sexta-feira, março 12, 2010

MAS AFINAL O QUE É QUE ANDAMOS A FAZER?

Ontem, por inerência do serviço mas com dúvidas sobre a utilidade da coisa, tive de estar presente na Futurália.

Fiquei absolutamente chocada com o comportamento – verdadeiramente - animal demonstrado pelos miúdos das escolas portuguesas. Meia volta dava comigo a pensar no que é que estamos a construir. Que tipo de sociedade futura estamos a criar?

O meu marido, cidadão finlandês muito pouco habituado ao comportamento de horda, estava boquiaberto e incrédulo com os frequentes enxames de miúdos (e miúdas) que quase se atropelavam para chegar aos jarros de rebuçados que tínhamos disponíveis no stand. Dizia-nos: “Tenho pena de vocês. Estão a criar uma sociedade de pessoas inúteis, irresponsáveis, imaturas e potencialmente criminosas”. Eu – por outro lado - dizia-lhe: “São miúdos. Os miúdos finlandeses não devem ser muito diferentes destes”. Ao que ele me respondeu: “Nem sequer vou comparar porque os miúdos finlandeses não têm comportamentos destes”.

De facto ele tem razão. Os miúdos finlandeses, tanto pelo que pude observar das vezes que lá estive, não demonstram comportamentos destes e depois do pouco que pude observar ontem consigo compreender melhor o crescimento que o fenómeno do bullying tem tido.

O bullying não é propriamente um fenómeno novo. Quando eu andava na escola isso já acontecia, embora numa versão bastante mais moderada. No entanto também sei que não o identificávamos como tal, nem tínhamos a percepção de que estávamos a fazer mal. Para nós era apenas uma brincadeira de sala de aula e nunca saiu dela. Estou certa que, provavelmente, terão havido outras situações que extravasavam para os recreios, ou para os intervalos, mas essas acabavam por durar pouco porque o Conselho Directivo (era assim que se chamava na altura) resolvia bem a querela.

De hoje em dia a história é diferente. E é diferente para pior. Existem dentro das escolas públicos grupos organizados que praticam o bullying, que aterrorizam, que agridem e que assaltam os outros miúdos. Estes grupos são verdadeiras organizações criminosas na versão mini.

E o que é que os Conselhos Executivos fazem? Nada. Zero. Zilch!

E o que faz a Polícia? Nada. Zero. Zilch!

Vem hoje publicada a notícia que os Conselhos Executivos vão ver reforçados os seus poderes de forma a procederem à suspensão imediata dos alunos que praticarem o bullying. Fantástico! Aliás atirar com eles para fora da escola além de ser o ideal para quem lá não quer estar, é também o ideal para se sacudir a água do capote e dizer “do lado de lá da rede, o problema é da polícia”. É basicamente juntar a fome à vontade de comer não é?

Por outro lado, a deputada do CDS-PP até apresenta umas propostas interessantes pese embora a criação de um Observatório para a violência escolar me pareça um tanto ou quanto despropositada (isto se considerarmos que a proposta vai no sentido de se criar uma nova estrutura). Observar sim, mas há imensos gabinetes no Ministério da Educação que podem “observar” a violência escolar.

Atacar o bolso das famílias dos infractores é também uma proposta altamente interessante apesar de ser um pau de dois bicos. Penso que talvez fosse mais útil dizer que a verba passará a ser gerida por outra entidade que não a família mas numa perspectiva de reeducação do infractor. Neste caso específico e porque estamos a falar de menores, as famílias devem ser responsabilizadas pelo comportamento das suas jovens crias.

De qualquer forma, até agora, só se falou no como combater os agressores. Então e as vítimas? Todo e qualquer plano de acção de combate ao bullying tem de ter duas vertentes. Quais são as medidas para apoiar as vítimas? Tal como qualquer pessoa que seja vítima de violência, estas são crianças e jovens que se encontram num estado extremamente fragilizado e que têm de receber apoio.

A AMCV (Associação de mulheres contra a violência) trabalha o tema do bullying há alguns anos, talvez fosse interessante ouvi-las e trabalhar com elas num pacote de medidas sólidas e viáveis em vez de estarem a colocar pensos rápidos numa coisa que não vai lá assim.

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