
Hoje resolvi vir de comboio para o trabalho e ao contrário do resto das pessoas que anda na rua, com uns headphones na cabeça, a ouvir música, eu vinha, também de headphones na cabeça, a ouvir a segunda aula de filosofia política que tinha descarregado para o meu telefone.
Como já tinha referido anteriormente o tema da filosofia política não é novo para mim. Venho da área de Relações Internacionais, não só estou familiarizada com estes tópicos como também nutro uma curiosidade pessoal sobre os mesmos. Já passei pela Universidade Lusíada e pela Universidade Católica e por isso mesmo sinto-me, perfeitamente, à vontade para dizer que nunca tinha ouvido uma aula assim. Interessante, coloquial e acessível a todo o tipo de audiências. São muito raras as aulas, em Portugal, que são assim transmitidas. Na sua maioria são dadas por um mono (cuja competência técnica para o efeito é inquestionável, excepto se o for feito pelos seus pares), que se limita a estar em frente uma plateia de caneta em riste a vomitar matéria para quem a quiser apanhar.
A “Apologia de Sócrates” foi o primeiro livro de Filosofia que li, no 10º ano para a disciplina com o mesmo nome. Na altura, li, reli e li-o em voz alta a terceiros, por achar que era uma obra fruto de uma inteligência inestimável. Tinha determinadas passagens sublinhadas a lápis, que correspondiam aos argumentos de defesa de Sócrates e que eu considerava brilhantes, mas que nunca ninguém estava interessado em ouvir excepto a minha avó, que na época se encontrava doente e como tal não podia fugir.
Hoje foi a primeira vez em muitos anos que ouvi alguém a falar sobre a “Apologia de Sócrates” atribuindo-lhe o valor que penso que realmente tem. Bastante mais tarde, e depois de ler outros autores, é claro que tive de reconhecer que, definitivamente, discordo das ideias de Platão, mas isso não quer dizer que não admire a sua filosofia, ou as suas obras tais como elas são e devidamente enquadradas na sua época.
Não é de todo possível compreender os filósofos clássicos olhando apenas para as ideias que defendem. Há que olhar para o contexto sociopolítico da sua época e olhar para o percurso do homem antes do filósofo. Mas não é fazer aquilo que comummente se faz nas aulas, que é elencar as ideias principais sobre o contexto e o homem tipo currículo e siga a marinha. Não há nada menos interessante do que isso e se não tem interesse, ninguém vai querer saber.
Gostei de ouvir uma aula de Filosofia Política que, de facto, acho que foi muito bem dada. Hoje, quando chegar a casa, vou descarregar a terceira.
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