Triste por não ter ouvido o discurso de tomada de posse do nosso excelso PR e curiosa por saber porque motivo estavam todos os comentadores, residentes nas nossas estações de televisão, em tão grande alvoroço como que anunciando a chegada do apocalipse, resolvi ler o famigerado documento (que gentilmente me foi enviado por uma estimada colega). Confesso que estava à espera de algo mais à laia de ensaio académico, mas afinal o texto tem só 6 páginas e é bastante fácil de ler e de compreender.
A primeira coisa que se me escarrapachou no espírito foi a descoberta, um tanto ou quanto óbvia, de que Tróia está a arder. Honestamente sempre pensei que já tinham dado conta do cheiro a fumo e de que os Aqueus andavam à solta pela cidade, mas afinal não. Ao menos, em tempos idos, Príamo sempre teve uma desculpa; não tinha facebook, nem twitter e o acesso à informação era um bocadinho mais artesanal, senão mesmo rudimentar. O contacto com a plebe (que não se chamava assim na altura) também tinha as suas limitações, mas o que o levou à queda foi a sua pancada séria por cavalos. Acreditava que os bichinhos simbolizavam o divino, mas como para os gregos os cavalos eram mais… bom… um animal de quatro patas e a figura divina que protegia os seus interesses era outra, o pobre homem – que se escudava atrás do contexto internacional e que por sinal lhe era cada vez menos favorável – não se deu conta da armadilha.
De pouco lhe valeu a vantagem de ser pai de Cassandra, figura que – diziam as más-línguas - tinha o dom da profecia e lhe dava, assim, umas dicas com alguma antecedência. Mas, à época tal como agora, pessoas que falam com amigos invisíveis e balbuciam assim umas coisas, aparentemente, sem nexo eram consideradas um pouco, vá lá, tolinhas. Ela, a Cassandra, bem os avisou que a cena ia correr mal, mas tal aviso foi estoicamente ignorado e ao verem tão exímia obra de arte sob a forma de cavalo, toca de o rebocarem para dentro das muralhas cidade. Quando deram por ela, o cocó estava feito e no final das contas feitas e ajustadas, quem sobreviveu (com mais mazelas, menos mazelas e alguns atropelos aos direitos humanos pelo caminho) foi a maluca equanto que o Príamo teve um triste fim. Bom, na realidade toda a família teve um triste fim, apesar de adequado às práticas da época. Como os tempos mudam, actualmente seriam apenas exilados no Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos ou de outra qualquer Empresa proeminente.
O discurso do PR lembra-me as profecias de Cassandra, com a diferença de que o cavalo já cá está dentro há algum tempo. Foi bastante bom e toca, exactamente, nas feridas que deve tocar por isso, não admira que as marias do sistema andem agora à toa. Gostei particularmente da necessidade do sobressalto cívico 2 dias antes do 12 de Março. Resultará? Não sei. Talvez as pessoas estejam realmente a acordar, quem sabe? Vamos ver.
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