Sabem, no outro dia, enquanto almoçava com as minhas colegas, acabámos a conversar sobre coisas que o eram antes do 25 do A. de 74. Uma dessas coisas, também conhecida por tema de conversa, era aquilo que actualmente se designa por dimensão social das empresas embora naquela época ninguém lhe chamasse isso.
Como muitos saberão, não sou avessa à figura do "tio" Oliveira, nem a muitas das suas políticas. Tal como qualquer regime teve os seus momentos e por muito que se tente demonizar o homem e as suas políticas, a verdade é que Salazar conhecia muito bem o que tinha nas mãos e muitas das suas medidas políticas eram positivas.
E o que é que isto tem a ver com a dimensão social das empresas? Perguntar-me-ão.
Bom, tem tudo.
Os mais antigos saberão, muito melhor do que eu, que naquela época verificava-se uma preocupação com o bem-estar e motivação dos trabalhadores que hoje em dia é absolutamente ausente. Muitos dos grandes grupos construíam casas e bairros para os seus trabalhadores, criavam cooperativas e supermercados onde era possível adquirir bens a baixo custo, criavam jardins infantis para os filhos dos seus trabalhadores, tinham assistência médica, ou seja peocupavam-se em criar, de facto, as condições para que os seus empregados pudessem trabalhar, pudessem produzir. Criavam uma espécie de micro-sistema económico em que, no fundo, se criavam novos postos de trabalho e o dinheiro circulava dentro do grupo.
A percepção que tenho é que era um sistema em que todos ganhavam. Por um lado a empresa ganhava porque tinha trabalhadores motivados e produtivos. Por outro lado os trabalhadores ganhavam porque as suas preocupações relacionadas com a vida do dia-a-dia eram, consideravelmente, reduzidas.
E de hoje em dia?
Bom, de hoje em dia as coisas variam de país para país, mas em Portugal as empresas são animais perigosos de instintos predatórios e os trabalhadores são apenas o elo mais fraco da cadeia alimentar. Os nossos "empresários" - designação demasiado generosa e gentil e por isso as aspas - são pouco mais do que uns boçais míopes e transvestidos para quem o sucesso se mede pela ostentação e pelo número de dígitos presente nas suas contas pessoais. São muito raros aqueles que vêem a empresa como um organismo vivo, que tem os seus valores, os seus princípios e que também passa por diversas fases de desenvolvimento.
Mas não são só as empresas. Qualquer organização, a partir do momento em que o é, é um organismo vivo e poucos são os dirigentes que conseguem ver isso, daí vem muito do nosso insucesso organizacional.
Eu podia dizer-vos que não são só os nossos "empresários" que são os vilões e que os trabalhadores, de hoje em dia, carecem de um certo sentido de profissionalismo e responsabilidade (o que é verdade), todavia pergunto agora em tom dramático: "Quem sois vós para criticar aqueles que seguem o vosso exemplo?"; "Porque haverão de ser eles de assumir o profissionalismo, a responsabilidade e o brio que o modelo principal, por defeito, não tem?"
Penso que este é um tópico que me suscita uma certa curiosidade intelectual, principalmente, porque de tudo aquilo que me tem sido dado a observar aponta no sentido de promover uma cultura nacional de irresponsabilidade, quer individual, quer colectiva e transversal a todos os sectores da sociedade. É sem dúvida um tema curioso.
2 comentários:
CUF, Lisnave, o próprio Arsenal do Alfeite são bons exemplos aqui na Margem Sul dessa politica de trabalho/qualidade de vida associados, em que para motivar e assegurar a estabilidade profissional dos trabalhadores, estas empresas dentro dos seus recintos ou até mesmo fora, forneciam residencias, condições e cuidados de saúde, bens essenciais a preços baixos, isto tudo num ciclo compensatorio a todos os niveis. Refletiu-se num Portugal poderoso e que até aos anos 60 conseguiu andar a rondar as grandes potências mundiais em termos de produção e redução de divida externa, algo que até aos dias de hoje com esta pseudo-liberdade, nunca mais se viu e acaba no resultado que todos conhecemos, um país a beira da ruptura, 600 mil desempregados, corrupção sem limites e o fosso ricos/classe média cada vez mais assentuado. Haja mentalidades como a sua e a minha, e a esperança numa mudança que ponha a Nação em primeiro(Nação somos todos nós portugueses), pode sem dúvida vir a concretizar-se. Um bem haja, saudações nacionalistas
Não sei se lhe chamaria pseudo-liberdade, Corroios, penso que está a ser um pouco generoso. :)
Em meu entender, creio que lhe chamaria, mesmo, libertinagem na verdadeira acepção do termo. No sentido de "Sei que posso fazer tudo e nada nem ninguém pode impedir-me". Foi essa a cultura que se generalizou após o 25 do A. Pode não ter sido essa a intenção (certamente que não o terá sido), mas foi isso que conseguiram.
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