segunda-feira, setembro 04, 2006

MAIS SOBRE O ENVIO DE TROPAS PORTUGUESAS PARA O LÍBANO

Na minha óptica, continua a ser uma má ideia.

No entanto, e uma vez ultrapassadas as razões que me levaram a considerá-la uma má ideia, a verdade é que se a decisão foi tomada e os moços da engenharia têm de ir para lá então, devem ser apoiados.

Nesta perspectiva, a nova questão que se levanta é: Sob o comando de quem?

De acordo com os espanhois, os militares portugueses ficarão sob o comando de nuestros hermanos.

Dito assim, isto é uma verdadeira infâmia. Andámos nós à marrada com eles e eles à marrada conosco durante tantos séculos, para agora vir a U.E e fazer-nos uma coisa destas é, aparentemente, inacreditável. No entanto, e como diria alguém, get over it.
Assim, e de acordo com as notícias que foram saindo, temos:

- O nosso Ministro da Defesa a dizer que ainda não está nada decidido.

- O seu homólogo espanhol diz o contrário.

Na minha perspectiva; ambos têm razão. Porquê?

Fácil, porque as reuniões em Bruxelas - sejam elas ao nível técnico ou ao nível inter-governamental - funcionam todas nos mesmos moldes:

1º O pessoal vai chegando e colocando as suas coisas na sala de reunião, de preferência senta-se no sítio previamente identificado com o nome do país mas, entretanto - se virmos alguém conhecido e com quem tenhamos uma relação de amizade - podemos trocar de lugar levando a plaquinha atrás.
2º Depois, quando já está tudo mais ou menos sentado, vem o "Mestre de Cerimónias" para gerir a reunião. Carrega na campaínha que faz "tlim" e inicia a reunião dando as boas vindas aos participantes e dizendo em que línguas se pode ouvir a tradução. Nas reuniões mais pindéricas, a língua de trabalho é o inglês e não há tradução por isso, quem não falar inglês, azarucho. Nas reuniões mais formais já há maior diversidade (embora o português raramente faça parte da lista).
3º De seguida, o "Mestre de Cerimónias" começa com um tour de table para apresentações que, parecendo que não, ocupa bastante tempo.
4º Quando já tudo se conhece, passa-se à discussão dos pontos da agenda. Quando chegamos a este ponto é o cabo dos trabalhos dependendo sempre do ponto que se discute. Mas, seja qual for o ponto que se discute, quase que posso garantir que, os ingleses têm sempre alguma coisa a dizer e os alemães também. A Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Hungria e a Bulgária, raramente se ouvem. Os turcos, como só agora é que vão participando em algumas coisas, por norma fazem perguntas idiotas mas é compreensível. Durante o governo do Aznar, Espanha tinha um ascendente bastante grande na Comissão que perdeu com o governo do Zapatero e isso é muito visível, principalmente, nas reuniões de carácter técnico. Os restantes países vão participando.
5º Nestas reuniões não é fácil chegar-se a um consenso, na maior parte das vezes porque as pessoas que representam os países não são, necessariamente, decisores. É claro que em determinados casos isso é mais verdade do que noutros. Um exemplo disto é o caso português (embora não seja o único). Nós quando vamos para estas reuniões não levamos o trabalho de casa feito (algo que não acontece nem com os ingleses nem com os alemães). Vamos para lá quase que como conviver com os indígenas e por isso, quando é preciso defender uma posição utilizamos, normalmente, o "Nim" porque temos de colocar o assunto à consideração superior e com isto perde-se, não só, tempo como também, a oportunidade. Esta é a diferença entre o fazer-se o "trabalho de casa" e não se fazer o "trabalho de casa".
6º Depois de partir alguma pedra e limar algumas arestas, os que fizeram o "TPC" adoptam uma posição, os que não fizeram o "TPC" dizem que a decisão não é deles e adiam a tomada de posição para mais tarde. Por sua vez, a Comissão agarra na tomada de posição dos que fizeram o "TPC" e adopta-a como possível recomendação ou decisão concedendo algum tempo aos outros para colocarem a questão aos seus superiores hierárquicos. Quando isto acontece, normalmente, quem chega atrasado já não é levado em consideração e se além de chegar atrasado, também tiver uma posição contrária à que foi inicialmente tomada, além de não ser levado em consideração também leva uma "notinha" a dizer que "se não concordava devia ter feito o TPC a tempo e horas para se discutir na reunião".
Por isso, como vêem, os dois Ministros têm razão. Um porque, provalmente, se apoia numa decisão previamente tomada e o outro porque tem de colocar a questão à consideração superior. Portanto, está certo. Formalmente a decisão não está tomada mas, na prática é provável que esteja.
Quanto ao resto, pergunto-vos; se o governo manda as nossas grávidas irem dar à luz em Espanha, porque é que os nossos militares não podem ficar sob o comando espanhol?

2 comentários:

Virus disse...

Subscrevo inteiramente tudo o que foi dito, sobretudo o último parágrafo, porque assim com assim os futuros portugueses (excepto os que tenham dinheiro para nascer em clinicas privadas de Lisboa e Cascais) que venham a nascer já são espanhóis antes de serem portugueses, por isso não há nada como a integração nas forças armadas espanholas (que se diga são bem melhores que as portuguesas do ponto de vista de equipamento).

Anthrax disse...

E, devo acrescentar, que os anúncios publicitários de recrutamento para o exército espanhol também são muito bons.