terça-feira, novembro 07, 2006

AS COISAS ENGRAÇADAS DO NOSSO MERCADO

Sabem, há coisas bestialmente engraçadas no mercado português. É claro que na óptica de um entendido na matéria devem existir ainda mais situações caricatas, do que aquelas que aqui vos trago mas estas fazem-me alguma confusão.
Em primeiro lugar, gostava de saber porque é que só faz greve quem não precisa? Não sei se já repararam mas só ocorrem greves nos sectores que estão protegidos pelo Estado. Não me lembro de ocorrerem greves, por exemplo, no sector bancário. Costumo dar comigo a pensar: «Não serão os empregados bancários também filhos de Deus?», quem diz empregados bancários também pode dizer empregados de um hipermercado, empregados de uma multinacional ou empregados de uma PME. Não terão estes válidas razões para exercerem o direito à greve?
Calhando, o direito à greve está apenas consagrado para beneficio do sector público. Isto nem é de se ficar admirado, pois se até têm um código próprio para regerem as relações laborais enquanto o resto tem ficar com o código do trabalho não é, de facto, de espantar que sejam eles a exercer o direito à greve.
E porque é que eu estou a falar nisto? Simples, porque como sabem hoje de manhã há greve do metro e está tudo virado de pantanas (é normal nestes dias), então vinha eu a ouvir as notícias da rádio e dizia uma criatura que haviam apenas 2 trabalhadores que não estavam de greve porque tinham contrato de trabalho. Fiquei, absolutamente, estupefacto.
Significa então que, estas 2 aves raras não têm os mesmos direitos dos outros. É chato mas, deve ser por isto que o resto do pessoal que trabalha no sector privado não faz greve.
Enfim, mas mudando radicalmente de assunto, outra coisa que me faz confusão são os recibos verdes. Até hoje nunca consegui perceber porque é que os recibos verdes têm de descontar uma pipa de massa para a segurança social se depois não têm direito ao subsídio de desemprego. Esta, é uma filosofia que, sinceramente, não consigo perceber.
Quem passa recibos verdes tem por obrigação sustentar o Estado mas, o Estado não tem qualquer obrigação de os sustentar a eles. Nesta relação, há aqui qualquer coisa que falha, ninguém dá nada a ninguém se não tiver uma contrapartida seja ela qual for e na história dos recibos verdes o princípio é o mesmo. Se só um dos lados é que tem obrigações, então mais vale não pagar e esta acaba por ser uma situação que encoraja a fuga ao fisco. As medidas fiscalizadoras funcionam a curto prazo e servem para apagar fogos mas, não me parece que façam muito mais do que isso uma vez que é o princípio que está errado. Na minha opinião, esta é uma daquelas situações que nunca se pode traduzir num jogo de soma zero, caso contrário rapidamente se escala para uma situação em que ambos perdem.
É claro que, isto sou só eu a falar. De qualquer maneira são apenas dois tópicos que acho curiosos.

2 comentários:

João Melo disse...

concordo com o texto.mas anthrax já houve greve dos bancários.mas tambêm deve ter sido à séculos.lembro-me porque o meu pai era bancário. mas isso já foi à muito tempo.se calhar a banca ainda era nacionalizada e por isso é que fizeram greve. o que vem dar razão ao seu post..

Anthrax disse...

Pois... eu nem sequer me lembro de alguma vez ter visto bancários em greve. Mas hoje de manhã recebi lá no burgo um PDF do sindicato dos quadros técnicos do Estado com o anúncio da greve de 9 e 10 de Novembro. Quinta e Sexta-feira «portantos».

Queixavam-se eles dos supranumerários que, parece que são 7500 (considerando que contei os zeros todos é claro)e que vão para casa com 60% do ordenado, blá blá blá, blá blá blá. É assim, sinceramente, num universo de 750.000 funcionários públicos, 7500 correponde apenas a 1%. Não é muito e está dentro do que, normalmente, se qualifica como «baixas aceitáveis».

É claro que estamos a falar de pessoas e que têm a sua vida mas, e daí também os 400.000 desempregados são pessoas que têm a sua vida e dentro desses 400.000 desempregados devem haver muita gente com qualificações superiores às desses 7500.

Se me perguntarem se é justo eu digo que não. Não é justo porque se calhar à data a que foram admitidos para a função pública não estava lá a cláusula dos supranumerários e em condições normais (a.k.a aquelas que são regidas pela lei geral do trabalho), não se pode mudar as regras a meio do jogo. No entanto foi isso mesmo que aconteceu, por isso «Welcome to the Jungle».