder era democrático, agora aguentem), mas... se o povinho fizer o favor de votar, por um lado vai ficar contente porque acha que fez uma grande coisa e nós dizemos que é a cidadania activa em movimento mesmo que, para alguns, o papel do Presidente seja andar de tesoura na mão à procura de qualquer coisa para inaugurar e que tenha fitas para cortar (mesmo que seja um novo centro comercial), porque poderes executivos, não tem nenhum.

Aqui, levanta-se-me uma questão. Ora se 1 Presidente da República não tem poderes executivos, não representa todos os cidadãos portugueses (porque só representa aqueles que nele votaram), e só quer andar de tesoura na mão, então estamos a pagar-lhe porquê e pior, para quê? Para ouvir os pobrezinhos a lamuriarem-se constantemente? Para isso não é preciso um Presidente, é preciso um Padre, podendo encontrar-se amiúde nas igrejas sendo que, é mais provável que a Igreja possa fazer alguma coisa pelo necessitado, do que o Presidente da República e ainda para mais não precisamos de lhes pagar. Se por outro lado, é para termos um senhor a quem possamos chamar "pai", amiguinhos... Pai, cada um tem o seu e muitos deles até dão uma mesada jeitosa, por isso não é preciso ir chamar "pai" a outro que, ainda por cima, nem sequer nos dá uma mesadazita. Muito pelo contrário, está permanentemente na fase em que temos de ser nós - se formos pessoas responsáveis - a financiar o lar de 3ª idade. Aliás note-se, que à velocidade que a coisa vai, o país está rapidamente a transformar-se numa gigantesca residêncial falida para séniores e com a idade da reforma cada vez a aumentar mais, um dia destes entramos numa daquelas lojas da moda e em vez de termos uma moça leve, fresca e solta a atender-nos, encontramos uma senhora já muito madura e uma compra que, em média, duraria 10-15 minutos, passaria a durar 2 horas e meia, o que seria sempre agradável contando que a senhora ainda não tivesse perdido as faculdades auditivas e nós não tivessemos de estar sempre a berrar.

to be continued...

4 comentários:

Tonibler disse...

Isto já vale? Já? Ora com licença...

A prova como a democratização do poder nunca foi terminada, foi dada hoje com a recusa de 7 dos 13 candidatos a PR. Não acredito que haja um português que tivesse ficado indiferente a isto. Aposto que toda a gente queria aqueles candidatos, mesmo que só levassem o voto da mãe. E no entanto chega-se à conclusão que um cidadão não pode, na prática, candidatar-se a PR, porque não tem contacto com 7500 pessoas. E não pode porquê, não há espaço nos boletins?

Quanto à monarquização, tenho dois pontos. O primeiro, acho que estamos a eleger o penúltimo PR português. Segundo, um PR é muito mais que isso e só não chega a essa conclusão porque assume o pressuposto anti-democrático (francamente, qualquer dia é soarista...) de que o presidente não representa toda a gente. Se há cargo em Portugal onde é cumprida a democracia é no cargo de PR. O PR representa, de facto, toda a gente. E o camarada Anthrax vê que nem o Santana, já com um braço inteiro enfiado, ousou um dia criticar o PR. É PR, ponto final!
É um monarca eleito? É. Mas não é inútil, tem uma importância fulcral na nação, embora no estado seja um zero.

Anthrax disse...

SOARISTA NÃO!!!!!!
AI! AI!

Tirando este pequeno detalhe, não vou contestar os seus argumentos, amigo Toni, porque penso que são absolutamente legítimos no âmbito do regime que o amigo defende como modelo de organização política da sociedade (e que não é o meu).

No seu 1º parágrafo, diz que na prática um cidadão não pode candidatar-se a PR porque não tem contacto com 7500 pessoas. Entendo perfeitamente o que quer dizer, mas discordo parcialmente. De facto um cidadão comum, não tem contacto directo com 7500 pessoas, mas tem um cérebro e pode pensar um bocadinho. Eu sei que isto pode parecer um bocado idiota, mas adoptar - para arranjar as assinaturas - uma estratégia tipo franchising (que para abrirem as suas unidades têm em conta o número de habitantes de uma determinada área geográfica), poderia ser interessante. Por isso, se 7 das candidaturas foram recusadas por se encontrarem em situação irregular, os únicos responsáveis são os próprios porque, nem os critérios sairam com 2 dias de antecedência, nem eles tiveram pouco tempo para as preparar.

No que respeita ao seu 2º parágrafo, porque é que acha que estamos a eleger o penúltimo PR português? Se é por causa da U.E, digo-lhe que a União não está com essa bola toda e mais, enquanto esta estiver em fase de alargamento, não vai haver qualquer aprofundamento ao nível de políticas.

Quanto ao pressuposto "anti-democrático" de que o PR não representa toda a gente, amigo Toni quer queira quer não, o PR não representa toda a gente e isso é um facto matematicamente comprovado e validado. Logo, dizer o contrário é assumir um pressuposto falso. Nisto, não há nada de "anti-democrático" e não tem nada a ver com o facto do PR ser a figura representativa do estado Português. Há uma ligeira diferença entre o ser-se uma figura representativa do estado e representar TODOS os portugueses.

Quanto ao "defunto" - cujo nome não pronunciarei - não ter criticado o PR, tratou-se de uma questão de respeito e civilidade política (que fica sempre bem aos políticos).

E não, eu não também não acho que seja uma figura inútil.

Tonibler disse...

Acho que é o penúltimo porque vamos integrar a Espanha daqui a 20 anos. E a Espanha está com essa bola toda....

Quando se elege directamente alguém, um único cargo, uma única pessoa, mandam as regras básicas da democracia que ganha a maioria e, depois de eleito, vale por todos, para todos. A maioria ganha, a minoria respeita a decisão da maioria. Quer isto dizer que, sendo o PR o representante de toda a nação, ele representa todos os portugueses que aceitem as regras da democracia e o pressuposto de que não representa é anti-democrático, sim.

Quanto ao resto, acho que vou esperar pelo fim (do texto, claro).

E desculpe lá o Soarista. Realmente, não se chama a ninguém...

Anthrax disse...

Está desculpado amigo Toni, foi um desabafo, eu compreendo... foi o 1,5% de aumento não foi? :)

Quanto ao pressuposto "anti-democrático", continuamos em desacordo. Vc está a falar-me de uma coisa e eu, estou a falar-lhe de outra (e já sabia que esse seria o argumento seguinte). A diferença entre aquilo que me está a dizer e o que eu estou a dizer, é a mesma que existe entre o principio de que existem verdades universais e absolutas, e o principio de que não há verdades nem universais, nem absolutas. É como aquela história de Karl Popper quanto à afirmação de que "todos os cisnes são brancos", é que todos os cisnes só são brancos até ao dia em que houver um cisne preto. Mas isto não quer dizer que os cisnes deixaram de ser brancos, quer é dizer que não são TODOS brancos.

É verdade que, em democracia, uma minoria deve respeitar a decisão da maioria (é essa a função das eleições). Mas não é verdade que o PR representa toda a nação portuguesa. O PR representa o estado português, estado esse ao qual, por acaso, corresponde uma nação (note-se que podia não corresponder). Mas dessa nação, foi apenas a maioria dos elementos que o elegeu, não foram todos os elementos que o elegeram. Nesse sentido, é que eu estou a dizer que o PR é apenas representativo da vontade da maioria, o resto vem por arrasto e não por princípio.