São sempre um drama.
Anda tudo à estalada, puxam-se cabelos, insultam-se as partes, atiram-se os putos de um lado para o outro à laia de bolinhas de ping pong, atiram-se os amigos, cerram-se fileiras num campo de batalha escandalosamente imbecil.
É uma guerra.
Não há espaço para civilidade, nem tempo para limpar armas e quando não as há, atiram-se pedras ao estilo de intifada privada, pessoal.
Quando se verifica uma ruptura num relacionamento pessoal é porque a mesma está associada a um sentimento de insatisfação numa das partes. Sentimento esse que cresce ao longo do tempo e que culmina numa divergência de posições quanto àquilo que outrora fora comum. Identificado a tempo poderá ocorrer algum tipo de conciliação, mas não é coisa fácil perceberem-se os sinais, até porque na maior parte das vezes esses aproximam-se, pé ante pé, de pantufas e quando se dá por eles já está o caldo entornado.
Será, então, seguro dizer-se que um sentimento de insatisfação conduz à ruptura. Se assim é para tantas outras coisas da vida de um individuo, porque deveriam ser os relacionamentos pessoais uma excepção? Não será o sentimento de insatisfação, aquele que conduz à procura de outras oportunidades em termos profissionais? Não será o sentimento de insatisfação, na sua forma massificada, aquele que conduz às mudanças de regimes políticos ou de governos? Não será o sentimento de insatisfação, aquele que conduz ao avanço científico?
No âmbito das relações sociais os indivíduos olham para as rupturas com uma certa suspeição. Olham para as rupturas como algo naturalmente mau que interrompe um determinada ordem pré-estabelecida. É normal. Um indivíduo que olhe para uma ruptura como um início e não como um fim está, sem qualquer dúvida, tolinho.
As rupturas são um fim.
Toda a gente sabe disso. Somos treinados desde pequeninos a aceitar e a respeitar essa espécie de ordem social pré-estabelecida que nos diz, que tudo aquilo que implica uma ruptura com algo que está para trás é, naturalmente, mau. Negativo. A evitar. Porém, raramente alguém pergunta se esse algo que está para trás é, naturalmente, bom.
É do conhecimento geral que o ser humano tende para procurar aquilo que lhe traz estabilidade, conforto e segurança quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Contudo, dizem alguns especialistas internacionais, que ao longo da vida, deve o indivíduo procurar diversas experiências profissionais. Deve, portanto, mudar. Adquirir novos conhecimentos, novas aptidões, novas competências. Deve ser capaz de se adaptar a um mundo em constante mudança, em constante evolução. No entanto, a aplicação do mesmo ao nível pessoal dá origem a alguma controvérsia. Não é visto com bons olhos.
À generalidade dos olhos, as mudanças nos relacionamentos pessoais são como que uma espécie de pecado capital. Por assimilação de verdades universais, hipocrisias sociais ou a velhinha, mas sempre actual, pressão cultural – cada um desculpa-se como quer face à sua própria limitação ou incapacidade de articulação intelectual – um relacionamento pessoal é uma cruz que cada um deve carregar. E qual Cristo a caminho do Calvário! A cruzinha é que não pode faltar nas costinhas de cada um.
Quando alguém diz; «Foda-se! Carrega-a tu se quiseres que eu já ‘tou farto!», é o fim da macacada. Há chiliques, afrontamentos, taquicardias, hiper-ventilação e lágrimas com fartura. Do rol fazem também parte vingancinhas, ameaçazinhas e outras coisinhas comezinhas, cujo interesse é manifestamente nulo. A verdade, é que o herege teve a lata de mandar a cruz às urtigas e agora quem quiser que lá vá buscá-la.
Eu, herege, me confesso.
Uma ruptura é um início mais do que um fim e a vida não é um fardo, nem uma cruz que deva ser carregada a caminho de um Calvário. O livre arbítrio dota-nos da capacidade de escolher entre os diversos caminhos que se nos apresentam, cabendo-nos a liberdade de optar.
Certamente que há aqueles que amam carregar cruzes e fardos e que se lamentam alegremente por tal feito. Embrulham o seu discurso pseudo-moral num tom de papel solene, colocam uma fitinha dourada à volta e acham que estão a fazer uma grande coisa. Conheço casos assim e fico feliz por eles. Quer saibam, quer não esse encantamento que tem pelo sofrimento de carregar uma cruz torna-os felizes. Se estão felizes estão, consequentemente, satisfeitos e como tal não sentem o apelo da mudança.
(continua).
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