quarta-feira, novembro 08, 2006

GREVE GERAL NA ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA – O folheto da Frente Comum (II)

(cont.)

Ora bem, já tinhamos visto o 3º parágrafo por isso vamos continuar.

4º parágrafo: Nada de relevante a assinalar.

5º parágrafo: " É mentirosa a afirmação de que «os sacríficios são para todos», pois Portugal é o País da União Europeia com o maior fosso entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres e este fosso tem vindo a aumentar nos últimos anos. É a própria U.E a reconhecer este facto."

Bom, de facto, há que reconhecer alguma veracidade nestas coisas porque... os sacrificios não são para todos. Nomeadamente, não o são nem para os 20% mais ricos, nem para os 20% mais pobres. São para os 60% que ficam ali no meio. No entanto, o que me está aqui a falhar é o entendimento sobre «o que é o fosso?», isto porque - lá está - o que está no meio entre os mais ricos e os mais pobres é a classe média. Não é um fosso. O que me preocupa, isso sim, são as políticas que visam transformar tudo em pobres e isso começa logo por se partir do princípio que somos todos iguais. Somos todos iguais "my hass"! Somos agora todos iguais. Eu não sou igual a ninguém de certezinha absoluta, além disso não tenho nenhum gémeo siamês e não me andei a esfalfar na Universidade para ser igual a um outro "Tóni" qualquer que não tem 1/3 das minhas qualificações.

6º parágrafo: " E, em paralelo, possuímos algumas das maiores fortunas a nível europeu..."

Bem, para começar ainda não vi nenhum português naquele programa do People & Arts sobre as grandes fortunas da Europa. Depois, se há portugueses que têm grandes fortunas (e é claro que os há) é porque trabalharam para as ter, não ficaram à espera das esmolas do Estado português, caso contrário estariam bem lixados. Por isso, a única coisa que posso dizer é; a inveja é uma coisa muito feia. E ter fortuna só é mau para quem não a tem (como eu por exemplo, mas ainda não perdi a esperança).

7º parágrafo: "Os trabalhadores e a população em geral sentem na pele o continuado aumento do preço dos bens essenciais, muito superior às taxas de inflação, na água, no pão, nos combustíveis, nos transportes e na generalidade dos bens de primeira necessidade. Está agora a ser anunciado de 16 % , na electricidade."

Ok... portanto, há os trabalhadores e depois há a população em geral que não se enquadra na figura dos trabalhadores. Confesso que acho isto um pouco estranho porque, assim de repente parece que a população em geral não trabalha. Excluíndo este detalhe e o facto dos 16% terem caído para 6 vírgula qualquer coisa % (afinal tinha de haver alguma maneira do governo sair-se bem desta embrulhada), todas as pessoas normais sentirão o aumento de tudo menos dos ordenados.
Aqui há uns anos atrás, dizia o Prof. João César das Neves - numas aulas que tive com ele - que Portugal devia ser o único país no mundo em que os sindicatos quando negociavam os aumentos salariais conseguiam fazer com que os trabalhadores perdessem, efectivamente, poder de compra. É claro que foi uma risota generalizada mas e daí, quem já foi aluno do Prof. JCN sabe que aquelas aulas são sempre animadas e bem-dispostas. No entanto, bem vistas as coisas, quem sabe, sabe e o homem tem razão.
Bom para encurtar esta análise ao texto do folheto, cujos parágrafos parecem não ter fim (são pelo menos 15), são utilizadas expressões como "obscenidade" para se referirem ao facto dos bancos produzirem lucros (como se isso não fosse a razão da sua existência), continuam as referências aos trabalhadores (porque proletário dava mau aspecto), no 9º parágrafo entram os reformados ao barulho (como se ainda fizessem parte da população activa, quando sería preferível que assumissem que esta "luta" também se prende com as questões do acesso à reforma), continuam as alusões ao grande capital (o que dá vontade de lhes dizer: "Amiguinhos, Marx morreu, Estaline também e o muro de Berlim já caiu há algum tempo, Get over it!") e apelidam aquela iníciativa dos empresários como a "Irmandade do Compromisso do Beato" que faz "propostas terroristas" (This is Democracy Stupid! Cada um usa as armas que tem e sem empresários não há nem empresas, nem trabalho e muito menos trabalhadores).
Falam do "maior ataque aos direitos dos trabalhadores que se verificou desde o 25 de Abril" (claro, o 25 do A. não podia faltar) e en passant vão associando-no a um ataque aos "valores civilizacionais indiscutíveis, como o direito ao trabalho (...) constitucionalmente garantido" (eu se fosse aos desempregados deste país movia uma acção conjunta ao Estado Português, porque se está na CRP o Estado tem de garantir um posto de trabalho a toda a gente, há aqui uma quebra de contrato por um dos Outorgantes).
Conclusão, é um blá, blá, blá sem princípio nem fim, nem ponta por onde se lhe pegue e por isso é que estes sindicatos vão perder todas as "guerras" em que se meterem. Porque enquanto continuarem presos a uma ideologia decrépita, enquanto continuarem a fazer parte do Sistema e enquanto se ficarem pelo abanar das bandeirinhas e pelo bater dos tachos e panelas no meio da rua, a única coisa que vão produzir é ruído, que é chato mas, não tem consequências práticas nenhumas. São só mais uns palhaços do circo que é este país. Quando quiserem brincar aos Sindicatos a sério, olhem para os coleguinhas norte-americanos e comparem a capacidade de negociação de cada um. Talvez nessa altura se possa olhar para os Sindicatos com uns outros olhos.

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