quinta-feira, agosto 24, 2006

NAS ESCOLAS DO REINO UNIDO

Não, não é sobre o choque de culturas.
É sobre o funcionamento das escolas em Leicester.
Uma das grandes vantagens do meu trabalho é, inegavelmente, a possibilidade de verificar em primeira mão as semelhanças e assimetrias entre os diversos Estados que compõem a U.E (onde se incluem também aqueles que acalentam a ideia de que, um dia, serão membros).
Bom, no meio disto tudo também passo bastante tempo atolado em análises e avaliações de relatórios cuja grande maioria anda entre o fraco e o razoável (e metade deles são de fugir). Todavia, uma vez por outra, aparecem excelentes relatórios os quais são, efectivamente, dignos de nota. Este que que vos vou falar é um deles.
Leicester é uma comunidade com uma diversidade cultural bastante elevada onde convivem, em termos linguísticos, cerca de 100 línguas diferentes todos os dias. Assim sendo, parece bastante razoável assumir que esta seja uma realidade que se manifesta em contexto escolar. Aqui, a diversidade é encarada de uma maneira positiva por forma a poderem desenvolver-se relações bem sucedidas entre os diversos elementos que compõem a comunidade.
É claro que, estes princípios gerais de boa convivência não são implementados sem o recurso a instrumentos de trabalho eficazes e por isso houve, pelo menos, três aspectos que ressaltaram logo quando li o relatório.
O primeiro, diz respeito aos alunos com necessidades educativas especiais. Nesta comunidade, «todos os alunos com necessidades educativas especiais e cuja 2ª lingua é o inglês, usufruem de um apoio extra. Por cada aluno com deficiência é colocado um adulto em permanência.», e.g. «Numa das escolas visitadas havia uma aluna com deficiência auditiva. A aluna tinha uma professora de língua gestual permanente e os restantes colegas aprendiam a língua para poderem comunicar com a colega».
Nota 1: Nesta parte fiquei a pensar que em Portugal é igualzinho!
O segundo aspecto que me saltou logo à vista também, foi o seguinte; « A escola é encarada como uma extensão da família (...) as famílias respeitam linearmente as regras das escolas e os professores, têm conhecimento do regulamento das mesmas (que assinam) e têm obrigatoriamente de dar cumprimento às regras e de as fazer cumprir pelos seus educandos, porque se não o fizerem, terão sanções e serão convidados a escolher outra escola».
Nota 2: É... aqui também.
O terceiro aspecto que vou referir é o seguinte; «Os encarregados de educação das crianças que vão iniciar a sua escolaridade no ano lectivo seguinte têm um curso na escola para se familiarizarem com a mesma, assim, existiam em curso 5 cursos de treino com as famílias. Os cursos têm a duração de 10 semanas em períodos de 2 horas. Cada grupo têm 10 famílias e é acompanhado por um professor tutor. Nesses cursos, para além das regras, é-lhes dado um conhecimento do currículo que incorpora a diversidade cultural e é-lhes ensinado a estimular a criança para a literacia e numeracia».
Nota 3: É... aqui também é tal e qual...
O relatório continua mais detalhadamente acerca das formas com que lidam com determinados problemas que eventualmente possam surgir. No entanto, a minha única intenção em falar disto não é criticar a educação em Portugal (até porque este relatório tem o cuidado de referir que o que se passa nesta comunidade não retrata o que se passa no resto do Reino Unido), a única intenção é apenas a de salientar que estes professores para poderem fazer um bom trabalho, têm bons instrumentos de suporte e o apoio das autoridades públicas, que neste caso são as locais. Por isso, aqui fica a referência a este testemunho.

5 comentários:

Virus disse...

Sem dúvida... agora chegada a hora do meu primogénito entrar na escola, e tendo em atenção as enormes dificuldades com que me estou a deparar em conseguir encontrar vaga numa Escola Pública perto de casa (e atenção que eu vivo em Lisboa-Telheiras), sendo a educação uma obrigação do Estado (quanto mais não seja a básica e até ao 9º ano), só posso dizer meu caro Anthrax

SEM DÚVIDA É TAL E QUAL PORTUGAL!

Miguel Pinto disse...

Hummm… Reino Unido? Estou a ver!!… Fazendo fé no conteúdo desse relatório e no seu testemunho, caro anthrax, as coisas da educação até nem estão assim tão mal… como nos querem fazer crer… Essas notícias que dão conta que o professorado rareia por lá deve ser ficção…
Mas como a cara nem sempre se relaciona com a careta, e isto vem a despropósito, li no Público que o Governo britânico nomeia secretária de Estado para a boa forma… E esta?

Anthrax disse...

Olá olá Miguel,

Honestamente e em termos comparativos gerais, o nosso sistema educativo não é mau. Penso é que está muito mal gerido e há serviços que me parecem algo redundantes. Mas atenção, isto não é uma afirmação, nem eu posso sustentá-la enquanto tal. Isto é mais uma dúvida do que outra coisa qualquer. Eu conheço mais a realidade das escolas do que a realidade dos serviços e por isso, na perspectiva das escolas, tenho mais a percepção dos obstáculos que os serviços levantam às escolas, do que percepção dos constrangimentos que os próprios serviços enfrentam internamente.

Mesmo assim, a verdade é que nós temos coisas que são muito positivas (embora dependa da perspectiva é claro), e que o amigo não encontra nos sistemas educativos de outros países da União, nomeadamente ao nível da integração por exemplo.

A questão do professorado rarear ali para os lados das ilhas britânicas, não é um mito. Tanto quanto é do meu conhecimento, esse é um problema que eles actualmente enfrentam, tanto mais que o exemplo dado refere que, o que se relata acerca desta comunidade não pode ser considerado em termos gerais.

Quanto à secretária de Estado da boa forma... pois essa eu não sabia :))

Miguel Pinto disse...

Quanto à notícia, o DN e o Público avançaram com essa notícia surpreendente... hummm… começo a ficar curioso e com vontade enorme de lançar um olhar à forma da Sra. secretária... :))

Anthrax disse...

Pois, parece que a Sra. Secretária Caroline Flint goza, mesmo, de uma excelente forma física.

Destas cenas, não fazem eles intercâmbios! Temos nós que gramar aqui a Dª. Milú e os rafeiros dos secretários de Estado que assustam o susto.

Caramba... é que até nestas coisas temos azar.